Atlântida: Um habitante de dois planetas (Atualizado até capítulo 13)

Atlântida: Um habitante de dois planetas

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ATLÂNTIDA, A RAINHA DAS ONDAS DOS OCEANOS
“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pequenos pontos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . . “Este é o espírito com que o autor propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão…
“Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. - Aforismo de Narada.
Edição e imagens:  Thoth3126@gmail.com
… Que é experiência? Dois componentes: o conjunto das sensações que compõem uma dada situação e a percepção pessoal ou “tradução” individual desse conjunto de sensações.  Que este livro seja lido pelo fascínio da narrativa, como “lenha atirada à sua fogueira pessoal“, alimento para o seu “fogo interior“! Jogue a lenha na sua fogueira e deixe queimar. Os produtos dessa queima – calor e luz – ativarão ou reativarão um processo interno de pensar e sentir em você mesmo, um processo de ser, no cadinho da vida. Conhecer. . . A verdade. . . Quem pode decidir? –  O Tibetano 
LIVRO PRIMEIRO, CAPÍTULO I - ATLÂNTIDA, A RAINHA DAS ONDAS DOS OCEANOS – Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano
Por que não?” – perguntei a mim mesmo, parando no meio da neve da montanha, lá tão alto sobre o mar que o Rei da Tempestade imperava supremo, embora o verão reinasse lá embaixo. “Por acaso não sou um atlante, um poseidano, e não é este nome sinônimo de liberdade, honra e poder? Não é esta, minha terra natal, a mais gloriosa sob o Sol? Sob Incal?” Novamente me inquiri: “por que não? Por que não tentar tornar-me um dentre os maiores de minha orgulhosa pátria?” 
“Firme está a Rainha do Mar, sim, rainha do mundo, pois todas as nações nos pagam tributos de honra e comércio, todas nos emulam. Governar Poseid, então, não significa governar toda a terra? Pois tentarei conquistar esse prêmio, e o conseguirei! E tu, Ó pálida e gélida Lua, sê testemunha de minha resolução” -gritei em voz alta, levantando as mãos para o céu -”e também vós, rútilos diamantes do firmamento”. Se é verdade que o esforço resoluto assegura o êxito, o fato é que eu sempre conseguia o que me determinasse a alcançar. Ali então, naquela grande altitude, acima do oceano e do planalto que se estendia para oeste por duas mil milhas até Caiphul, a Cidade Real, fiz meus votos. Tão elevado era o local que abaixo de mim havia picos e cadeias de montanhas gigantescas, mas que se apequenavam diante do ápice onde eu me encontrava.

A localização aproximada de Atlântida
À minha volta estendia-se a neve eterna, mas eu não me importava. Tão cheia de resolução estava minha mente, do desejo de tornar-me poderoso na minha terra natal, que nem sentia o frio. Na verdade, eu mal me dava conta de que o ar estava frio, gelado como as vastidões árticas do remoto Norte.  Muitos obstáculos teriam de ser superados no cumprimento do meu desígnio, pois quem era eu naquele instante? Apenas o filho de um montanhês, pobre, sem pai, mas graças sejam dadas aos Fados! – não sem mãe! Pensar em minha mãe – a muitas milhas de distância, lá onde as florestas perenes ondulam, onde raramente cai a neve, sozinha com a noite e com o pensamento em mim – isso bastou para me trazer lágrimas aos olhos, pois eu não passava de um menino que muitas vezes ficava triste quando as dificuldades que ela suportava vinham à sua lembrança. Essas reflexões eram incentivos que se acrescentavam à minha ambição de ser e agir.
De novo meus pensamentos se voltaram para as dificuldades que eu teria de enfrentar em minha luta pelo sucesso, pela fama e pelo poder. Atlântida, ou Poseid, era um império cujos súditos gozavam da liberdade concedida por um poder monárquico limitado. A lei geral de sucessão oficial oferecia a todos os cidadãos do sexo masculino a oportunidade de escolha para o cargo. O próprio imperador tinha uma posição eletiva, assim como os seus ministros, o Conselho dos Noventa ou Príncipes do Reino, cargos análogos aos do Governo da República Americana, que é seu legítimo sucessor. Se a morte chamasse o ocupante do trono ou um de seus conselheiros, era acionado o sistema eletivo, mas não em outros casos, a não ser demissão por má conduta no cargo, penalidade de que nem o próprio imperador estava isento, caso incorresse nessa grave falta.
Duas grandes divisões sociais, abrangendo todas as classes de pessoas de ambos os sexos, estavam investidas no poder eletivo. O grande princípio subjacente à organização política de Poseid poderia ser descrito como “um sistema de avaliação educacional de cada votante, mas o sexo do dono do voto não era da conta de ninguém”. Os dois principais ramos sociais eram conhecidos pelos respectivos nomes de “Incala” e “Xioqua”, ou seja, os sacerdotes e os cientistas. Perguntariam os leitores onde estaria a oportunidade que cada súdito comum teria num sistema que excluía os artesãos, os comerciantes e os militares que não fizessem parte das classes com direitos políticos? Qualquer pessoa tinha a opção de entrar no Colégio das Ciências, no do Incal, ou em ambos.
Não havia consideração de raça, cor ou sexo; o único pré-requisito era que o candidato a admissão tivesse dezesseis anos de idade e uma boa educação, obtida nas escolas comuns ou em cursos de colégios menos importantes como o Xioquithlon na capital de alguns dos estados Poseidanos, porexemplo NumeaTernaIdosaCorosa e mesmo o colégio menor de Marzeus, que era o principal centro de arte manufatureira da Atlântida. A duração do curso no Grande Xioquithlon era de sete anos, dez meses a cada ano, divididos em dois períodos de cinco meses dedicados ao trabalho ativo, com um mês de férias ao final de cada período.
Qualquer estudante podia competir nos exercícios relativos aos exames anuais, realizados no fim do ano ou nas vésperas do equinócio de inverno. O nosso reconhecimento da lei natural da limitação mental fica óbvio ante o fato de que o curso de estudos era puramente opcional, ficando o estudante à vontade para escolher os tópicos, muitos ou poucos, que lhe fossem mais agradáveis, com a seguinte e necessária prescrição: somente os que possuíssem diplomas de primeira classe poderiam se candidatar a cargos oficiais, por mais modestos que fossem. Esses certificados comprovavam um grau de aprendizado que abrangia uma variedade de conhecimentos grande demais para ser mencionada, a não ser por inferência, com o prosseguimento da narrativa.
O diploma de segunda classe não conferia prestígio político, a não ser pelo fato de que era acompanhado do privilégio do voto e, embora ocorresse de uma pessoa não desejar um cargo público nem votar, o direito à instrução em qualquer ramo do conhecimento continuava a ser um privilégio gratuito. Mas aqueles, entretanto, que só aspiravam a uma educação limitada, com o propósito de exercer com mais êxito determinada profissão comercial -como instrução em mineralogia por um pretendente a mineiro, em agricultura por um fazendeiro, ou em botânica por um jardineiro mais ambicioso – não tinham voz no governo.
Embora o número dos pouco ambiciosos não fosse pequeno, o estímulo da obtenção de prestígio político era tão grande que um em cada doze habitantes possuía pelo menos um diploma de segunda classe, enquanto um terço do total obtinha diplomas de primeira classe. Devido a isso, os eleitores não sofriam por falta de pessoal para preencher todos os cargos eletivos do governo. Possivelmente ainda resta alguma dúvida na mente do leitor sobre qual seria a diferença entre os eleitores ou sufragistas sacerdo-lais e científicos.
Pois bem, a única diferença essencial era que o currículo no Incalithlon, ou Colégio dos Sacerdotes, além de todas as matérias adiantadas ministradas no Xioquithlon, incluía o estudo de um grande número de fenômenos ocultos e temas antropológicos e sociológicos, para que os formados nessas ciências tivessem oportunidade de se prepararem para atender qualquer necessidade que homens de menos erudição e menos compreensão das grandes leis subjacentes da vida pudessem vivenciar em qualquer fase ou condição. O Incalithlon era, na realidade, a mais elevada e completa instituição de ensino que o mundo de então conheceu ou – perdoe o leitor pelo que parece mas não é presunção atlante – que poderá conhecer nos próximos séculos (n.T. O livro foi escrito no final do século XIX).
Em uma instituição acadêmica tão superior, seus estudantes deveriam forçosamente estar imbuídos de extraordinário zelo e determinada vontade para tentar e conseguir certificados de formatura de sua junta examinadora. Na verdade, bem poucos tiveram um tempo de vida suficientemente longo para adquirir esse diploma; possivelmente, nem um em cada quinhentos dos que saíram honrosamente do Xioquithlon, que, por seu mérito, não ficava atrás da moderna Universidade de Cornell. Enquanto eu assim ponderava, parado ali entre as neves da montanha, decidi não visar muito alto, mas me determinei a ser um Xioqua, se houvesse a menor possibilidade.
Embora dificilmente pudesse esperar alcançar a eminência conferida pelo título de Incala, prometi a mim mesmo que criaria a oportunidade de competir pelo outro título, se não se apresentasse outra diferente. Obter aquela elevada distinção exigiria, além do árduo estudo, a posse de amplos meios pecuniários para cobrir as despesas de manutenção de minhas necessidades usuais e de um inabalável propósito. Onde eu poderia obter isso? Acreditava-se que os deuses auxiliavam os necessitados.
Se eu, um rapazinho que ainda não completara dezessete verões, que tinha uma mãe que dependia de mim para as necessidades da vida, com nada que pudesse me ajudar a alcançar minhas aspirações a não ser minha própria energia e vontade, não pudesse ser incluído naquela categoria, então quem seria necessitado? Pareceu-me que não podia haver maior prova de dependência e que era claramente apropriado que os deuses me dispensassem seu favor. Tomado por reflexões como esta, subi ainda mais, para o topo do pico que apontava para o céu, perto da altura onde até então me encontrara, pois a aurora não estava distante e eu precisava estar na mais alta rocha para saudar o grande Incal (o Sol) quando conquistasse Navaz, para que Ele, senhor de todos os signos manifestos do grande e único verdadeiro Deus, cujo nome usava, cujo escudo Ele era, pudesse ouvir minha prece favoravelmente.
Sim, Ele devia ver que o jovem suplicante não poupava esforços para prestar-Lhe homenagem, pois fora aquele o único propósito para que eu ali tinha subido sozinho, em meio àquela solidão, seguindo para o alto pela neve sem trilhas, sob o domo estrelado do firmamento. Perguntei a mim mesmo: “existe outra crença mais gloriosa do que esta que é a do meu povo? Não são todos os Poseidanos adoradores do Grande Deus, a única e verdadeira Divindade, representada pelo brilhante Sol (o Logus solar)? Não pode haver nada mais santo e sagrado”. Assim falou o jovem cuja mente em amadurecimento havia absorvido a religião exotérica e realmente inspiradora, mas que não conhecia nenhuma outra mais profunda e sublime, nem iria conhecer nos dias da Atlântida.
Quando o primeiro lampejo de luz de trás de Seu escudo irrompeu através do negro abismo da noite, atirei-me de bruços na neve do cume, onde deveria permanecer até que o Deus de Luz se (ornasse totalmente vitorioso contra Navaz. Afinal o triunfo! Então me levantei e, fazendo uma profunda reverência final, voltei sobre os meus passos pelo temível declive de gelo, neve e rocha nua, esta última negra e cruelmente pontiaguda, com suas saliências sobressaindo da capa branca e gelada, mostrando o dorso da montanha que se elevava a treze mil pés acima do nível do mar, formando um dos mais incomparáveis picos do globo.
Durante dois dias eu envidara ingentes esforços para alcançar o frígido pico e prostar-me, qual oferenda viva, em seu grandioso altar, para honrar meu Deus. Indaguei-me sobre se Ele teria me ouvido e notado minha presença. Em caso afirmativo, teria Hle se importado? Teria se importado o suficiente para ordenar ao Seu vice-regente, o Deus da montanha, que me ajudasse? Sem saber por que, olhei para este último, esperando com o que pode parecer uma cega fatuidade, que me revelasse alguma espécie de tesouro ou. . .
Mas o que é esse brilho metálico na rocha, cujo coração meu bordão de alpinista com ponta de ferro havia desnudado para ser tocado pelos raios do Sol matinal? Ouro! Ó Incal! É mesmo ouro! Amarelo e precioso ouro! “Ó Incal!” – gritei, repetindo Seu nome – “louvado sejas por responderes tão depressa a Teu humilde peticionário!” Ajoelhei-me ali mesmo na neve, descobrindo a cabeça em gratidão ao Deus de Todos os Seres, o Altíssimo, cujo escudo, o Sol derramava seus gloriosos raios. Então novamente olhei para o tesouro. Ah, que grande riqueza ali se encontrava!
Partindo em pedaços o quartzo com minhas pancadas excitadas, vi que o precioso metal o mantinha coeso, tão forte era o seu veio. As pontas agudas da pedra frágil cortaram minhas mãos, fazendo o sangue escorrer de vários lugares e, quando agarrei o quartzo que havia me ferido, minhas mãos que sangravam congelaram-se sobre ela, formando uma união de sangue e riqueza! Não importa! Separei a mão da pedra com força, indiferente à dor, tão excitado me sentia. “Ó Incal” -exclamei -”és bondoso para com Teu filho, concedendo-lhe com tanta liberalidade o tesouro que lhe permitirá realizar seu desejo antes que seu coração tenha tempo para esmorecer de tanto esperar!”
Enchi meus grandes bolsos com tudo que podia carregar, escolhendo as peças de quartzo aurífero mais ricas e valiosas. Como marcar o local para encontrá-lo em outra oportunidade? Para alguém nascido na montanha isso não era difícil e logo estava feito. Então segui para baixo, para a frente, para casa, com passo alegre, com o coração leve, embora levasse uma carga pesada. Por essas montanhas, na verdade a menos de duas milhas do meu “pico do tesouro”, serpenteava a estrada do imperador na direção do grande oceano, a centenas de milhas, do outro lado da planície de Caiphalia. Uma vez alcançada essa estrada, a parte mais fatigante da viagem teria sido realizada, embora apenas uma quinta parte da distância total tivesse sido percorrida.
Para dar uma idéia das dificuldades encontradas na escalada e descida da gigantesca montanha, devo observar que os últimos cinco mil pés da ascensão só” podiam ser galgados por uma única e tortuosa rota. Um estreito desfiladeiro, uma simples fissura vulcânica, oferecia um apoio muito precário para os pés, sendo todas as outras escarpas intransponíveis. Esse apoio mínimo existia nos primeiros mil pés. Acima desse ponto a fissura desaparecia. Quase na sua extremidade superior existia uma pequena caverna, da altura de um homem e com espaço para talvez vinte pessoas. No outro extremo desse recinto rochoso havia uma abertura, uma fenda mais larga no sentido horizontal que no vertical.

Estátua de Poseidon, o deus dos oceanos, a quem a capital de Atlântida, Poseid era dedicada.
Ao insinuar-se nessa fenda, arrastando-se como uma serpente, o explorador aventuroso veria que por várias centenas de passos teria de descer um declive acentuado, se bem que a fenda se alargasse aos primeiros doze passos, permitindo uma posição mais ou menos vertical. Do fim de seu curso descendente, ela faria uma curva e novamente se alargava formando um túnel, subindo em voltas tortuosas, com a parede oferecendo suficiente apoio para tornar a subida segura, embora fazendo um ângulo de cerca de quarenta graus, enquanto em algumas partes um grau ainda maior de perpendicularidade marcasse a passagem. Dessa forma, uma subida de cerca de trezentos pés era realizada, com as sinuosidades do caminho aumentando a distância que seria percorrida no sentido vertical.
Esse, leitor, era o único meio de alcançar o pico da mais alta montanha de Poseid, ou Atlântida, que é como chamam o continente-ilha. Por mais árdua que fosse sua passagem, havia lugar mais que suficiente na velha e seca chaminé, ou curso de água, fosse o que fosse. Com certeza tinha sido originalmente uma chaminé de vulcão, embora tivesse sido tão desgastada pela água a ponto de tornar a idéia de sua formação ígnea mera conjetura. Em determinado ponto, essa longa cavidade se alargava formando uma vasta caverna.
Esta se distanciava da chaminé em ângulo reto para baixo, cada vez mais para baixo, até que nas entranhas da montanha, a milhares de pés, pareceria na medonha escuridão, a quem se aventurasse tão longe, estar na beira de um vasto abismo cujo único lado visível seria aquele onde se encontrasse; além desse ponto, qualquer progresso era impossível a não ser para entes dotados de asas, como os morcegos, mas destes não havia nenhum sinal naquela terrível profundeza.
Nenhum som jamais ecoou nesse assustador abismo, e nenhum brilho de archote já revelou seu outro lado; nada havia senão um mar de eterna escuridão. Contudo, ele nunca me trouxe terrores; antes, provocou minha fascinação. Embora outros possam ter conhecido esse lugar, nunca encontrei um companheiro com suficiente temeridade para enfrentar o desconhecido e ficar ao meu lado em sua hórrida beira, onde me encontrei não uma e sim várias vezes no passado. Por três vezes eu estivera ali,
impelido pela curiosidade. Na terceira vez eu me curvara por sobre a saliência de pedra, para tentar encontrar um possível meio de descer mais, quando o enorme bloco de basalto se soltou, caiu, e escapei por pouco de morrer.
A pedra tombou e por vários minutos os ecos de sua queda me alcançaram; minha tocha caíra também e nas profundezas suas faíscas brilharam como vagalumes toda vez que bateram em projeções rochosas, até finalmente desaparecer. Fiquei em completa escuridão, trêmulo de susto, para fazer o caminho de volta para cima e para fora – se pudesse. Se não conseguisse, então era cair e morrer. Mas tive êxito. De então em diante, perdi a curiosidade de explorar o desconhecido inferno. Eu tinha passado muitas vezes através da chaminé que conduzia para a extremidade superior da abismal caverna, entre a parte superior da fissura externa no penhasco e a lateral do pico, quinhentos ou seiscentos metros abaixo do topo da montanha, muitas vezes tinha passado pelo ponto onde a pancada incidental com meu bordão revelou o tesouro, mas nunca havia encontrado o precioso veio até ter feito aquele pedido a Incal, impelido pelo peso premente de minhas necessidades. Poderia alguém achar estranho eu sentir uma fé absoluta na crença religiosa de meu povo?
Eu estava no interior da escura chaminé por onde tinha de passar depois de deixar o pico nevado, saindo da luz do Sol e do ar fresco para as densas trevas e a atmosfera ligeiramente sulfurosa-, mas se deixei a luz matutina, também deixei o terrível frio do ar exterior, pois dentro do túnel, embora escuro, havia calor. Finalmente cheguei ao pequeno recinto no alto da fissura, a mil pés, que me levaria aos declives mais suaves das partes média e inferior da montanha. Ah fiz uma pausa. Deveria voltar e trazer mais uma carga da rocha aurífera? Ou deveria tomar diretamente o caminho de casa? Finalmente voltei sobre meus passos. Ao meio-dia estava outra vez ao lado do meu tesouro.
Logo desci de novo com minha segunda carga até o fatigante trabalho estar quase no fim, pois eu estava de pé na entrada da grande caverna, a quatrocentos pés do pequeno recinto no alto da fissura exterior – eram quatrocentos pés de subida bastante difícil. Após uma pausa retomei a curta mas escarpada subida, e logo me encontrei na pequena caverna, com apenas algumas dezenas de pés, no máximo, entre eu e o ar livre. Tomado como um todo, o longo túnel era sinuoso, mas tinha algumas passagens tão retas como se tivessem sido cortadas com prumo e régua. Os quatrocentos pés, aproximadamente, que separavam o recinto onde parei um pouco, na entrada, eram um trecho tão reto e talvez por isso tão difícil de atravessar quanto qualquer outra parte de todo o túnel.
Seria  mesmo impossível a não ser por suas laterais ásperas que ofereciam algum apoio. Se o local fosse claro, ao invés de tão escuro, eu seria capaz de olhar diretamente para a caverna do local onde estava parado. O ar aquecido me convidou a sentar, ou melhor, a me deitar, embora estivesse escuro. Resolvi descansar, portanto; comi um punhado de tâmaras e bebi um pouco de neve derretida do meu cantil de couro. Então me estendi no solo e adormeci no ar tépido.
Não sei por quanto tempo fiquei dormindo, mas ao despertar -ah, o terror que senti! Lufadas explosivas de ar, quente a ponto de quase queimarem a pele, carregadas de gases sufocantes, seguidas de um rouco murmúrio, afluíam velozmente passagem acima até o pico. Ruídos como uivos e gemidos subiam com o bafo ardente do abismo, misturados com o som de explosões tremendas e ensurdecedoras. Maior que todas as outras causas de terror era um baço brilho vermelho refletido das paredes da caverna, para dentro da qual descobri que podia olhar livremente e em cujas profundezas explodiam raios de luz verde, vermelha, azul e de todas as outras cores e matizes; eram gases em combustão. Por algum tempo o pavor me petrificou; sem poder mover-me continuei a fixar o terrível inferno dos elementos em fogo.
Eu sabia que a luz e o calor, ambos aumentando a cada momento, e os vapores sufocantes, o barulho e o tremor da montanha, prenunciavam uma só coisa: uma erupção vulcânica ativa! Finalmente o encantamento que havia me paralisado foi quebrado quando vi um jato de lava derretida subir até a passagem em frente, projetado até ali por uma explosão dentro da caverna. Então me levantei e fugi, correndo pelo chão do pequeno recinto, arrastando-me com insana energia pela entrada horizontal, que nunca me parecera tão baixa até aquele instante! Eu esquecera que tinha ouro nos bolsos, e só me lembrei disso quando senti o peso das preciosas rochas que me retardavam a fuga.
Mas, com o esforço de fugir, veio-me uma relativa calma, e a mente que voltava a funcionar me impediu de atirar fora o tesouro. A reflexão me convenceu de que o perigo, embora iminente, provavelmente não era imediato. Resolvi arrastar-me novamente para dentro da pequena caverna e, pegando um saco que ali havia deixado, coloquei dentro dele todas as rochas auríferas que podia carregar. Tirei um cordão de couro da cintura e, enrolando uma extremidade numa ponta de pedra no lado superior da fissura, baixei o saco até a outra extremidade da corda e desci atrás. Sacudindo o laço frouxo da rocha acima, repeti a mesma coisa várias vezes enquanto descia. Dessa forma cheguei ao fundo da fissura com a maior parte das duas cargas de minério de ouro. Desse ponto em diante, meu caminho seguia ao longo da crista de uma saliência de pedra, não muito larga mas suficiente para formar uma trilha fácil de seguir.
Nem bem tinha começado a andar por essa trilha quando olhei para trás, para o caminho que tinha acabado de percorrer. Naquele momento, houve um tremor de terra que quase me derrubou ao chão, e da pequena caverna onde eu tinha dormido jorrou fumaça seguida de um brilho avermelhado: lava. Ela fluiu para baixo, uma cascata de fogo e uma visão gloriosa na escuridão que se adensava, pois o Sol ainda não tinha se- posto de todo. Toda a montanha ficara a oeste da saliência onde eu estava e, como se fazia quase noite, eu me encontrava na obscuridade. Corri pela rocha, deixando meu saco de ouro e grande parte do que tinha nos bolsos no lugar mais seguro que pude encontrar, bem acima do fundo da ravina pela qual a lava fatalmente escorreria.
Quando estava a uma distância segura, parei para descansar e perscrutei a torrente em ebulição saltando pela ravina, a alguma distância à minha direita mas bem visível. “Pelo menos”, pensei, “ainda tenho nos bolsos suficiente minério aurífero -mais metal do que ouro pelo que parece -que tenho condição de carregar, agora que minha força, nascida do medo, desapareceu. Mesmo que eu não possa reaver o que deixei para trás, ainda tenho uma grande riqueza. Portanto, Incal, honra a Ti!” O quanto as vinte libras de quartzo aurífero, aproximadamente, eram inadequadas para pagar as despesas de sete anos de colégio, o colégio na capital da nação, onde o custo era mais elevado que em qualquer outra parte, minha inexperiência não podia me dizer. Mas que aquele era o maior tesouro que eu já tinha possuído na vida, ou mesmo visto, era um fato inegável; portanto, eu estava contente. 
A crença numa Providência poderosa é necessária para a maioria dos homens, melhor dizendo, para todos os homens, sendo a única diferença a de que as pessoas de mais amplo conhecimento requerem uma Divindade de poder mais próximo do infinito do que as de menor experiência; assim, os que apreendem a infinita amplitude da vida reconhecem um Deus cujo conceito se projeta quase à onipotência, em comparação com o conceito que satisfaz a mente humana comum. Pouco importa, portanto, que a divindade cultuada seja uma pedra ou um ídolo de madeira, uma figura inanimada qualquer, ou um Espírito Supremo de natureza andrógina. Os Seres que ordenam o curso dos acontecimentos, perscutando a lei cármica do Eterno Deus, enxergam a fé no coração dos mortais e não impõem que aquela lei siga seu curso com uma severidade destituída de misericórdia. Se a fé no ídolo, no “deus” animado, ou no Espírito Supremo de Deus, fosse extinta por causa das destruidoras forças da dor e do desespero, então a bondade humana estremeceria em temor por sua segurança e pela sua continuidade.
Uma catástrofe dessa espécie não se harmonizaria com Deus, pois, de acordo com a lei, nunca poderia ser admitida. Daí minha crença em Incal, uma crença compartilhada por meus compatriotas. Incal era um conceito puramente espiritual, afora a Causa Eterna (o Absoluto Infinito), da qual nenhuma mente de qualquer era do mundo poderia em sã consciência duvidar, só existia na mente de seus devotos. E essa era uma fé nobre, que tendia para a mais alta moralidade, nutrindo a fé, a esperança e a caridade. Que importância teria então que o Incal-pessoa, simbolizado pelo escudo rutilante do Sol, só existisse na mente dos homens? Nosso conceito poseidano representava o Espírito da Vida, o Pai UNO de todos (inclusive de todos os deuses), o que bastava para assegurar a observância dos princípios que supostamente mais O agradavam.
Certamente os anjos do Altíssimo Deus Incriado, ministrando (misericórdia e justiça) então como agora aos filhos do Pai, viram minha crença, engastada em meu coração e no coração de meus irmãos e irmãs de nação, e disseram enquanto ministravam-, “que recebas de acordo com tua fé”. Os anjos, contemplando minha esperança interior de tornar-me excelente entre os homens, haviam me disciplinado pelo medo quando fugia da montanha em fogo, mas nenhum desastre havia me acontecido. Continuei correndo tão depressa quanto me permitia a natureza do terreno. Eu tinha a minha vida e o ouro, e por isso louvava Incal enquanto corria.
o Espírito da Vida foi misericordioso, pois eu não saberia o quanto o meu tesouro era insuficiente para minhas necessidades até a ferroada do desapontamento ser removida por eu ter encontrado uma provisão mais abundante. Meu caminho se estendia por várias milhas ao longo da crista de pedra, afiada como uma faca. Em muitos lugares abismos terríveis se abriam ao lado da trilha de pedra, tão próximos que me via obrigado a  engatinhar. Por vezes os penhascos se estendiam nos dois lados da trilha, fazendo dela uma passarela estreita. Eu me sentia grato pelas pequenas bênçãos que recebia e agradecia a Incal porque o deus da montanha não havia demonstrado sua agitação com um terremoto enquanto eu me encontrava naquela perigosa situação.
A uma distância de três milhas a contar do seu início, a trilha alcançava a beira de um precipício aterrador, e acima dela erguia-se a parede de um segundo penhasco. Só a luz da montanha incandescente agora iluminava meus passos. Foi naquele ponto que, no momento em que eu descia cautelosamente na direção da pedra basáltica que formava a beira do abismo, um grande choque me atirou de joelhos no chão e eu quase caí no vazio. Um instante depois, uma explosão abafada encheu o ar com uma insistente intensidade de som, e olhei para trás, assustado. Uma grande pluma de fumaça avermelhada pelo fogo estava se levantando na direção do céu, misturada com pedras tão grandes que podiam ser vistas de onde eu me encontrava. Abaixo de onde eu estava, ouviam-se terríveis ruídos; a terra tremia convulsivamente e choques repetidos me obrigaram a me agarrar nas rochas, com um medo desesperado de ser jogado para baixo.
Na frente, o desfiladeiro que estava aos meus pés havia ladeado outros penhascos e contrafortes. Até poucos instantes antes os penhascos e contrafor-tes tinham existido – mas não existiam mais! Contemplei aquela cena de confusa e terrível desordem, iluminada pelo brilho vulcânico apenas o suficiente para ser perceptível. As sólidas rochas e colinas pareciam mover-se, instáveis como as vagas marinhas, subindo e descendo de um modo assustador, rangendo e rugindo num verdadeiro pandemônio. Por sobre tudo isso desciam cinzas vulcânicas numa chuva densa e incessante, enquanto vapores e poeira enchiam o ar e pendiam como uma
mortalha por sobre um mundo aparentemente agonizante.
Finalmente o louco barulho e o nauseante movimento cessaram; só o brilho constante da lava que continuava a correr e um espasmo ocasional de tremor de terra continuavam sua narrativa plutônica. Permaneci no meu lugar, sentindo-me fraco e abalado. Gradualmente, a lava parou de correr e ficou tudo escuro; os choques só aconteciam a longos intervalos e uma paz como a da morte desceu sobre a região, enquanto a cinza silenciosa caía, cobrindo a terra ferida. A escuridão passou a reinar. Acho que fiquei inconsciente por algum tempo, pois quando voltei a mim senti uma dor aguda na cabeça; passando a mão por ela senti uma região úmida com sangue quente escorrendo de um ponto que doía ao toque. Tateando a minha volta, encontrei uma pedra áspera e cheia de pontas que tinha caído de algum lugar e me atingido na cabeça. Fazendo outros movimentos, concluí que o ferimento não era sério e sentei. A madrugada já se anunciava e eu, fraco de dor, fome e frio, voltei a me estender na pedra, para aguardar o novo dia.
Que paisagem diferente os raios de Incal encontraram no lugar que ali existira na manhã anterior! Quando olhei para o majestoso pico, a luz vermelha do Sol me mostrou que metade dele  havia sido arrancado e engolira-se numa misteriosa caverna. Sim, é verdade, “as montanhas elevam para o céu suas penhas – e os picos nus e enegrecidos curvam suas enormes cabeças para a planície. Perto dali, onde tinham existido outros contrafortes e onde tinha ocorrido o terrível retorcimento dos penhascos, bem a meus pés, não havia mais pontas de pedra, nem pico, nem penhasco! Em lugar de tudo isso havia um grande lago de água fervente, as suas margens estavam veladas pelas cinzas que ainda pousavam com suavidade e pelas nuvens de vapor condensadas em fino gás pelo ar frio, lágrimas do globo abatido por sua recente agonia! Todo ruído havia se dispersado e o férvido fluxo da lava também tinha cessado.
A parte da saliência onde eu tinha caído tinha escapado da demolição geral, em sua maior parte, embora também tivesse sido atingida, tanto que a trilha em frente, que eu me acostumara a usar em minhas excursões ao pico, tinha sumido; um enorme bloco de pedra, que provavelmente pesaria milhares de toneladas, tinha escorregado para o abismo embaixo, destruindo o caminho por sua passagem. Procurei uma saída e, escalando as pedras na luz mortiça, cheguei a uma parte da saliência que se dirigia para o caminho oposto ao do Sol e que não passava de duas estreitas pedras salientes sobre o lago de água fervente, intransponível na parte de cima, quando de repente um pálido raio de luz brilhou em diagonal no meu caminho!
Procurando sua fonte, vi que a luz  se irradiava por uma larga fenda no penhasco, acima de mim. A parte inferior da fenda ficava pouco abaixo de onde eu estava e, ao invés de se estreitar, alargava-se formando um soalho tão amplo quanto qualquer parte da fissura, como se acima daquele ponto tivesse sido empurrada para um lado -sem dúvida a única explicação. Baixei o corpo até esse soalho e, verificando que a fissura era suficientemente larga, pisei nela, sem ligar para a possibilidade de que a qualquer momento novas convulsões do vulcão pudessem fechar a abertura e esmagar-me. Pensei nessa possibilidade, mas à maneira poseidana, deixei o medo de lado refletindo que devia confiar em Incal, que faria o que fosse melhor para mim. O penhasco ruído mostrava, aqui e ali, veios de quartzo com faixas de pórfiro, formando saliências que corriam ao longo de massas de granito. 
Perto do topo, a estreita fenda se estendia e, embora tivesse realmente dois ou três pés de largura, sua altura a fazia parecer muito estreita. Quando me detive, deleitado com a idéia de que nos dois lados meus olhos contemplavam rocha virgem que jamais estivera exposta ao olhar de qualquer homem desde o nascimento da Terra, notei algo que fez meu pulso se acelerar de louca alegria. Bem perto de mim, mas um pouco à frente, estava um veio de rocha amarela, de aparência ocre, na qual vi muitas manchas de rocha branca e mais dura, cuja aparência se devia a núcleos de quartzo partidos pelo mesmo choque que havia formado a fenda.
Essas manchas estavam fartamente pontilhadas por pepitas de ouro nativo e de minério de prata. A ductilidade dos preciosos metais se exibia em curiosos efeitos, com o ouro e a prata saindo da superfície fraturada em cordões que em alguns casos mediam várias polegadas. Novamente a fraqueza da fome me abandonou e a dor do ferimento na cabeça foi momentaneamente esquecida, enquanto eu cantava um hino de gratidão ao meu Deus. O majestoso pico havia sido obliterado; destruído fora o único acesso ao elevado topo; mas ali, após terminada a batalha dos fogos subterrâneos, estava um tesouro ainda maior, mais próximo de casa, mais fácil de ser explorado. A excitação do júbilo foi excessiva para os meus nervos já tão enfraquecidos e desmaiei! Entretanto, a juventude é elástica e a saúde dos que não têm vícios, maravilhosa. Logo recobrei a consciência e tive a sabedoria de tomar o caminho de casa sem parar mais e desgastar mais minha força, sabendo que meu instinto de alpinista seria um guia infalível num retorno subseqüente.
Aconselhado por minha mãe, senti que sua crença de que eu não poderia explorar a mina sozinho era baseada na realidade. Mas em quem poderia confiar para me ajudar e receber uma justa parte da riqueza assim obtida como recompensa? Não bastaria que eu encontrasse a ajuda de que precisava? Certos amigos professos entraram numa sociedade comigo e, pelo privilégio de ficarem com o restante dos lucros, deram-me um terço do apurado, concordando em fazê-lo sem que eu tivesse de trabalhar na mineração e, com certa indecisão, concordando também cm que nenhuma parte do veio pertenceria a quem quer que fosse além de mim. 
Fiz com que assinassem um documento contendo essas regras, lacrando-o com o mais inviolável sinal existente em Poseid, a saber, a assinatura deles com o próprio sangue. Nós três assim fizemos. Insisti em todas essas formalidades porque não consegui reprimir a suspeita de que eles pudessem alegar que eram os descobridores do tesouro e de que, por conseqüência, eu não tivesse então nenhum direito ao mesmo. Hoje sei que seria bem esse o caso. Sei que a cláusula do contrato declarando que toda a mina que eles, meus sócios, exploraram naquele ano era propriedade inalienável de Zailm Numinos, foi o que impediu o roubo que eles tencionavam levar a cabo.
Essa estipulação não fazia referência ao descobridor da mina, mas declarava em termos inegáveis que o título de propriedade pertencia ao possuidor daquele nome. No caso de uma disputa entre nós eu não teria necessidade de provar como me tornara dono da mina-, nenhuma afirmação de que outra pessoa além de mim fosse o descobridor serviria aos defraudadores em potencial, pois fosse quem fosse o primeiro a encontrar o veio, permaneceria o fato de ser eu o proprietário, caso em que todas as vantagens da lei estariam do meu lado. Pelo menos, assim acreditei em minha ignorância. Meus associados não eram tão ignorantes quanto eu. Sabiam que o contrato não tinha valor por ter sido executado em violação à lei. Um dia vim a saber de tudo. Soube posteriormente que as leis de Poseid tornam cada mina pagadora de dízimo ao império e que qualquer mina explorada sem o reconhecimento desse laço legal estava sujeita a confisco.
Também era aparente que, se meus sócios não se tivessem deixado levar pela avareza, mantendo em segredo o nosso acordo que os tornava partícipes numa infração da lei, teriam se tornado proprietários legais simplesmente pelo fornecimento de informações sobre meus atos ao agente do governo mais próximo. Mas eu não sabia dessas coisas na época e os outros dois julgaram melhor guardar silêncio, pela única razão de que nada sabiam a não ser que estavam violando ordens aparentemente sem importância. E assim o segredo foi guardado para uma revelação posterior. Tendo conseguido os meios necessários, o passo seguinte foi minha mudança do campo para a cidade de Rai. Nosso adeus ao antigo lar nas montanhas e nossa instalação na nova residência em Caiphul ficará em branco nestas reminiscências.
Fim do CAPÍTULO I – Atlântida, Rainha do mar e do mundo. A peregrinação deZailm ao topo do Monte Pitach Rhok para adorar a Divindade. Ele encontra ouro. A erupção vulcânica. Ele é quase alcançado pelo rio de lava, mas escapa.

CAPÍTULO 2  -  ATLÂNTIDA, A RAINHA DOS OCEANOS

“O propósito desta história é relatar o que conheci pela experiência, e não me cabe expor idéias teóricas. Se levares alguns pequenos pontos deixados sem explicação para o santuário interior de tua alma, e ali meditares neles, verás que se tornarão claros para ti, como a água que mitiga a tua sede. . . “Este é o espírito com que o autor propõe que seja lido este livro. E chama de história o relato que faz de sua experiência. Que é história?. . . Ao leitor a decisão…
Nunca pronuncies estas palavras: “isto eu desconheço, portanto é falso“. Devemos estudar para conhecer; conhecer para compreender; compreender para julgar“. - Aforismo de Narada.
“Em época por vir, uma glória refulgente,
A glória de uma raça feita livre e pujante.
Vista por poetas, sábios, santos e videntes,
Num vislumbre da aurora inda distante.
Junto ao mar do Futuro, uma praia cintilante
Onde cada homem seus pares ombreará,
em igualdade, e a ninguém o joelho dobrará.
Desperta, minh’alma, de dúvidas e medos te desanuvia;
Contempla da face da Manhã toda a Magia
E ouve a melodia de prodigiosa suavidade
Que para nós flutua de remota e áurea graça —
E o canto como um coral da Liberdade
E o hino lírico da vindoura Raça.”  (Philos, o Tibetano)
CAIPHUL
O povo atlante vivia sob um governo que tinha o caráter de uma monarquia limitada. Seu sistema oficial reconhecia um imperador (cuja função era eletiva e de modo algum hereditária) e seus ministros, conhecidos por um nome que significava “Príncipes do Reino”. Todos esses ministros eram vitalícios, a não ser em casos de má conduta, um termo rigorosamente definido com prescrições impostas com severidade -, e a operação da lei a isso relativa era tal que nenhum cargo, por mais exaltado que fosse, era suficiente para isentar os ofensores.
Nenhum cargo governamental era eletivo, com exceção de uma função eclesiástica, ao passo que cargos menores do serviço público eram objeto de nomeação em todos os casos e os nomeados tinham de prestar contas estritas ao poder que os indicava para a função, fosse esse poder o imperador ou um príncipe, que, para usufruir do poder, era responsável perante o povo pela conduta dos que havia nomeado. Entretanto, não é a finalidade deste capítulo discutir o sistema político de Poseid, mas descrever os palácios ministeriais e monárquicos fornecidos pela nação a cada funcionário eleito, sendo um para cada príncipe e três para o imperador.
No geral, a descrição de uma dessas edificações, interior e exteriormente, tipifica todas as outras, assim como nos Estados Unidos da América e outros países modernos um edifício governamental é facilmente reconhecido como tal por suas características gerais de arquitetura. A descrição de um palácio, por conseguinte, servirá a um duplo propósito: o de dar uma idéia da mais notável residência do grande império atlante, visto que tenciono descrever o principal palácio do imperador; o segundo propósito é o de ilustrar o estilo que prevalecia na arquitetura do período em que residi em Poseid.
Imagine, se assim lhe aprouver, uma elevação de aproximadamente quinze pés, dez vezes essa medida em largura, e cinqüenta vezes em comprimento. Externamente às dimensões planas, em cada um dos quatro lados da plataforma feita de pórfiro talhado, vários degraus em aclive suave elevavam-se do gramado até o topo da elevação. Nos lados, esses degraus eram divididos em quinze seções, ao passo que nas extremidades as divisões eram apenas três, cada uma dividida em extensões de quinze pés. Entre as duas seções mais próximas dos cantos, cada divisão consistia em um profundo recesso quadrangular, com a escadaria descendo e passando em volta dele em ininterrupta continuidade.
A seção seguinte, a terceira, era separada das outras duas, de cada lado por uma serpente esculpida, de enorme tamanho, feita de arenito e tão fiel à realidade quanto a arte o permitisse. As cabeças dessas serpentes imóveis descansavam no gramado verde em frente à escada, enquanto o corpo ficava em relevo sobre a escadaria, indo até o topo da plataforma, enrolado em torno das imensas colunas que suportavam os frontões das varandas do superes-truturado palácio erigido sobre a plataforma já descrita; as colunas formavam um mui imponente peristilo entre as amplas varandas e os degraus.
A divisão seguinte era um quadrângulo inserido nos degraus e, a outra, mais uma serpente, e assim sucessivamente, em torno de todo o edifício. Espero que esta descrição seja suficientemente detalhada para dar uma ideia daquele tremendo paralelogramo, rodeado de escadarias, guardado por formas ornamentais, e também úteis, de serpentes monstruosas, emblemas religiosos significando não só a sabedoria mas também o aparecimento de uma serpente de fogo nos céus da antiga Terra, iniciando o evento da separação do Homem de Deus. Alternados com essas formas ficavam os recessos, suavizando formas que de outro modo seriam severamente retas e monótonas.
Coroando tudo isso havia o primeiro andar do palácio propriamente dito, com seu peristilo envolto em serpentes elevando o grande teto das varandas sobre as quais descansavam enormes vasos cheios de terra a nutrir todos os tipos de plantas tropicais, arbustos e muitas variedades de pequenas árvores, e um luxuriante jardim que perfumava o ar já refrescado por numerosas fontes ali colocadas. Acima do primeiro andar, com seus pórticos cheios de flores, erguia-se mais um nível com aposentos, cercado de galerias abertas, cujo piso era formado pelo teto que cobria o andar inferior. O terceiro e mais elevado nível de aposentos não tinha varandas, embora tivesse passarelas em todos os lados, formadas pelo teto do pórtico inferior.
A mesma variada exuberância de flores e folhagens tornava todos os andares igualmente atraentes. Em todos eles, aves canoras e de plumagem eram hóspedes bem-vindos, sem gaiolas mas mansas por nunca terem sido maltratadas. Servidores armados de zagaias que projetavam flechas silenciosas, destruíam discretamente todas as espécies predatórias e também aquelas que, sendo desprovidas do poder de cantar, de plumagem de vividas cores ou de hábitos insetívoros para recomendá-las, eram por isso indesejáveis. Graciosas torres redondas ou afiladas erguiam-se acima do telhado principal do palácio, enquanto que os muitos  aposentos com projeções, ângulos e arcos abobadados, contrafortes elegantes, cornijas e outros efeitos arquitetônicos, impediam que o conjunto parecesse pesado ou sólido demais.
Em torno da maior das torres subia uma escada em espiral, conduzindo ao espaço protegido por um corrimão, no alto, cem pés acima das chapas de alumínio que formavam o telhado do palácio. O palácio de Agacoe era único por causa de sua torre, que o tornava diferente dos outros edifícios ministeriais. Deve ser explicado que a torre tinha sido erigida em memória de uma bela princesa que partira dos amorosos cuidados de seu imperial esposo para Navazzamin, a sombria terra das almas dos mortos havia muitos séculos.
Assim era o palácio de Agacoe. Seu andar superior era um grande museugovernamental; o do meio abrigava os gabinetes dos principais funcionários do governo, enquanto que o primeiro estava magnificentemente decorado para servir como residência particular do imperador. Por não ser um lato desprovido de interesse, anotamos que as bocas escancaradas das serpentes de pedra recentemente descritas serviam como portais de entrada (do tamanho usual) para certos aposentos do subsolo, fato que serve para dar uma idéia clara do enorme tamanho daqueles sáurios líti-cos. Os monstros haviam sido feitos levando em conta a proporção artística; seus corpos eram de arenito cinzento, vermelho ou amarelo, os olhos de cornalina, jaspe, sárdio ou outra pedra de silício colorido, enquanto as presas em suas bocas enormes eram de quartzo branco brilhante, uma em cada lado do portal.
Tantas pedras cortadas e alisadas forçam a mente moderna a indagar se os atlantes obtinham o produto acabado por meio do incansável labor de escravos -e nesse caso teríamos sido um povo bárbaro, cuja autonomia política estaria sempre ameaçada pelas forças do vulcão social que a escravatura sempre cria – ou se possuíamos máquinas para o corte de pedras, de peculiar eficiência. Esta última é a resposta correta, pois nossas máquinas especiais para isso, assim como uma quase infinita variedade de outros implementos para todos os tipos de trabalho, eram um motivo de orgulho para a nossa nação e nos distinguiam das demais.
Permite-me fazer uma afirmação, não como argumentação mas para que ela possa ser compreendida à luz dos capítulos subsequentes: se nós, atlantes, não tivéssemos possuído esse grande número de invenções mecânicas nem o talento inventivo que nos conduziu a esses triunfos, então vós, habitantes modernos da Terra, também não teríeis essa capacidade criativa nem os resultados dela. É possível que tu, leitor, não compreendas a ligação que existe entre as duas eras e raças ao ler esta afirmação, mas ao chegares mais perto do final desta história tua mente para ela se voltará com plena compreensão.
Na esperança de que meu esforço em descrever com palavras a aparência dos edifícios governamentais da Atlântida tenha tido êxito, tentemos agora adquirir uma idéia do promontório no qual estava entronizada Caiphul, a Cidade Real, a maior daqueles antigos tempos, na qual vivia uma população de dois milhões de almas, e que não tinha muralhas fortificadas. Na verdade, nenhuma cidade ou capital daquele tempo era cercada por muros, e neste respeito diferiam das cidades conhecidas em épocas históricas posteriores. Chamar meus registros de Poseid de história não é exagero, pois o que relato nestas páginas é a história derivada dos registros da luz astral (n.T. Registro Akáshico).
Não obstante, ela precede as narrativas históricas transmitidas por manuscritos, papiros e inscrições em pedras por tantos séculos, visto que Poseid já não era mais conhecida na Terra quando as primeiras páginas da história foram registradas em papiros pelos primeiros historiadores, e nem mesmo antes, quando os escultores dos obeliscos egípcios e os artistas encarregados de gravar as pedras dos templos imprimiram histórias pictóricas no duro granito. Poseid estava esquecida, pois hoje faz mais de dez mil anos que as águas do oceano Atlântico engolfaram nossa bela terra sem deixar sinal, como o que sobrou das duas cidades ocultas sob lava e cinzas e que durante dezessete séculos da era cristã permaneceram completamente desconhecidas.

“Que a terra (de Atlântida) seja coberta pelas águas, para que o Sol que tudo vê não a distinga mais em seu curso.”
Escavadores trouxeram à luz os restos de Pompéia, mas homem algum pode afastar as águas do Atlântico e revelar o que já não mais existe, pois ainda que cada dia fosse um século, teriam se passado três meses e dez dias desses longos dias desde o terrível (decreto) fiat de DEUS (n.T. Em 10.986 a.C, portanto à 13 mil anos):
Que a terra (de Atlântida) seja coberta pelas águas, para que o Sol que tudo vê não a distinga mais em seu curso.
E assim se fez. Em páginas anteriores, o promontório de Caiphul foi descrito como se estendendo pelo oceano a partir da planície caiphaliana, sendo visível de grande distância à noite por causa da luz irradiada pela capital. A península se projetava por trezentas milhas, na direção oeste a partir de Numéia, medindo cinqüenta milhas de largura quase até o extremo, e erguendo-se como os penhascos de talco da Inglaterra a quase cem pés, até alcançar uma planície sem elevações, quase tão plana quanto o soalho de uma casa. Na extremidade dessa grande península ficava Caiphul ou “Atlântida, Rainha do Mar”. Linda, pacífica, com seus amplos jardins encantadoramente tropicais:
“Onde as folhas jamais esmaecem nos floridos e mansos galhos, “E as abelhas se fartam com as flores o ano inteiro.” 
Suas largas avenidas sombreadas por enormes árvores, suas colinas artificiais, cortadas por avenidas que se irradiavam do centro da cidade como os raios de uma roda. Cinqüenta delas corriam numa direção, enquanto que, formando ângulos retos com elas, atravessando a largura da península, com quarenta milhas de comprimento, situavam-se as avenidas menores. Assim era a mais poderosa cidade de mundo antigo, como se fosse um esplêndido sonho. Em nenhum ponto Caiphul se encontrava a menos de cinco milhas do oceano. Embora não tivesse muralhas, em torno de toda a cidade estendia-se um imenso canal, com três quartos de milha de largura por aproximadamente sessenta pés de profundidade, alimentado pelas águas do Atlântico.
 No lado norte, um canal maior adentrava esse fosso circular - um canal no qual as águas profusas de um grande rio, o Nomis, criavam uma correnteza de considerável força. Conseqüentemente, formava-se uma corrente em todo o círculo do fosso, e a água do mar entrava pelo lado sul. Dessa maneira, efluía para o mar todo o sistema de drenagem da ilha circular artificial onde ficava a cidade. Imensas bombas a motor forçavam a água fresca do oceano a passar por toda a cidade por meio de grandes canos e condutos de pedra, fazendo a limpeza dos drenos e fornecendo força motriz para todas as finalidades, iluminação elétrica e serviços de eletricidade muito variados. . .
Mas, um momento! Serviços de eletricidade? Sim, na verdade tínhamos um grande conhecimento sobre a força motriz do universo: nós a utilizávamos em incontáveis formas que ainda estão por ser descobertas neste mundo moderno, além de formas que a cada dia estão voltando em grande número à memória de homens e mulheres do passado, reencarnados nesta época. Não é estranha a tua incredulidade, meu amigo, quando falo dessas invenções que consideras uma propriedade típica de hoje? O fato é que falo com o conhecimento nascido da experiência, posto que vivi naquele tempo, e também neste de agora. Vivi não só na Poseid de doze mil anos atrás, mas também nos Estados Unidos da América antes, durante e depois da Guerra de Secessão.
Tirávamos nossa energia elétrica das ondas do mar que se abatiam sobre as praias; das torrentes das montanhas e de produtos químicos, mas principalmente do que poderia ser adequadamente chamado de “Lado Noturno da Natureza”. Explosivos de alto poder eram conhecidos por nós, mas o emprego que deles fazíamos era muito mais amplo que o de hoje. Se pudesses feizer essas substâncias entregarem gradualmente sua enorme força aprisionada sem temer uma explosão, imaginas que tuas máquinas seriam movidas por motores elétricos ou a vapor, tão desajeitados por causa de seu peso?
Se um grande navio a vapor pudesse dispensar suas caldeiras e fornalhas e em seu lugar usar dinamite num recipiente perfeitamente seguro, possível de ser carregado numa bolsa, transmitindo poder suficiente para levar o navio da Inglaterra até a América, ou impelir um trem por seis mil milhas, por quanto tempo ainda usarias teus motores a vapor? Contudo, essa energia foi conhecida por nós – por ti talvez, por mim com certeza – na vida atlante. Certamente ressurgirá, pois Nossa Raça está novamente voltando da vida após a morte para a terra. Esse não era o único recurso energético que tínhamos.
As forças do Lado Escuro da Natureza eram para nós o que o vapor é para teus motores. E o que são elas? Neste ponto só responderei fazendo uma contra-pergunta: a força da Natureza, da gravidade, do Sol, da luz, de onde vem? Se me responderes “vem de Deus”, então explicarei que, da mesma forma, o Homem é Herdeiro do Pai, e tudo que é Dele também pertence ao Filho. Se Incal é impelido por Deus, o Filho descobrirá como o Pai o faz e chegará a fazê-lo também, como o Homem fez em Poseid, no passado. Mas podemos fazer coisas ainda maiores: és hoje, foste ontem. És Poseid que retorna, num plano mais elevado!
O propósito original para o qual havia sido construído o grande fosso ou canal que envolvia a capital tinha sido cumprido havia muitos séculos. Esse propósito fora puramente marítimo, ligado aos dias em que navios eram usados como transporte, antes do uso posterior de aeronaves, e havia cumprido sua finalidade tão bem que dera a Caiphul o título de “Soberana dos Mares”, um título que continuou a existir mesmo depois que os usos originais do fosso já tinham se tornado coisa do passado. Quando melhores meios de transporte suplantaram os antigos, os navios que por dez séculos tinham visitado todos os mares e rios navegáveis do globo foram abandonados ou convertidos para outros usos. Só algumas embarcações singravam as águas e eram barcos de recreio pertencentes a pessoas amantes de novidades e que dessa forma satisfaziam seu gosto pelo esporte.
Essa mudança radical, entretanto, não fez com que as docas de alvenaria do fosso, medindo cento e quarenta milhas aproximadamente, fossem abandonadas à destruição. Isto teria causado a perda de valiosas propriedades pela invasão das águas, assim como a deterioração do sistema sanitário da cidade, além de que tal desgraça teria destruído a beleza do canal e suas proximidades. Por conseguinte, nos sete séculos decorridos desde que deixamos de usar o transporte marítimo, não foi permitido que o menor sinal de fraqueza ameaçasse aquela grande extensão de alvenaria.
Uma característica marcante de Caiphul era a grande variedade e rara beleza de suas árvores e arbustos tropicais, ladeando as avenidas, cobrindo as muitas colinas coroadas por palácios, muitos dos quais tinham sido construídos de forma a se elevarem a duzentos e até trezentos pés acima do nível da planície. Arvores, folhagens, arbustos, trepadeiras e flores, anuais e perenes, enchiam os desfiladeiros, gargantas e terraços artificiais que os poseidanos, amantes da arte, haviam criado. As plantas cobriam os declives, envolviam os penhascos em miniatura, as paredes dos prédios e até, em grande parte, os degraus que levavam das margens até a beira do grande canal, como se vestissem tudo com uma gloriosa roupagem verde.
Talvez o leitor esteja se perguntando onde vivia a população. A pergunta vem bem a tempo e a resposta, segundo creio, será interessante. No trabalho de alteração da configuração da superfície do grande promontório, fazendo da planície uma bela variação de colinas e vales, o plano seguido tinha sido o de lazer uso de grandes suportes de rochas, de enorme resistência, na forma de terraços, deixando passagens em arco onde as avenidas faziam interseções com essas elevações, e preenchendo os vazios remanescentes com concreto feito com argila, pedrisco e cimento, cuidadosamente misturados e socados. O exterior era então coberto com terra fértil para ali se plantar vida vegetal de todas as espécies.
Essas elevações cobriam muitas milhas quadradas do espaço antes existente, deixando poucas áreas planas a não ser as avenidas; mas nem todas, pois muitas ruas ascendiam as colinas ou seguiam o declive ascendente de algumas gargantas até alcançarem o topo. Então atingiam a divisa e passavam para o outro lado por um viaduto em arco, do qual tubos de cristal a vácuo transmitiam uma luz contínua fornecida pelas forças do “Lado Noturno”. As faces verticais e as inclinações dos terraços, assim como os lados das gargantas, serviam para a construção de aposentos de variado e amplo tamanho. As portas e janelas dessas construções eram disfarçadas por saliências artificiais de rocha, cobertas de hera e outras plantas que crescem em pedras, dessa forma escondendo das vistas a deselegância das armações metálicas existentes por baixo.
Esses apartamentos formavam conjuntos artísticos para acomodar as famílias. A forração de metal evitava a umidade no interior, enquanto que sua localização no interior assegurava uma temperança constante em todas as estações do ano. Como essas residências eram projetadas e construídas pelo governo, e eram de propriedade do mesmo, os moradores as alugavam no Ministério de Obras Públicas. O aluguel era módico, suficiente apenas para manter a propriedade em boas condições, pagar as despesas de iluminação e aquecimento, o fornecimento de água e os salários dos funcionários que se ocupavam em cumprir esses deveres. 
Tudo isso custava não mais que dez ou quinze por cento do salário de um mecânico especializado. A menção de tantos detalhes deverá ser perdoada, pois se eu os omitisse, só uma concepção vaga e insatisfatória seria obtida pelo leitor. O grande atrativo dessas residências era sua localização retirada, evitando a triste aparência de grandes números de casas angulares, um efeito extremamente desagradável muito visto em nossos dias de hoje mas raramente, ou nunca, nas cidades atlantes. O resultado desse planejamento era que, para quem olhasse de qualquer elevação, a cidade pareceria muito agradável em comparação com nossas modernas aberrações feitas de pedra, tijolos ou madeira, especialmente pela falta de arranha-céus separados por túneis estreitos e sem árvores, em muitos casos imundos, indevidamente chamados de ruas.
O visitante veria uma colina e depois outra e mais outra, até incluir todas em sua visão -eram cento e dezenove no total; aqui um lago, ou um penhasco ao lado de um lago, ou um parque coberto de árvores; mini gargantas com ar grandioso, pequenas florestas, tão regularmente irregulares. . . Cascatas e torrentes, alimentadas pelo inesgotável suprimento de água fresca da cidade, as margens e prainhas cobertas com árvores, arbustos e folhagens que amam a contiguidade da água. Estas, caro amigo, teriam sido as cenas apresentadas aos teus olhos, se pudesses ter contemplado Caiphul comigo. Talvez o fizeste, quem sabe? Mas Caiphul possuía também casas construídas à maneira moderna, pois a autorização da cidade para a construção de algumas casas belas, em locais e estilos calculados para aumentar a beleza do cenário, era um privilégio que pessoas abastadas podiam obter oficialmente.
Muitas a haviam obtido. Museus de arte, teatros e outras estruturas não destinadas a moradia também existiam em razoável número. Passeando pela cidade, descobri que as avenidas, em certos casos, pareciam interromper-se bruscamente diante de uma gruta, cujo interior geralmente estava enfeitado por estalactites pendentes do teto. Por vezes um ligeiro desvio do curso acontecia, impedindo a visão do interior da gruta. Nesses locais, lâmpadas cilíndricas de alta tensão, a vácuo e sem quebra-luz, enviavam um brilho suave ao interior, criando um afeito de luar muito agradável para quem entrasse, vindo do exter-ior brilhantemente iluminado pelo Sol.
Embora os habitantes fossem excelentes cavaleiros, em sua maioria, esse tipo de transporte não era usado a não ser como meio de cultura e graça físicas, uma vez que havia o transporte elétrico fornecido pelo governo. Certamente os reformadores deste século dezenove da era cristã se sentiriam na terra ideal se fossem caifalianos, isto porque o governo exercia o princípio paternalista, tão sistematicamente quanto o feria se fosse o dono da terra, de todos os meios de transporte e comunicações públicas, fábricas, enfim, todas as propriedades.
O sistema era de natureza muito beneficente, e nenhum poseidano desejava que fosse interrompido ou suplementado por algum outro. Se um cidadão desejava um vailx (aeronave) para qualquer finalidade, dirigia-se aos funcionários próprios que sempre estavam de plantão nos depósitos de vailx em todo o reino. Se quisesse cultivar a terra, contatava o Departamento de Solos e Agricultura. Talvez desejasse fabricar um produto; as máquinas estavam à disposição por um aluguel módico necessário para cobrir as despesas de operação e os salários das pessoas encarregadas daquela parte da propriedade pública.
Creio que estes exemplos são o suficiente. Cabe dizer que não existe harmonia política como a que provinha do paternalismo de nossos oficiais eleitos. O paternalismo governamental é encarado com desconfiança e um certo alarma pelas repúblicas modernas. É que hoje sua qualidade difere da que existia então. O nosso era um paternalismo observado de perto e devidamente contido pelos eleitores da nação, e sua existência era essencialmente um expoente de princípios verdadeiramente socialistas. Até aqui não entrei em detalhes precisos a respeito dos muitos acordospeculiares mantidos entre os pais políticos (governo) e seus filhos, ou entre trabalho e capital.
Não creio que deva fazê-lo nestas páginas com propriedade, pois não é o caso de uma petição de readoção, nesta época do mundo, dos métodos seguidos naquele remoto período. Creio que será suficiente dizer, o que não deverá ser inadequado nesta conjuntura, que Poseid não era incomodada no meu tempo pelo problema moderno e ao mesmo tempo muito antigo das greves, que bloqueiam o capital e a empresa, fazem morrer de fome o artesão e causam mais sofrimento aos pobres do que aos ricos. O segredo dessa imunidade às greves não precisa ser buscado muito longe numa nação cujo governo era a voz de um povo com suficiente educação para conceder o poder sem consideração de sexo, porque estava indelevelmente marcado em nossa vida nacional o seguinte princípio: “uma base de educação a cada eleitor; o sexo do eleitor não tem importância”.
Numa nação assim, seria muito estranho que desarmonias industriais pudessem perturbar a política social por muito tempo. O amplo princípio da igualdade entre empregador e empregado reinava em Poseid; não importava o que uma pessoa fizesse para a outra, toda a equação se firmava nesta pergunta: algum serviço foi prestado por uma pessoa a outra? Em caso afirmativo, o fato desse serviço ter sido prestado ou não através de um esforço físico não contava. Um serviço devia ser compensado, fosse físico ou intelectual, e também não era importante saber se o empregador representava um ou mais indivíduos, ou o empregado uma ou mais pessoas.
Nossas leis locais relativas à questão da igualdade industrial eram completas e bastante volumosas. Embora não pretenda dar uma versão completa do que se poderia chamar de leis trabalhistas, algumas partes merecem atenção. Será melhor prefaciá-las com uma breve história dessas regras para mostrar como, naquele tempo remoto, problemas trabalhistas muito semelhantes, e tão ameaçadores para a paz e a ordem quanto qualquer revolta industrial moderna, foram final e equanimemente resolvidos. Na “Pedra Maxin”, a cujo código legal será feita referência no devido tempo, encontramos esta semente vital de resolução de uma terrível ameaça envolvendo trabalho e capital, a saber:
“Quando aqueles que trabalham por um salário estiverem oprimidos e se levantarem em fúria para destruir seu opressor, que sejam impedidos e que Me obedeçam. A eles eu digo: não causes dano à pessoa ou à propriedade de qualquer homem, mesmo que sejais oprimido por ele. Pois não sois todos irmãos e irmãs? Não sois todos filhos de um só Pai, o inominado Criador? Mas isto eu ordeno: que eles acabem com a opressão. Busca com diligência o significado de minhas palavras.”
O estudante de ética interpretava esse comando com o significado de que as classes trabalhadoras oprimidas não deveriam prejudicar o capitalista opressor nem sua propriedade. As classes privilegiadas talvez fossem tão vítimas das circunstâncias quanto as mais pobres; o remédio estava, não na anarquia cega, mas na erradicação das condições errôneas. Isso seria fácil, desde que adequadamente tratado. Os oprimidos eram na proporção de milhares para um, em relação ao opressor. A maioria deles tinha o poder do voto e foi determinado que, sendo o governo servidor do povo, o método correto era lidar com a questão por meio de eleições e não pelo uso da violência contra os ricos. Portanto, fez-se a convocação para que o povo em peso votasse pela adoção de um código de regulamentos trabalhistas e o submetesse respeitosamente ao RAI. Dos muitos artigos e seções citarei apenas aqueles que são pertinentes aos tempos e problemas modernos, de modo que, se minha seleção não contém artigos e seções de maneira sequencial, a razão é óbvia.
EXCERTOS DAS LEIS TRABALHISTAS DE POSEID
“Nenhum empregador exigirá de qualquer empregado a prestação de serviços além dos horários legais de trabalho sem remuneração extra.” 
“Seção 4. Essas horas não serão menos nem mais que nove horas de labor físico em cada período de vinte e quatro horas; não serão mais nem menos que oito horas de trabalho sedentário requerendo principalmente o esforço intelectual.” 
Este estatuto permitiu que as duas partes de um contrato de trabalho decidissem quando o horário de trabalho começaria ou terminaria, com relação à primeira hora do dia, isto é, a hora moderna do meio-dia. Quanto ao caso dos salários, a lei era muito clara, explicando que, como o homem é egoísta por natureza -quer dizer, em sua natureza inferior – aplicaria com base no auto-engrandecimento a moderna doutrina do autogoverno. Assim, se ele não fosse movido pelo senso do dever para com seu semelhante a tratá-lo com justiça, não sendo a justiça ditada pela força, então caberia à lei compeli-lo a ser justo.
É neste ponto que o moderno mundo anglo-saxão, que é o mundo de Poseid (e Suern) ressurgindo, mostra um sinal do lento mas seguro progresso gerado pelo tempo -, prova que embora o homem, como tudo o mais, dotado ou não de inteligência, se movimente em um círculo, esse círculo é como a rosca de um parafuso, sempre progredindo para o alto, a cada volta para um plano mais elevado. Poseid deve ser compelida por suas mentes avançadas a fazer o que é justo pelos fracos. A América e a Europa estão se tornando mais propensas a agir corretamente e com justiça, porque isso é parte do dever. Vemos então empregadores modernos oferecendo de livre vontade o que os antigos poseidanos faziam por força da lei: partilhar lucros com os empregados.
Tendo a lei sido entregue aos juristas, os eleitores decretaram que o governo deveria estabelecer um Departamento de Intendência, cuja incumbência seria a de coletar todos os dados estatísticos referentes a produtos alimentícios comerciáveis, todos os têxteis necessários ao vestuário e, em suma, todos os artigos necessários para a manutenção social adequada dos cidadãos. Com base nesses relatórios estatísticos, seria feita uma estimativa do custo desses bens, entre os quais estavam os livros, reconhecidos como alimento mental. Foi calculado o custo anual desses itens e, os salários, com base no resultado da divisão do custo anual pelo número de dias. Essa tabela era atualizada a cada noventa dias, por causa da verificação de que certos itens principais flutuavam, não sendo o cálculo totalmente estável, e os salários de um trimestre poderiam diferir dos salários do trimestre anterior. Permite-me fazer uma citação:
Seção VII, Art. V. Os empregadores dividirão os lucros brutos das operações comerciais da seguinte forma: O salário, ganhos ou emolumentos de cada empregado serão pagos com base na soma trimestral estimada do custo de vida determinado pelo Departamento de Intendência. Do restante, seis partes de cada cem do capital investido serão reservadas. Este incremento será e representará os lucros líquidos do empregador. Da receita restante serão deduzidas as despesas normais e, de qualquer soma remanescente, metade será investida para prover anuidades aos doentes ou incapacitados, ou como seguro aos dependentes de empregados falecidos. A metade restante será periodicamente distribuída entre os empregados com base em suas diferentes compensações.”
Seção VII, Art. V. Um conjunto de empregados é apenas equivalente ao seu Superintendente. Este equivale a todos os seus subordinados. Portanto, os empregadores, se não forem eles mesmos os administradores do seu negócio, pagarão aos gerentes um salário igual à soma dos salários dos subordinados.”
Essas e outras leis trabalhistas realmente têm um sabor de modernidade. Mas a civilização de todas as eras, em todas as nações, unde a expressar-se de maneiras tais que, se usarmos a linguagem moderna para exprimi-las, parecerão quase idênticas. Tanto é assim que na antiga Atlântida e na moderna América o termo “greve” pode ser apropriadamente empregado para designar uma revolta de trabalhadores; o mesmo princípio caracteriza todas as outras fases-, de uma era para outra, o mundo progride com lentidão, e hoje ainda não está tão avançado nem tão civilizado, em seu atual subciclo, quanto estava no tempo de Poseid. Estas podem ser palavras duras, mas logo serão compreendidas. 
Essas eram as principais características do mundo industrial de Poseid. As antigas greves e tumultos que deram nascimento a essas leis desapareceram e a paz tomou o seu lugar. A mudança foi benéfica, mas os fortes sempre procuravam descobrir um meio de burlar a lei e, embora não tivessem tido êxito suficiente para causar grandes danos, seu desejo foi adicionado à soma do Carma. Assim, quando o mundo moderno da época cris-(ã chegou aos séculos dezoito e dezenove, especialmente este último, começou a reencarnação daquele período de Poseid e, por algum tempo, a opressão novamente predominou. Contra essa tendência, hoje surge timidamente o desejo de agir com jus-i iça pela justiça em si, o que, aplicado a assuntos industriais, manifestou-se em anos muito, muito recentes -um sinal do brilho derradeiro no crepúsculo do dia quase chegado à hora final, lembrando uma era acabada.
Refiro-me particularmente ao desejo mais presente do homem de tratar corretamente os outros sem ser forçado a isso por decretos legais. É verdade que isso é feit0 ainda porque o homem descobriu que é conveniente; mas essa descoberta nunca teria sido feita se o desejo reencarna-do do bem não tivesse induzido experimentos de participação nos lucros, na esperança de exterminar-se a iniqüidade das greves e com a ideia de harmonizar a sociedade e levá-la a agir como gostaria que agissem com ela.
Finalmente, por mais estranho e paradoxal que pareça, essa melhoria é resultado direto de antigos direitos conseguidos à força em Poseid, hoje filhos reencarnados da opressão reencarnada, assim como na Atlântida a opressão surgiu como reencarnação de eras ainda mais antigas, anteriores ao espantoso memorial de Gizé. Mas ir além de uma simples menção disso seria invadir a seara entregue a outrem pelo Messias; portanto, só um indício poderei dar agora e transmitirei outros mais tarde. Basta dizer, então, que aqueles foram tempos em que os homens lutavam contra nossa ancestralidade caída com uni movimento ascendente que era praticamente imperceptível, (glória seja dada ao Pai, pois Seus filhos, segura embora lentamente, estão por meios tortuosos ascendendo a Suas alturas; muitas são suas quedas, mas eles se levantarão de novo, não permitindo que o inimigo triunfe.

Esboço do transporte público em Atlântica.
Pode parecer uma intrusão inoportuna, mas devo introduzir neste ponto uma breve descrição do sistema de transporte elétrico de Caiphul e das outras cidades, grandes e pequenas, espalhadas pelo império e suas colônias. Farei somente a descrição dos veículos de transporte local. Em cada lado das amplas avenidas havia uma larga calçada de mosaico para os pedestres. Uma linha de enormes e pesados vasos de pedra, sem fundo e onde cresciam arbustos ornamentais e folhagens, estavam no meio-fio, e de cada lado deles havia um trilho de metal, a uma altura de uns nove pés, apoiados em suportes semelhantes aos que serviam para amarrar navios.
A distâncias regulares, outros trilhos cruzavam as vias principais, podendo ser levantados ou abaixados para formar um desvio como os dos trens de hoje, com uma simples alavanca efetuando esse processo. O espaço abaixo dos trilhos servia como cruzamento de ruas, havendo raramente uma rua pavimentada por baixo, a não ser nas avenidas maiores. Nos mapas do Departamento Municipal de Trânsito, esses trilhos principais e secundários formavam uma espécie de teia de aranha. Para cada distrito havia grande número de veículos com mecanismo automático, que permitia o transporte de seus passageiros a tremendas velocidades e grandes distâncias. Não ocorriam colisões, porque o sistema era formado por trilhos duplos.

CAPÍTULO 3

A Fé também é conhecimento e remove montanhas. 

Zailm determina seu curso de estudos, conforme acredita ser o que Incal lhe comandou.
Existe um ditado cuja origem se perde na obscuridade do tempo e que dizConhecimento é poder. Dentro de limites bem definidos, isto é uma verdade. Se por trás do conhecimento está a energia necessária para efetivar seus benefícios, então e só então esse ditado é uma verdade. Para o exercício do controle da natureza e suas forças, o operador em potencial deve ter perfeita compreensão (e aceitação) das leis naturais pertinentes.
É o grau de consecução inserido nesse conhecimento que marca a maior ou menor capacidade desse operador, e aqueles que adquiriram a compreensão mais profunda da Lei (Lex Magnum) são mestres cujos poderes parecem maravilhosos a ponto de parecerem mágicos. As mentes não-iniciadas ficam absolutamente alarmadas por suas incompreensíveis manifestações. Em todos os pontos para onde eu olhasse quando me vi em minha morada citadina ao chegar de meu lar nas montanhas, via inexplicáveis maravilhas, mas a dignidade natural evitou que eu parecesse um ignorante.
Pouco a pouco eu iria me familiarizar com meu novo ambiente e com isso adquirir o conhecimento das coisas a que me referi quando mencionei pela primeira vez a troca da vida no interior pela cidade. Mas essas consecuções relativas a uma confortadora autoridade sobre a natureza exigiam um curso especial. Esse curso de estudo ainda não tinha sido determinado por mim antes de minha entrada na cidade, pois parecia-me que seria uma atitude inteligente concentrar minhas energias em especializações, sem dispersar forças com generalidades.
Com base nessa idéia, resolvi passar um período mais ou menos extenso sem solicitar admissão ao Xioquithlon, período esse que seria aplicado à observação. Eu tinha sido um ávido leitor de livros obtidos na biblioteca pública do distrito onde ficava minha casa nas montanhas. Com essas leituras havia adquirido uma compreensão nada desprezível da organização do governo. 
O fato de haver apenas noventa e um cargos eletivos para o povo, enquanto havia quase trezentos milhões de Poseidanos na Atlântida e suas colônias naqueles tempos e, segundo um censo recente que eu tinha visto, quase trinta e oito milhões de eleitores detentores de diplomas de Primeira Classe, induziu-me a achar extremamente improvável que tão elevado privilégio me fosse concedido.
Ora, como eu dificilmente poderia esperar ter um cargo ministerial, então seria possível, caso eu me candidatasse a um diploma Superior, obter um elevado nível político e um cargo nomeado, entre os quais vários eram quase tão honrosos quanto os de conselheiro. Em quais matérias especiais deveria eu me concentrar? A pesquisa geológica me agradava muito e seus inúmeros ramos ofereciam amplos e atraentes campos de oportunidades.
Mas a filologia era dotada de uma atração quase igual e minha capacidade de aprender idiomas estrangeiros não era pequena, como eu tinha constatado estudando um pequeno volume descritivo de uma terra conhecida pelo nome de Suernis (Hoje território da ÍNDIA), um país estranho de cuja língua muitos exemplos ali apareciam. Esses exemplos aprendi sem esforço e perfeitamente com uma só leitura.
Vários meses de residência na cidade finalmente me encontraram decidido a adquirir todo o conhecimento geológico que pudesse, pois eu acreditava que esse era um estudo que Incal me havia indicado, junto com o conhecimento de minas e mineralogia. Como matérias concomitantes resolvi me educar seriamente em literatura sintética e analítica, não só com relação a Poseid mas também às línguas dos Suernis eNecropânicos.
Eis que acabo de dar os nomes das três maiores nações dos tempos pré-Noachios (pré-Nepthianos, PRÉ DILÚVIO, com o afundamento final de Atlântida). Uma dessas nações foi varrida da face da Terra mas as outras duas conseguiram sobreviver apesar de terríveis vicissitudes. Destas falarei mais adiante. Os motivos que me levaram a escolher o currículo que mencionei
foram os de que, como geólogo e cientista, eu esperava fazer novas
descobertas de valor e colocá-las diante do mundo em forma de livro, ou pelo menos diante do povo de Poseid que se considerava o melhor do mundo.
Esse desejo dificilmente poderia ser realizado sem esses estudos de que falei. A influência que eu esperava conquistar através de minhas publicações poderia me conduzir ao cargo de Superintendente Geral de Minas, um cargo político não inferior a qualquer outro cargo nomeado. Certamente outros estudos seriam necessários, caso eu entrasse na disputa por um diploma superior, mas os que citei eram os mais agradáveis e constituiriam minha aspiração principal.
De passagem eu poderia observar que os estudos que escolhi naquela oportunidade, e que depois dominei perfeitamente, fizeram minha natureza assumir uma tendência que me levou na atual existência, não faz muitos anos, a tornar-me dono de minas no Estado da Califórnia; bem-sucedido, devo dizer. Também fixou muito mais firmemente minhas inclinações lingüísticas, tanto que, enquanto era cidadão dos Estados Unidos (da América, dominei não só minha língua nativa mas igualmente treze outras línguas modernas como francês, alemão, espanhol, chinês, vários dialetos do hindustani, e sânscrito, como uma espécie de relaxação mental.
Não tomes estas palavras como auto-engrandecimento, pois não é este o caso. Só as formulei para te mostrar, amigo, que teus próprios poderes não são apenas uma questão de herança genética, mas de memórias de uma ou quem sabe de todas as tuas vidas passadas; também tive a intenção de lazer uma alusão proveitosa, qual seja a de que os estudos empreendidos hoje, não importa quão próximo estejas do ocaso de meus dias, certamente darão frutos, não só nesta tua vida terrena mas em encarnações subseqüentes.
Vemos com a visão de tudo que já vimos antes, agimos com base em tudo que já fizemos antes, pensamos através de tudo que já pensamos no passado distante. Verbum sul Sapienti. No próximo capítulo pretendo dedicar algumas páginas a considerações sobre a ciência física, tal como era entendida pelos poseidanos. Referirme-ei mais especialmente aos princípios superiores em que essa ciência se baseava, visto que negligenciar essas explicações requereria muitas declarações ex-cathedra posteriores que de outra forma poderiam ser clara e imediatamente compreendidas.

Reprodução do afundamento de Atlântida.
“Em época por vir, uma glória refulgente,
A glória de uma raça feita livre e pujante.
Vista por poetas, sábios, santos e videntes,
Num vislumbre da aurora inda distante.
Junto ao mar do Futuro, uma praia cintilante
Onde cada homem seus pares ombreará,
em igualdade, e a ninguém o joelho dobrará.
Desperta, minh’alma, de dúvidas e medos te desanuvia;
Contempla da face da Manhã toda a Magia
E ouve a melodia de prodigiosa suavidade
Que para nós flutua de remota e áurea graça —
E o canto como um coral da Liberdade
E o hino lírico da vindoura Raça.”  (Philos, o Tibetano)


CAPÍTULO 4

AXTE INCAL, AXTUCE MUN – Conhecer a Deus é conhecer todos os mundos"
Considerando as leis naturais, os filósofos de Poseid tinham chegado à hipótese final e à teoria prática de que o universo material não era uma entidade complexa mas, ao contrário, primordialmente muito simples. A gloriosa verdade (“Incal malixetho”) era clara para eles, ou seja, que “Incal (Deus) é imanente na Natureza”. A isso anexaram a declaração de que “Axte Incal, axtuce mun” – “Conhecer a Deus é conhecer todos os mundos”.
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Provável localização de Atlântida.
Após séculos de experimentação, registros de fenômenos, deduções, análise e síntese, aqueles estudiosos haviam chegado à proposição final de que o universo com todos os seus variados fenômenos – sem contar seu extraordinário conhecimento de astronomia – tinha sido criado e mantido em operação por duas forças – princípios primais, básicos. Falando resumidamente, esses fatores básicos eram que a matéria e a energia dinâmica (que eram Incal manifesto), poderiam facilmente explicar todas as outras coisas. Essa concepção partia do princípio de que só existia Uma Substância e Uma Energia, sendo uma energia Incal externalizado e a outra Sua Vida em ação em Seu Corpo.*
* Nota – Como, em seu impulso de emanação, aquilo que é criado sempre se afasta do Criador, ele olha para sua origem e nota seus marcos de progresso, ou seja, as multiplicadas percepções de sua crescente separação da Fonte. Quanto maior essa separação, maior é o campo (Matéria) em que esses pontos aparecem, porque o elemento daquilo que é criado e que se distancia notou mais pontos ou, em outras palavras, mais coisas, mais objetos materiais entre ele e sua Fonte ORIGINAL. Só quando olhamos para trás, para essas coisas que sentimos, para essas formas mentais de Deus, percebemos a matéria, pois, quando olhamos para a frente, para a reunião com Ele, a matéria desaparece e dá lugar ao Espirito. 
Essa Substância Única assumia muitas formas pela ação de graus variáveis de força dinâmica. O fato de que esse era o princípio básico de todos os fenômenos naturais e psíquicos, mas não espirituais, permite-me transmitir aqui um postulado que muitos de meus amigos reconhecerão ao menos parcialmente, ou quem sabe; na íntegra. Começando com a energia dinâmica tal como primeiro se manifesta de forma sensível no exemplo dado pela vibração simples, a posição poseidana pode ser esboçada da seguinte forma: uma freqüência muito baixa de vibração pode ser sentida; um aumento de freqüência pode ser ouvido. Por exemplo, sentimos primeiro o pulsar da corda da harpa e depois, se a freqüência da vibração aumenta, ouvimos seu som. Mas substâncias de outras espécies, capazes de suportar impulsos vibratórios maiores, manifestam-se por uma ação mais intensa, seguindo-se ao som o calor, e depois a luz.
Pois bem, a luz varia de cor. A primeira cor produzida é o vermelho e, a partir daí, aumentando-se constantemente a energia vibrátil, o alaranjado, o amarelo, o verde, o azul, o índigo, o violeta, cada faixa do espectro devendo-se a um aumento exato e definido no número de vibrações. Sucedendo-se ao violeta, o aumento de freqüência nos dá o branco puro, depois o cinza; além desse ponto a luz se extingue e dá lugar à eletricidade, e assim por diante, através de uma voltagem crescente, até que se alcance o reino da força psíquica ou força vital. Podemos verdadeiramente considerar isso como uma interiorização a partir das manifestações da natureza, de Incal ou Deus, ou do Criador, que são externas; como um movimento para o interno, a partir do externo.
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Um breve estudo mostrará que as leis do mundo físico seguem para dentro em busca de sua fonte espiritual; que elas verdadeiramente são prolongamentos uma da outra. Mas, entrando no reino da vibração, cujo guardião do umbral é o som, vemos que a Substância Única vibra em grau dinâmico variante mas definido, e que disso resultam todos os diversos tipos de matéria; em suma, a diferença entre determinadas substâncias, como ouro e prata, ferro e chumbo, açúcar e areia, não é uma diferença de substância mas de grau dinâmico. Estarei te entediando, meu amigo? Tem paciência um pouco mais, pois este é um ponto importante.
Nessa tendência dinâmica, a gradação não é mais uma limitação vaga, pois se a freqüência vibratória variar ligeiramente, tornando-se mais elevada ou menor em qualquer material especial que possa estar sendo observado, a variação será diferente em aparência e em sua natureza química-, assim, específicas mas poderosas vibrações por segundo podem ser conferidas a entidades substanciais apropriadas e a substância resultante (pois a luz é substancial) é, digamos, vermelha*; mas, se a vibração for um oitavo maior, ela será laranja e, se for mais ou menos elevada, então a substância resultante será inevitavelmente um laranja avermelhado ou amarelado, respectivamente.
Ao que parece, portanto, há certas gradações definidas, tão claras quanto marcos de quilometragem, e essas gradações são absolutas. Em outras palavras, a Substância Una não é mantida entre essas definições maiores e sim sobre elas, fato que explica a tendência dos compostos, ou propriedades intermediárias, de se decomporem em elementos definidos ou simples-, os compostos químicos não são tão estáveis quanto as substâncias químicas básicas ou primárias.
* Nota – Diz-se que a luz vermelha ocorre a 395 trilhões de vibrações do “éter” que Phylos chama de a última forma de matéria abaixo da qual a matéria deixa de existir e a mente começa. E a mais alta vibração de luz visível é situada a 790 trilhões. É o que diz a ciência. Mas Phylos diz: “Muitíssimo mais alto do que a elevada faixa púrpura em que a luz deixa de ser ordinariamente visível, a Substância Una vibra novamente de modo visível. Assim como uma corda síncrona de harpa que responde a um Dó grave, por exemplo, tocado numa outra harpa, responde também a todas as notas Dó da escala total, sejam graves, médias ou agudas, assim a Substância Una responde a 831 trilhões e novamente na oitava seguinte, depois na seguinte, tomando-se então visível como a fatal Luz Não-nutrida, chamada em Atla “Maxin” e em  Tchin “Vis Mortuus”.
A moderna “teoria das ondas” segundo a qual som, calor, luz e correlatos são apenas formas de força, está só 50% correta, pois eles são isso, é verdade, mas também são algo mais. Em suma, são tendências da Substância Una por graus específicos da Energia Una, e a não ser pelo fato de que a freqüência dessa propriedade é muito maior no caso da eletricidade do que no chumbo OU no ouro, não há diferença entre essas coisas de aparências tão diversas. Essa é a energia que os rosacruzes denominavam “Fogo” e que permite a entrada naquele misterioso reino da natureza só penetrado pelo taumaturgo, pelo mago adepto. Podes chamar esses estudantes a cuja vontade a natureza se curva obediente – pelo nome que mais te agrade, mas tem em mente que o verdadeiro Mago nunca fala do Eu ou de sua obra, nem seus amigos e conhecidos sabem o que ele é, a não ser que o segredo seja revelado por acidente.
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A essa sociedade pertenceu Aquele cujo comando fez parar o vento e as ondas na tempestuosa Galiléia. Mas Ele não falava de Si Mesmo. Falarei daquela sublime fraternidade em breve. Não é necessário melhor prova de que todas as manifestações variantes são simplesmente variantes da força ódica, o “Fogo” rosacruz, do que esta: ofereça-se resistência a uma corrente elétrica, dessa forma reduzindo-a ou desviando-a contra uma força contrária, e se fará a luz; oponha-se a esta luz (arco) uma obstrução inflamável, e disso resultará uma chama. Assim poderá chegar em breve a descoberta a ser feita pelo mundo científico de que a luz, qualquer luz, do Sol ou de outra fonte, pode ser levada a produzir som -, nessa descoberta repousam algumas das mais espantosas invenções que tua era poderá sonhar em suas visões.
Mas a descoberta básica e primaria desse maravilhoso elo, o primeiro da seqüência, será a maior de todas e como tal anunciada. Isto será correto, pois o fato de ser apenas um desenvolvimento tecnológico reencarnado não diminuirá sua importância para a humanidade nem o crédito de seu descobridor. Ou seja, as verdades do Reino do Pai são eternas; sempre existiram e existirão, e só os descobridores serão algo novo em relação aos fatos, que não serão novos em si, nem novos inclusive para o mundo, mas inéditos apenas para esta época. Poseid sabia que a luz gera o som quando a ela se opõe uma resistência adequada. Sabia que o magnetismo gera a eletricidade da mesma maneira e pela mesma razão.
Assim, a magnetita tem magnetismo; girando-a no campo de um dínamo, cortando a corrente e empilhando-a sobre si mesma, por assim dizer, eis que se desenvolve a eletricidade. Portanto: oponha-se resistência a isso e a luz surge; resista-se mais e vem o calor; e com mais resistência adequada, surge o som, e a energia seguinte aparece como movimento pulsante. No entanto, esses vários processos podem ser objeto de um “curto-circuito” e então todos os fenômenos intermediários serão eliminados. Terei sido cansativo com este discurso? Se o fui, como desconfio, a recompensa está próxima. Os poseidanos descobriram que no reino além do magnetismo existiam outras forças, superiores e mais intensas em pulsação, forças operadas pela mente.
A Mente é do Pai, é a fonte que constantemente cria todas as coisas. Se a perpétua vis a tergo da divina criação parasse por um só instante, nesse mesmo instante o Universo deixaria de existir. Eis que agora verás a sublime beleza do postulado atlante que não faz muito tempo expressei: “Incal malixetho, Axte Incal, axtuce mun”. Pois de Suas alturas, marcando a descida com “cascatas de força” como o rio marca as declividades de seu leito com cataratas, provém esse supremo poder; oh! ele vem por uma longa distância, em seu curso descendente até as cascatas do magnetismo, da eletricidade, da luz, do calor, do som, do movimento -e muito além, onde o leito de Sua divina torrente se torna quase plano -e mostra as pequeninas ondas de diferenciação material que chamas de elementos químicos, insistindo em que existem sessenta e três, quando há apenas Um.
Desse conhecimento vieram todos os maravilhosos triunfos daquela prisca era, e um por um estão emergindo após um longo esquecimento, e no amanhã acordarão em grande número, pedindo para serem descobertos primeiro em número de três ou quatro, e depois em pelotões e companhias e legiões, até que todos os tesouros de Poseid estejam de volta na terra, no ar e no mar. Ó radioso amanhã do tempo e tu, afortunado, que abrirás teus olhos para contemplá-los com todas as suas maravilhas! E não obstante seres tão afortunado, descobrirás que é bem melhor temperar todas as coisas com o espírito e não permitir que a marcha da descoberta física sobrepuje o progresso da alma. Ah, triste será o dia em que o homem se aproxime do arcano tesouro de seu Pai só com seu cego olho físico, pois se com isso ele ganhar o mundo inteiro, de que lhe servirá se perder sua alma?
Atlantis
Tendo obtido essa percepção de um novo reino, se é que o reino que descrevi é novo para ti, permite-me perguntar e pedir tua resposta: como explicas estes dois fenômenos, luz e calor? Eles são difíceis de explicar, pois frio e trevas não são apenas a ausência de luz e calor. Tendo dado a base disso, exponho agora uma nova filosofia: Eu disse que os atlantes reconheciam a Natureza em sua totalidade como a Divindade externalizada. A filosofia atlante afirmava que a força se movia, não em linha reta mas em círculos, para sempre voltar para ela mesma. Se a dinâmica que opera o universo atua em progressão circular, segue-se que um aumento infinito na vibração possível para a Substância Una seria um conceito insustentável. Deve haver um ponto no círculo onde os extremos se tocam e novamente percorrem o mesmo circuito, o que confirmamos existir entre a catodicidade e o magnetismo. Assim como a vibração trouxe a substância até o campo da luz, assim também deve levá-la de volta.
É o que ela faz. E a leva para o que os poseidanos denominaram “Navaz, o Lado-Noite (FEMININO) da Natureza”, onde a dualidade se torna manifesta, com o frio se opondo ao calor, a obscuridade à luz, e onde a polaridade positiva se contrapõe à negativa, e todas as coisas são antípodas. O frio é uma entidade substancial como é o calor, as trevas como é a luz. Existe um prisma de sete cores em cada raio de luz branca; também há um prisma sétuplo de entidades negras na mais negra escuridão -a noite é tão prolífica quanto o dia. O pesquisador poseidano tornou-se, pois, conhecedor de espantosas forças da natureza que ele poderia adaptar aos usos da humanidade.
O segredo tinha sido revelado, sendo a grande descoberta a de que a atração da gravidade, a lei do peso, era contraria e oposta pela “repulsão pela levitação”; que a primeira pertencia ao Lado-Luz da Natureza, e a segunda a Navaz, o Lado-Noite; que a vibração regia a obscuridade e o frio. Assim Poseid, como o antigo Jó, conhecia o caminho para a morada das trevas e para os tesouros do granizo (frio). Por meio dessa sabedoria a Atlântida aprendeu que era possível ajustar o peso (condição positiva) à ausência de peso (condição negativa) com tanto equilíbrio que não se manifestava qualquer repulsão. Essa conquista significou muito. Ela tornou viável a navegação aérea sem asas e sem pesados reservatórios de combustível, pelo uso da repulsão pela levitação opondo-se poderosamente à atração da gravidade.
Que a vibração da Substância Una regia e compunha todos os reinos, foi uma descoberta que resolveu o problema da transmissão de imagens de luz, formas e também som e calor, como o telefone que, como sabes, transmite imagens de som; só que em Poseid não se requeriam cabos, fios ou outra ligação material para esse uso, por maior que fosse a distância, nem aparelhos telefônicos, ou dispositivos para a transmissão de imagens ou condução de calor. Para fazer uma digressão, eu gostaria de dizer que graças ao emprego dessas e outras forças do Lado-Noite os feitos aparentemente mágicos e ocultos dos adeptos, do Homem de Nazaré ao último dos yogues, foram e são realizados. 
E agora, encerro este capítulo dizendo que quando a ciência moderna tiver encontrado o caminho para a aceitação do conhecimento de Poseid que aqui foi esboçado, a natureza física não mais terá recessos ocultos nem mistérios para o pesquisador científico. A terra, o ar, a profundidade dos mares e os espaços inte-restelares não mais terão segredos para o homem que os confronte pelo lado de Deus, como o faziam os poseidanos. Não afirmo que os atlantes sabiam tudo; sabiam muito mais do que foi descoberto até hoje, mas não tudo. A busca por eles iniciada naqueles tempos deverá ser continuada por teu povo, pois tu, América, foste atlante. De uma nação e de outra posso cantar, “Meu país, isso é teu”.
Fim do capítulo 4.
A ciência física como foi compreendida pelos poseidanos de Atlântida, e seus princípios básicos. “Incal Malixetho”, isto é, “Deus é imanente na Natureza”, foi o primeiro princípio. A isto acrescentou-se “Axte Incal Axtuce Mun”, significando “Conhecer Deus é conhecer todos os mundos”.
Eles afirmavam que uma Única Substância e só Uma Energia existiam  – Incalexternalizado e Sua Vida em ação em Seu Corpo, o Universo. Aplicando este princípio ao trabalho científico obtiveram a navegação aérea sem combustível nem velas, fazendo a volta ao globo em um dia, a transmissão de som com a imagem do emissor (Televisão), a transmissão de energia a qualquer distância sem QUALQUER ligação material (fios), a obtenção de metais transmutados por ação elétrica, água tirada da atmosfera, latas e muitas outras técnicas eram comumente usadas (algumas delas já estão sendo redescobertas, mas o leitor deve lembrar que este livro foi terminado em 1886, quando o mundo moderno não as conhecia. O Raio Catódico só foi descoberto em 1896).

CAPÍTULO 5  -  A VIDA EM CAIPHUL 


Minha nova vida trouxe inúmeras novidades para minha mãe e eu, recém-chegados das montanhas a um grande centro urbano. Após ter aprendido mais algumas coisas sobre suas conveniências, logo me harmonizei com a nova situação. Adaptei meu modo de vestir ao estilo citadino-, sendo minha atitude natural reservada, pude dar a impressão de estar à vontade, algo que foi apoiado cada vez mais pelo grau crescente de segurança que fui adquirindo.
A vida de um estudante no ambiente da escola, como aprendi após matricular-me no Xioquithlon, mostrou ser tão enervante para alguém acostumado à total liberdade que me vi obrigado a criar um esquema que
me permitisse fazer o necessário exercício físico. Depois de pensar por algum tempo, e tendo conseguido algumas informações fortuitas, procurei o Superintendente Distrital de Solos e  Agricultura e solicitei que ele me indicasse um pedaço de terra que eu pudesse cultivar, não necessariamente com fins lucrativos mas pela prática contando-lhe que era um estudante.
Atlantida-Platao
O Superintendente, com oficial indiferença, abriu um mapa das terras adjacentes a Caiphul. Ao falar de distâncias, consultei a provável conveniência de meus leitores e usei pés, jardas, milhas e assim por diante, como medidas nominais. Usarei o mesmo método nesta oportunidade,  lembrando que nosso sistema de medição era fundamentado em um princípio similar ao moderno sistema gálico ou métrico. Sua unidade, entretanto, não era a décima milionésima parte do quadrante terrestre. Originava-se, ao invés, no grande Rai das Leis Maxin. Como foi observado anteriormente, esse monarca havia introduzido todas as reformas concebíveis, entre outras a de substituir por um sistema uniforme de mensuração o método anterior desajeitado, embora não totalmente anti-científico.
A circunferência da Terra no equador, tal como fora determinada pelos astrônomos, tinha servido de base, assim como o moderno sistema métrico que usa uma fração da quadratura da divisão polar norte e sul da Terra. Esse padrão, entretanto, não era considerado totalmente confiável; temia-se que algum erro tivesse se insinuado no cálculo original; mesmo que fosse o caso, o bastão de ouro usado como referência teria servido a todas as finalidades, uma vez que era imutável, mas o desejo humano de ser tão perfeito quanto possível era tal que, como eu disse, o medo do erro destruía a confiança. Todo homem que quisesse podia instituir um padrão particular, baseado em qualquer esquema que lhe servisse, um estado de coisas que levou a fraudes deploráveis em todo o império.
O Rai Maxin instituiu um sistema tão admirável que foi imediatamente aceito como autoridade absoluta, especialmente porque ninguém duvidou que tivesse vindo do próprio Incal. O Rai mandou construir um recipiente com um material que sofria a menor expansão ou contração conhecida sob a influência do calor ou do frio. Esse recipiente era, interiormente, um cubo oco perfeito, do tamanho exato da Pedra-Maxin. Um tubo maciço foi feito da mesma substância, com cerca de quatro polegadas de diâmetro interno. No recipiente cúbico foi despejada água destilada na quantidade exatamente suficiente para preenchê-lo, a uma temperatura de 398° Farenheit (203,33º C), de modo a não deixar nenhuma bolha de ar no interior do cubo.
Essa água foi então colocada no tubo, e a mesma temperatura baixa foi cuidadosamente mantida. A altura exata da água era então gravada num bastão feito com o mesmo metal dos dois recipientes (cúbico e tubular). O passo seguinte era aquecer a água a 211,95° Farenheit (99,44º C), sendo este processo e o anterior executados ao nível do mar num dia típico de verão. Com o calor, a água se expandia a um grau apropriado, e o ponto de quase ebulição era marcado como no passo anterior; a diferença marcada no bastão entre as duas linhas gravadas passou a ser a unidade de medição  linear, da qual todas as outras medidas derivaram, sendo a medida do peso calcada no peso do cubo oco cheio de água a 398° F (203,33º C).
Uso a escala termométrica Farenheit porque a escala de Poseid não faria sentido para ti. Perdoa-me a digressão, já que a mesma revela outra fase da vida naquela era há tanto tempo decorrida.  Voltando ao gabinete do Superintendente: tendo aberto um mapa de áreas não arrendadas à minha frente (lembra-te que não havia donos de terras, pois estas pertenciam ao governo) ele voltou a atenção para outras tarefas, deixando-me ali para estudar o assunto com calma. Passando os olhos pelas descrições ali impressas, descobri que um terreno de uns cinco acres, onde havia um antigo pomar com várias espécies de árvores frutíferas, estava disponível e ficava a uma distância aproximada de oito “vens” (quase o mesmo número de milhas) da cidade, mas adentrando a península.
Seu antigo arrendatário tinha contratado os direitos por cinqüenta anos, mas por motivo de sua morte a propriedade linha ficado abandonada e livre para ser ocupada. O fato de que os estudantes freqüentemente tinham pouco dinheiro para suas despesas gerais era levado em conta pelo governo, que em todas as suas negociações com essa classe oferecia condições melhores do que para qualquer outra categoria social. A propriedade em questão me atraiu por sua descrição: “uma área de aproximadamente oito vennines (cinco acres), com uma casa de quatro cômodos, água de fonte canalizada para a casa; um vennine plantado com  flores ornamentais, seis destinados a árvores frutíferas com quinze anos de idade. Condições (com todas as benfeitorias) para estudantes: metade da colheita de frutas todas as flores próprias para perfume que forem cultivadas entregues ao Agente do Departamento de Solos e Agricultura.
Para outros que não sejam estudantes, quatro tekas por mês (dez dólares e vinte e três cents). Prazo mínimo de arrendamento, um ano. Resolvi arrendar o terreno, após verificar que “todas as conveniências” significava transporte por vailx, serviço telefônico (naim) e um instrumento de condução  de calor que economizaria combustível; a energia para ser convertida em calor para cozinhar e outras finalidades seria transmitida pelo “Navaza”, um conjunto de forças materiais que em teus modernos dias se chamam “correntes telúricas”, mas que no caso incluíam também as do éter superior, algo que ainda descobrireis e utilizareis como o fez a Atlântida, pois que todos vós sois poseidanos renascidos. Eu o digo. Já vivestes e viveis  agora de novo. Usastes todas essas forças naquele tempo e dentro de pouco tempo as usareis de novo.
Tendo decidido ficar com a propriedade que me fora mostrada, transmiti minha decisão ao funcionário, que imediatamente me deu um contrato e me ajudou a preenchê-lo corretamente. Apenas como um relance daquela época há muito passada, ofereço o teor do contrato de arrendamento:
“Eu,………………….., idade…………. anos, do sexo………., ocupação …………..,  faço  com o Departamento de Solos um contrato de arrendamento do terreno ………………………… no distrito de ……………. com as seguintes características:……………….., concordo em arrendá-lo pelo prazo de………….anos, com a aprovação do altíssimo Incal.”
Arrendei o terreno por oito anos, uma vez que esperava residir em Caiphul pelo menos por esse período de tempo como aluno do Xioquithlon. Não me pareceu nada desprezível ter a facilidade de me transportar por vailx dali até o Xioquithlon, podendo assim ter o prazer de uma viagem aérea diária. O vailx, como os táxis de hoje, podia ser pedido por telefone e chegava logo depois da chamada.
Era costume que todos os recém-chegados à cidade visitassem o palácio Agacoe e seus jardins tão logo fosse conveniente. Todas as semanas o Rai (imperador) ficava sentado no salão de audiências por duas horas. Nesse período os visitantes apinhavam-se nos corredores e passavam diante do trono em fila dupla. Depois dessa cerimônia, os que quisessem tinham liberdade de passear à vontade pelos jardins, observar o zoológico onde todas as espécies conhecidas de animais eram mantidas, ou entrar no grande museu e na biblioteca real. Para muitos, era um costume agradável passar com freqüência o dia em Agacoe; nessas ocasiões os visitantes traziam seu almoço e faziam um piquenique tranqüilo sob as grandes árvores ao lado do chafariz, do lago ou da catarata.
atlântida-palácio-agacoe
O palácio em Agacoe, no centro de Atlântida, sede do governo.
Devo agora voltar ao tempo em que minha mãe e eu ainda estávamos completamente desacostumados ao comportamento citadino, para que o leitor possa nos acompanhar em nossas descobertas. Iniciemos pela visita ao Agacoe. Um homem que conhecemos por acaso nos guiou até o palácio, numa viatura que partilhamos os três. Carros ainda eram uma novidade para mim e a maneira de dirigi-los tornou-se mais um assunto sobre o qual quis ser informado. Nosso amigo tirou uma moeda da bolsa e inseriu-a na abertura existente numa caixa de vidro em uma extremidade do carro. A moeda tinha de cair de forma a chegar ao fundo de um cilindro de vidro, bem pouco maior em diâmetro do que a moeda. Duas pontas de metal que se projetavam na extremidade inferior do cilindro, mas não se aproximavam uma da outra mais do que um quarto de polegada, encontravam-se no fundo.
Quando a moeda caiu nessas projeções, uma pequena campainha soou; meu amigo então mexeu numa alavanca com uma barra de trava até a camisinha soar. Quando a moeda fechou o circuito ao cair, essa trava automaticamente se deslocou, ao mesmo tempo fazendo soar a campainha como observei acima e destravando a alavanca. Quando esta foi erguida o carro se moveu súbita mas suavemente e saiu da sua estação. O veículo estava preso ao trilho suspenso, e as periferias de suas grandes rodas suspensas eram visíveis, pois, juntamente com seus eixos, elas estavam em sua maior parte ocultas por uma cobertura de metal que se estendia de uma roda a outra; dentro dessa cobertura podia-se ouvir um zumbido baixo e cantante, produzido pelo mecanismo do motor. A ideia de fazer o passageiro servir como engenheiro e condutor era muito boa, já que os processos requeriam tão pouco conhecimento ou trabalho.
Quando deixamos o carro no abrigo abaixo do terraço de Agacoe, nosso amigo recolocou a alavanca no lugar, a sineta tocou de novo, a moeda caiu em uma caixa reforçada em baixo, e o veículo estava pronto para outros passageiros. Na grande entrada, um portal que era uma maravilha arquitetônica, nosso amigo se despediu e logo desapareceu a grande velocidade, dirigindo-se para algum local mais distante do que o que havíamos alcançado. Olhando para a lista colocada acima daquela linha particular, vi que ali estava escrito em caracteres poseidanos: “Aagak mnoiinc sus“, ou seja, “Frente da Cidade e Grande Canal”, isso em uma tradução livre.
Desejando me informar sobre nosso amigável guia, perguntei quem era ele a alguém que tinha observado nossa chegada com interesse. A resposta que recebi foi: 
“Um grande pregador, que prevê a destruição deste continente e conclama todos para que vivam de forma a não temer enfrentar o Uno que, segundo ele, é o Filho de Incal, que virá para a Terra em um dia que não tardará muito. Ele diz que esse Filho de Deus será o Salvador da humanidade, mas que muitos não O reconhecerão até que tenha sido morto. Doze o conhecerão, mas um deles O negará na hora de Seu derradeiro perigo. Na verdade, o assunto é extremamente interessante, apesar de eu não compreendê-lo muito bem; mas como Rai Gwauxln que Incal o proteja! – trata esse pregador com favorecimento e diz a seu respeito, “ele fala verdades” é recebido com atenção por todos.”
Leitor, mesmo naquela época tão remota, a verdade estava surgindo no mundo. Na manhã do novo ciclo já aparecera um raio do brilhante Sol do cristianismo, que ainda não havia iluminado o céu com a plenitude de sua glória. Naquele dia eu havia viajado no carro junto com o primeiro profeta
a anunciar a vinda de osso Senhor Jesus Cristo, exortando os que o ouviam a viverem de modo que suas almas se tornassem um solo virgem para permitir o surgimento do Sol da Verdade, tornando-se preparadas para receber o Mestre quando, após a morte do corpo físico que então possuíam, tivessem voltado do Devachan à terra como almas reencarnadas. A semente estava sendo plantada!
Essa ideia me ocorreu quando, num período posterior, ouvi o profeta falar com apaixonada eloqüência para a assembléia especial de Xioquithli (estudantes) especialmente reunida. Sei que a semente caiu em solo sem cultivo, quando comparo minha vida de agora com as vidas passadas; por muito tempo a semente permaneceu dormente e, enquanto assim ficou, as amargas experiências do pecado e do erro se impuseram e arrasaram minha vida com uma onda de fogo ardente que precisou de outra encarnação para curar as feridas por ela causadas. Enquanto ficamos parados sob o pórtico da grande entrada de Agacoe, nós – montanheses sem sofisticação que éramos! – não podíamos saber, quando um guia uniformizado nos abordou, que o imperador, sentado em seu trono a meia milha de distância, estava naquele mesmo momento perfeitamente informado de nossa aparência e também sabia que palavras usávamos e o tom com que as pronunciávamos. O soldado me perguntou:
  • “E tu de onde vens e qual é o teu nome?”
  • “Chamo-me Zailm Numinos e venho de Querdno Aru.”
  • “Esta visita é a primeira ou estiveste aqui antes?”
  • “Nunca estive aqui, nem minha mãe que está aqui ao meu lado.”
  • “Pois se assim é, providenciarei um acompanhante para ambos. Ele se encontra naquele portão. Mais uma pergunta, por favor.- qual a tua missão em Caiphul?”
  • “Vim para estudar xioq no Inithlon; trouxe minha mãe para cuidar de nossa casa.”
  • “Está bem. Podeis ir.”
Esse colóquio ocorreu no grande portal que dava entrada para o terraço acima. A sentinela estava postada atrás de um portão de bronze e ouro ricamente trabalhado, muito delicado mas suficiente para impedir a entrada de alguém indesejável. Atrás do soldado havia um grande espelho, no pesado anexo do portal. Esse espelho estava suspenso por duas hastes de cobre polido de modo a impedir que tocasse os lados do nicho em qualquer ponto. Se eu tivesse podido olhar atrás dele, teria visto o conjunto de cordas metálicas, bastante parecido com as de piano, junto com outras peças de um mecanismo que naquela ocasião nada diriam a minha mente ainda deseducada.
Como poderia eu sequer suspeitar que aquela chapa de brilhante metal Polido no qual se refletia todo o interior daquela arcada, como se fosse num lago tranqüilo, era um engenhoso mensageiro automático? Que aqueles inúmeros fios de metal vibravam em sintonia, com toda inflexão possível de voz ou outros sons, e que quando falei todos os sons que emiti foram levados velozmente ao longo de correntes-terra naturais (telúricas), próprias do Lado-Noite (feminino) da Natureza e que reagiam ao controle do homem, sendo todas as palavras e sons ouvidos pelo Rai em seu trono?
Nem podia eu sonhar que, simultaneamente, o reflexo de nossa imagem era igualmente transmitido à mesma augusta presença. Mas esses eram os fatos. Uns poucos passos nos levaram até um portão interno feito de chapas de ferro fenestrado que com o simples apertar de um botão se erguia para permitir a passagem por baixo. Nesse ponto encontramos o guia que o guarda havia providenciado. Julguei que seu silêncio era uma indicação de grosseria, pois não sabia que ele tinha recebido ordens, antes de nos aproximarmos, para nos conduzir até a presença real, o que tornava inútil que expressássemos o nosso desejo. Sua observação em voz baixa dizendo “compreendo”,  quando comecei a dizer o que queria, impediu que eu continuasse, pois senti-me ofendido em meu orgulho por sua reserva, tão diferente da liberdade com que meus associados montanheses se comunicavam.
E havia tantas pessoas assim arrogantes na cidade! Resolvi dar-lhe uma lição e ponderei a melhor forma de lhe dizer que eu considerava seus modos totalmente fora de propósito em alguém de sua posição. Eu não podia imaginar que ele já tivesse todas as informações necessárias sobre nós, pois embora a distância entre seu posto e o grande portal não fosse grande, era obviamente longe demais para que nossas palavras ditas em voz baixa pudessem ter sido ouvidas. O insuspeitado  espelho havia feito o seu trabalho, embora não soubéssemos disso. “Vem”, disse o emproado guia, “conduzirei a ti e à tua mãe.”
“Mãe?” – pensei. “Como ele sabe que alguém tão bonita e de aparência tão jovem é minha mãe? Ela poderia ser minha irmã ou minha esposa, entretanto ele a chamou de minha mãe”. A suposta presunção do rapaz me irritou, pois eu tinha orgulho não só da aparência juvenil dela, como também do meu jeito maduro, de que eu gostava; muitas vezes tinham me dito que eu parecia sete ou oito anos mais velho do que realmente era. Se me tivessem chamado a atenção para a tolice desse orgulho por minha aparência, em vez de sentir aquele vago ressentimento eu teria rido achando-o absurdo, deixando-o de lado por ser indigno de alguém como eu, com ambições tão grandiosas.
Naquele caso, isso resultou numa certa rigidez de postura, como reação àquela imaginária arrogância e, em grande parte para meu prejuízo, deixei de prestar total atenção nas vistas e  detalhes que eu deveria ter observado. Embora eu não risse naquela oportunidade por causa da visão obtusa causada por minha ignorância, ri muitas vezes ao rever os registros do passado. Tantos milhares de anos decorridos desde então podem fazer parecer que o riso de que falo é tardio  demais, mas “antes tarde do que nunca” se aplica muito bem a esse fato!
atlândida-vailx-caiphul
Conforme nos foi indicado, sentamo-nos num carro mais leve do que o utilizado nas avenidas públicas e com forma também diferente. Só depois que já estávamos em movimento foi que percebi o quanto era diferente em construção e método de propulsão. Embora eu desejasse parecer bem acostumado a essas novidades, fiz um movimento brusco de espanto, que foi bastante revelador, quando o condutor tocou numa alavanca e o veículo ergueu-se no ar como uma bolha de sabão, endireitou-se e depois subiu seguindo o aclive na direção da parte plana onde se encontrava o palácio.
Ali deixamos o veículo em forma de charuto e entramos em outro carro, este se movendo sobre trilhos. Fizemos um meio-circuito do edifício e depois nos dirigimos em alta velocidade atravessando o platô até chegarmos à boca escancarada de uma das grandes serpentes de pedra. Em vez de subir no mesmo ângulo do corpo da serpente, nosso carro se moveu num plano horizontal. Quando entramos, uma luz se acendeu repentinamente, afastando em um segundo a obscuridade do interior. Após essa agradável surpresa, minha atenção foi atraída para o brilho das paredes que pareciam arder com um fogo vermelho, azul, verde, amarelo e de todas as outras cores, tanto que não consigo encontrar uma comparação mais adequada do que a do Sol batendo nas gotas de orvalho presas a miríades de teias de aranha, nas primeiras horas da manhã.
Esqueci minha irritação e perguntei o que causava aquele deslumbrante efeito; o guia respondeu que os pedreiros tinham feito o acabamento das paredes com um reboco ao qual tinham sido incorporados grãos de vidro colorido. Enquanto nossa admiração ainda nos envolvia, paramos e vi que estávamos no fundo de uma espécie de poço; em volta deste, os trilhos subiam em espiral até aparentemente terminar sob um teto vagamente visível graças à luz que o carro irradiava para cima enquanto subíamos. Quando chegamos perto, um sino tocou agradavelmente duas vezes e imediatamente o teto se abriu silenciosamente para um lado, permitindo a passagem do veículo.
Atrás de nós o poço voltou a se fechar automaticamente e nos vimos num esplêndido aposento, cujas dimensões eram difíceis de calcular devido a muitos biombos suspensos de seda (vermelho vivo) carmim, a cor real, e folhagens que formavam paisagens de selva em miniatura. As flores e as aves canoras, os repuxos e o ar perfumado, mais a sombra fresca após o calor lá de fora, pois não havíamos ficado tempo suficiente no poço-elevador para nos refrescarmos, fizeram o lugar parecer um paraíso. Só se viam partes do teto do grande salão, pois o mesmo estava quase todo cobert0 de trepadeiras de ramos pendentes. Em meio a toda essa harmonia visual, tremulando no ar, acima, abaixo, em toda parte, soavam encantadoras cadências musicais a que os pássaros, como que inspirados por elas, respondiam em coro.
Nessa cena paradisíaca de cor, som e perfume, passando por belas estátuas e graciosas fontes, nosso carro se movia silenciosamente, de um modo que nos dava a ilusão de estarmos parados e de que a visão de todas aquelas delícias é que passava por nós, posicionados no centro. Era a união perfeita de arte e ciência, da qual era gerado aquele lindo sonho, um triunfo da capacidade e do conhecimento humano! Carros se moviam em todas as direções, vindo, indo, parando, com pessoas vestidas como se fosse para uma recepção de gala, com as diferentes cores de seus turbantes mostrando sua categoria social. Poseid, como outras nações daquele e de outros tempos, tinha suas castas, como a governamental, dos literatos, eclesiásticos, artesãos, militares que serviam como polícia e brigada sanitária, e assim por diante.
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As vestimentas de todas as classes seguiam um estilo geral, a não ser pelos turbantes que todos os habitantes usavam e que diferia na cor conforme a casta. O turbante do Soberano, por exemplo, era de seda pura carmim; o dos conselheiros, vermelho-vinho; o dos oficiais menores, rosa pálido. Osturbantes dos militares eram laranja forte para os soldados e cor de limãopara os oficiais. O branco puro era próprio  do sacerdócio, o cinza das classes científica, literária e artística. O azul  distinguia os artesãos, mecânicos e operários, enquanto o verde distinguia todos os que, por qualquer razão – imaturidade ou falta de educação – não gozavam do direito de voto. Apesar de que o sistema de castas era estritamente obedecido, resultava num bem e não num mal, pois não havia rivalidade de classes, porque a dignidade do trabalho era um sentimento tão forte que uma classe não invejava a outra.
Somente os que usavam verde eram discriminados. Os que usavam essa cor por ainda não serem  maiores de idade deixariam de usá-la mais tarde, enquanto que os que não tinham estudos suficientes para obter o direito de usar outra cor, sentiam que o estigma que os acompanhava era uma motivação para alcançarem uma posição mais honrosa na vida. Enquanto eu observava esses vários detalhes que seriam alimento para minha mente, nosso carro foi eficientemente manobrado para evitar uma colisão com o de uma dama que vinha em frente, aparentemente distraída enquanto arrumava uma ponta solta de seu turbante cinza, mostrando, ao fazê-lo, o brilho de um rubi, gema que só a realeza podia usar. Nosso carro chegou a um ponto onde havia grande quantidade de carros e nos conduziu até um segundo aposento.
Quanto à jovem real usando turbante cinza e o rubi. . . Meus pensamentos continuavam com ela! Como era radiosa sua beleza! Foi aquela a primeira vez que vi a Princesa Anzimee. . . mas não  devo me adiantar! O recinto onde entramos era menor do que o que tínhamos acabado de deixar, mas ainda assim estava longe de ser pequeno. Tudo ali tinha a cor carmim, brilhante e cintilante, a não ser por uma elevação no centro. Esta tinha degraus ou pequenos terraços de mármore negro, e a parte superior, que media uns doze pés de lado, sustentava uma espécie de trono de madeira escura, coberto de veludo negro. Devo observar neste ponto que o preto era uma cor representativa , incluindo o simbolismo de todas as cores, mostrando, no caso do trono, que aquele que o ocupava pertencia a todas as classes.
Isso era um fato, porque o Rai Gwauxln não só era soberano e chefe do exército, mas era também um sumo sacerdote, literato, cientista, artista e músico, tendo bom conhecimento ainda das tarefas dos artesãos e maquinistas. Em frente ao corrimão de prata que existia em torno do trono, nosso  veículo parou ao lado da fila em movimento, obedecendo  ao gesto do imperador. O guia nos fez descer e, abrindo um pequeno portão, indicou que devíamos galgar os degraus e chegar nos pés do Rai. Meu coração bateu forte enquanto eu seguia as Instruções, e embora tivesse ficado pálido de emoção, tive auto-controle suficiente para oferecer o braço à minha mãe, para apoiá-la. Acho que nunca andei mais orgulhosamente ereto em toda a minha vida. No alto dos degraus nos ajoelhamos e aguardamos o momento de nos levantarmos, o que não tardou a acontecer. Quando estávamos novamente de pé, o Rai Gwauxln disse suavemente:
-“Zailm, és muito jovem para um estudante tão ambicioso quanto sei
que és.”
-“Se te agrada que eu seja assim, fico contente” – respondi.
-“Já aprendeste o que as escolas primárias têm a ensinar aos jovens?”  Pois isso é necessário para que possas obter admissão ao Inithlon”.
-“Já o fiz, Zo Rai.”
-“Seria agradável para ti, Zailm, contar-me quais estudos são de tua maior   preferência?”
-“Sim, Zo Rai, considero uma elevada honra te dizer. Não escolhi meus estudos com base em minhas preferências, mas não tenho dúvida de que o próprio Incal ordenou qual seria minha escolha, indicando a geologia acima de qualquer outra. Também Ele me concedeu uma disposição natural que aponta para o estudo de línguas e literatura. Não tomei a decisão final, mas tenho uma boa opinião a respeito desses ramos de Xioq. A geologia foi por Mim indicada através de uma experiência incomum.”
-“Tu me interessas, jovem. Entretanto, esta é uma hora de cumprimento  de deveres de estado e não devo negligenciar meu povo que vem prestar homenagem ao seu monarca. Toma este passe e na quarta hora retorna ao portal pelo qual entraste em Agacoe. Serás bem-vindo.”
Tomei o passe que o Rai me oferecera e, ao descer os degraus de mármore, vi que trazia a inscrição: “Presença do Rai. Portador de permissão”Tínhamos trazido um pacote de tâmaras e por isso não precisávamos deixar os jardins para almoçar. Nosso guia voltou a se ocupar de nós e, depois de ser informado de que queríamos ficar no perímetro do palácio, dirigiu nosso carro pelo labirinto de construções mais uma vez, fazendo-nos descer do veículo ao lado de um dos pilares do peristilo. Daquele ponto em que nos separamos do guia, olhei em torno para me certificar de onde ficava a entrada principal; verificando que ficava a oeste, escoltei minha mãe até um banco à sombra de um deodar (árvore) gigante, que em séculos posteriores passou a ser chamado “Cedro do Líbano”.
Num dos seus ramos estava um pássaro imitador que nós chamávamos de “nossuri”, significando  “cantor do luar” por causa do hábito desses encantadores pássaros cor de cinza de trinar sua maravilhosa melodia no ar calmo das noites de luar. Não que eles não cantem de dia; na verdade, a ave estava cantando, mas o fato de chamá-los “nossuri”, de “nosses” (a Lua) e “surada” (eu canto) era um termo ornitológico distintamente poseidano. Na hora aprazada fomos até o local designado e, apresentando o passe, fomos conduzidos a um carro e depois de novamente ascendermos, o guia nos levou a um pequeno aposento luxuosamente decorado. Junto a uma mesa quase oculta por livros estava o Rai, ouvindo uma voz bem modulada que contava as últimas novidades do dia, cujo dono não podia ser visto.
O Rai voltou-se para nós quando fomos anunciados, dispensou o servidor, e nos cumprimentou amavelmente. Então voltou-se para uma caixa parecida de certa forma com o agradável instrumento que chamamos rádio e virou uma chave com um leve ruído. No mesmo instante a voz se calou no meio de uma palavra e fiquei sabendo, ao obedecermos o convite do Rai para nos sentarmos, que eu tinha visto pela primeira vez uma gravação de notícias sobre a qual tinha lido muitas vezes. Na hora que se seguiu relatei a história de minha vida, suas esperanças, tristezas, triunfos e ambições, respondendo as perguntas daquele homem cordial, aparentemente pouco velho, a quem qualquer pessoa viva podia render homenagem sem perda de dignidade, pois sua nobre cortesia mostrava como pode um rei ser um homem e como pode um homem ser um soberano.
Contei como cada acontecimento tinha aumentado meu apetite por um conhecimento cada vez maior. Depois contei as experiências vividas em minha viagem ao pico do Rhok, narrativa que foi interrompida quando mencionei o nome da montanha. “Rhok!” Perguntou o meu imperial ouvinte.
“Estás me dizendo que ascendeu aquela terrível altura, à noite, sozinho, uma montanha que indicam os nossos mapas que afirmam ser inacessível a não ser por vailx?” 
“Provavelmente, Zo Rai, a única rota só é conhecida por uns poucos montanheses; li que a montanha era considerada inacessível, mas. . . “-Hesitei, e o Rai disse rapidamente:
“Sim, fala! Foi para julgar-te que ouvi tua narrativa, pois sei muito bem de tudo que me relataste. Eu poderia ter dito tudo o que tu dissestes, e contar tudo que dirás; desejei ouvir-te para julgar; conheço a  tua história desde que te vi pela primeira vez. Sou um “filho da Solitude” – acrescentou.
Fiquei em silêncio, pois me confundia a ideia de que ele já sabia de tudo. Percebendo isso, o Rai falou:
“Continua, filho. Conta-me tudo; desejo conhecer os fatos pelos teus lábios, pois estou interessado em tua pessoa”.
Então retomei a história interrompida e descrevi minhas homenagens a Incal e a petição por seu auxílio -, sua rápida resposta à minha prece; a erupção do vulcão e o perigo que isso representou para mim. Sobre isto disse o Rai:
“Então testemunhaste pessoalmente aquela explosão das forças terrestres? Fui informado de que ela provocou grandes mudanças locais e que agora há um extenso lago onde não havia lago algum, ao pé do Rhok. Ele mede nove vens”.
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Eu ainda era pouco sofisticado para me sentir curioso em saber se o Rai havia visto a erupção, pois eu não compreendia o significado de ele ser Filho da Solitude e conhecer todas as minhas aventuras, e embora não duvidasse que isso fosse um fato, atribuí esse conhecimento a um agudo julgamento de possibilidades; para aumentar minha falta de sofisticação perguntei ao Rai se ele tinha visto aquelas coisas.  “Jovem inexperiente!” – disse o Monarca sorrindo –“poucas vezes  encontro alguém tão franco! És mesmo um filho das montanhas! Mas temo que não o serás por muito tempo, no ambiente em que ora te encontras! Responderei tua pergunta.
“Nenhuma grande convulsão da natureza pode ocorrer que não seja automaticamente registrada quanto à sua extensão aproximada e à sua localização; uma prova fotográfica de cada parte da localidade afetada é mostrada a cada instante. No caso em questão, tudo que tive a fazer foi ir até o gabinete apropriado, que fica neste edifício, e toda a cena se desenrolou diante de mim tão vividamente quanto deve ter se mostrado para ti, pois pude ver a explosão, e até ouvi-la, por meio do naim. E verdade que ao que vi faltava um elemento que o tornou um pouco mais vivido para ti do que para mim, que foi o do perigo físico; mas como para mim esse perigo não existe – um dia saberás por que – a cena para mim esteve completa e não faltou nenhum elemento que minha presença real tivesse podido acrescentar”.
Fiquei profundamente maravilhado com as instrumentalidades descritas pelo Rai Gwauxln e ponderei com deleite na possibilidade de algum dia conhecê-las pessoalmente e ter acesso a elas. O Rai continuou:
“Dissestes que encontrastes um tesouro de ouro nativo em dois locais separados. Procurastes reaver o que obtivestes antes da erupção? Não? Isso importa pouco. Zailm, é fato conhecido que a ignorância da lei não é uma desculpa válida para desobedecê-la.”
O rosto do Rai tinha se tornado muito grave e senti uma impressão nada agradável.
“Contudo, estou convencido de que nada sabias sobre a violação dos estatutos quando deixaste de comunicar o achado. Por isso não te punirei”. Aqui o imperador fez uma pausa, perdendo-se em pensamentos, enquanto eu, que até então havia ignorado que tivesse feito algo que violasse a lei, empalideci tanto que Gwauxln sorriu de leve e disse:
“Mas aqueles que agora exploram essa mina e os que recebem o pó de ouro e o mineral ali produzido não escaparão. No caso deles é um crime consciente, agravado pelo fato de que eles não desconhecem a lei e ainda por cima te defraudam. De ti exigirei apenas a expiação que possa existir em denunciar seus nomes.”
Obedeci essa ordem, embora pensasse com tristeza nas esposas e filhos daqueles ladrões, que eram inocentes. Deveriam sofrer da mesma forma que os transgressores? O Rai pareceu conhecer meu pensamento. Se não o conheceu, falou como se concordasse comigo, dizendo:
“Esses homens têm esposa, família?”
“Sim, é verdade!” – repliquei com tanto ardor que o monarca novamente sorriu e eu, encorajado, supliquei que fosse clemente por causa dos inocentes.
“Nada sabes sobre nosso sistema de punição, Zailm?”
“Muito pouco, Zo Rai; ouvi dizer que nenhum malfeitor sai das mãos da justiça sem ter se tornado alguém melhor, mas imagino que o tratamento seja bastante severo”.
“Quanto a severidade, a resposta é não. Quanto ao outro ponto, se os homens são reformados após terem errado, para que não incorram novamente em erro, não redundaria isso em vantagem para as esposas e filhos dos criminosos? Mandarei que esses homens sejam trazidos ao tribunal competente e tu testemunharás o processo de reforma. Julgo que depois disso desejaras aprender anatomia e a ciência da punição reformatória, em acréscimo aos teus outros estudos em Xio. Além disso, asseguro-te que em caso algum sofrerás o confisco daquela mina, que será tua propriedade-, se a doares ao tesouro nacional, enquanto fores estudante não te faltará dinheiro. Mais tarde, quando os anos de estudo tiverem passado, se tiveres êxito como aluno, ah!, então te nomearei superintendente da mina. E se te mostrares fiel quanto a isso, farei de ti um senhor de muitas coisas. Tenho dito”.
Rai Gwauxln tocou num botão e imediatamente um serviçal entrou. A ele o Rai incumbiu de nos acompanhar, dizendo: “Que a paz de Incal esteja com ambos”.
Assim terminou a audiência que influenciou o curso dos anos e modelou a grande árvore da vida, fazendo-me sentir orgulhosamente um depositário da confiança de um amigo reverenciado. Esse estado de consciência sempre se mostrou muito potente neste mundo de provas e tentações.

CAPÍTULO 6  -  Nenhum bem pode perecer


Chamo a atenção para um período de tempo abrangendo quase 11.340 anos, anterior ao reinado de Gwauxln, período esse que inclui os principais acontecimentos da história de Poseid. Esse intervalo de tempo, não obstante sua longa duração, foi singularmente isento de guerras destrutivas e, embora não tenha sido totalmente livre de eventos marciais, foi com certeza mais pacífico do que qualquer época mundial de igual extensão que tenha ocorrido nos cento e vinte séculos que abrangem os incidentes desta história.
Atlantida-Platao
Ao iniciar-se o período em questão, os poseidanos, uma numerosa e poderosa raça de montanheses, no máximo semicivilizada mas de físico esplêndido, tinham se precipitado “como lobos” e, em muitos embates sanguinários, finalmente subjugado o povo pastoril das planícies, os atlântidas. A guerra foi longa e feroz, consumindo muitos anos. A admirável bravura das tribos das montanhas encontrou uma reação de quase idêntica força na desesperada coragem de seus primitivos inimigos; um corpo de combatentes lutou por sua vida e, como os sabinos em Roma, pela preservação de suas mulheres da captura por tribos que queriam obter companheiras, enquanto a outra parte lutava com o desejo da conquista, como os romanos, e para conseguir esposas. Foi a estratégia superior que finalmente deu a vitória às hostes poseidanas.
Com o passar do tempo, a miscigenação entre as raças obliterou todas as diferenças e essa união resultou na formação da mais grandiosa nação da Terra. Guerras civis inconseqüentes por várias vezes produziram mudanças na organização política, de forma que Poseid se viu governada por autocratas absolutistas, por oligarcas, por dirigentes masculinos e femininos, finalmente por um sistema monárquico republicano, do qual Rai Gwauxln era a cabeça, quando vivi na Atlântida como Zailm. Gwauxln provinha de uma longa linha de honrados ancestrais e sua casa por várias vezes havia fornecido candidatos valiosos colocados no trono pelo povo, nos sete séculos do atual sistema politico.
Esta é a sinopse da história de Poseid que encontrei num volume retirado da biblioteca de Agacoe. Eu poderia relatar outros fetos, outras características daquele longo período histórico, e mostrar como Poseid fundou grandes colônias nas Américas do Norte (Incalia) e do Sul (Umaur), e nos três grandes remanescentes da Lemúria, da qual a Austrália representa um terço do que sobrou no mundo após o cataclismo que afundou a Atlântida; também poderia falar sobre como a Atlântida fundou certas colônias na  Europanuma época em que a EUROPA OCIDENTAL AINDA não existia, bem como em partes da Ásia (Suernis) e da África (Necropan). Mas não o farei, muito embora faça referências em certos pontos a nossas possessões Umauranas (em Umaur, atual América do Sul), quando essas referências sejam relevantes para o tema desta história.
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Fatigado de ficar até tarde lendo a absorvente história, levantei e saí para a tranqüila rua em aclive onde ficava minha casa, e meus olhos cansados contemplaram um cenário que, à gloriosa luz da Lua, tinha a beleza dos contos de fadas. Na parte baixa da rua, bem perto, havia um lago em miniatura, que embora tivesse a aparência de lago era na realidade um tanque de bom tamanho. Pequeninas praias, seguidas por margens abruptas, cobertas de flores; o canto do nossuri (um pássaro de Atlântida) e as vozes de várias outras aves e animais noturnos misturavam-se ao som macio de água caindo, a voz da cascata que alimentava o pequeno lago, belo como uma joia.
De algum lugar vinha o som de flautas, harpas e violas tocando em harmonia, elevando-se em poderosa cadência ou suavizando-se com sonhadora languidez, conforme a brisa soprava com maior ou menor intensidade. Por sobre isso tudo brilhavam os raios prateados de Nosses, (Lua) redonda como um escudo em sua suave radiosidade, bela, oh! Tão bela! Depois de algum tempo voltei as costas ao lago e olhei para o declive onde algumas pessoas ainda estavam caminhando apesar da hora tardia, a décima quarta desde o início do dia no meridiano. Aqui e ali eu podia ver os raios brancos e luminosos das lâmpadas acesas nas casas dos vizinhos, brilhando e revelando a presença de singulares portas e janelas.
Mas não olhei para essas luzes por muito tempo. Era impossível, com o grande Maxt, a maior torre já construída pelo homem no mundo, elevando-se em perspectiva. Ela parecia subir da própria boca da rua, que formava uma garganta, e nada havia entre ela e eu para atrapalhar a visão. Embora aparentemente estivesse bem próxima, ficava a uma milha de distância de minha morada. Agora neste ano de 1886 d.C, os químicos consideram caro o processo de produção do metal alumínio. Naquele tempo, as forças do Lado (Feminino) Noite tornavam barata a produção de qualquer metal encontrado na natureza, puro ou misturado com outros minerais. 
Tal como poderia ser feito hoje, se apenas tua ciência soubesse o método – e não está longe o dia em que ela descobrirá esse conhecimento – naquele tempo transmutávamos a argila, primeiro elevando sua velocidade atômica para que se transformasse em luz branca palidamente luminosa e depois reduzindo-a, por assim dizer, ao “marco inicial” do alumínio, a um custo que não alcançava o que exige nestes dias modernos a obtenção do ferro de minerais terrosos. As minas de metais brutos como ouro, prata, cobre e tantos outros eram valiosas naquele tempo como o são agora, e não requeriam outro processamento além do derretimento. Mas um metal que podia ser encontrado em qualquer camada de ardósia ou leito de argila era tão barato que se tornou o metal básico para uso geral.
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A gigantesca torre de Maxt fora construída de alumínio. De onde eu estava podia ver sua base, um enorme cubo de alvenaria, depois o corpo redondo com superestrutura de metal sólido que formava a torre propriamente dita, uma coluna de cor branca opaca, afilada em cima, e que eu via iluminada pelos raios lunares. Meu olhar a examinou da base para o alto até descansar no topo, um ápice com quase três mil pés (912 metros) de altura. Fascinado por essa triunfal torre que dominava o cenário, olhei para a ponta que parecia perfurar o céu, sentinela guardando a cidade-jardim, desviando os raios quando o senhor das tempestades estava à solta. Meu pensamento se voltou completamente para sua grandiosidade e majestosa beleza.
“Quantas, quantas vezes, Em dias que já se foram. . . “
Fiquei parado, embevecido com alguma coisa bela da paisagem, ou com algo sublime, obra de Deus ou do homem – Deus no homem! Sempre que assim contemplei, minha alma cantou em louvor e meu hálito foi o sopro da inspiração. Nesse tipo de experiência sempre a alma, do homem ou da fera, dá um passo para a frente. Por mais que uma alma esteja embebida em pecado ou desalento, duas palavras sinônimas, uma inspiração a envolve e a afasta um pouco de sua sordidez, de sua dor, de sua febre. Portanto as glórias e maravilhas da Atlântida não foram em vão. Tu e eu, leitor, as vivenciamos então e antes, no tempo. As glórias daqueles séculos há muito mortos, vistas por nós, encastelaram-se em nossa alma e fizeram-nos em grande parte o que somos, influenciaram nossos atos, afagaram-nos com sua beleza.
Que importa, pois, que as formas do obscuro e misterioso passado tenham sido apagadas e só existam no registro do grande livro da vida, a alma? Sua influência vive perenemente. Não devemos então nos esforçar para que nossos labores sejam nobres, vivendo em alma e espírito, e para que possam ser vistos por nós e por outros assim como eu agora olho para o registro do meu passado morto e no entanto cheio de vida?
É uma grande alegria ter alcançado as eminências do espírito que me permitem ver a história das vidas das quais saí pelo portal da tumba; vidas que agora examino com os olhos de uma personalidade diferente, a personalidade maior (a ALMA) de todasengastada na longa corrente da vida como pérola num fio, ensinando-me que EU SOU EU!
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Algumas dessas pérolas são sem lustro, outras são negras, brancas, rosadas, algumas até são vermelhas! Se as lágrimas pudessem ser adicionadas ao seu número, eu teria mais, tantas mais!. . . pois as brancas são tão poucas, enquanto as cinzentas, negras e vermelhas são tantas. . . Mas minha pérola de maior preço é minha última vida.
É branca e meu Mestre lapidou-a para que fosse cruciforme. Quando Ele a entregou a mim, disse: “Está feito”. Verdadeiramente assim é! Ela marca a junção do finito com o infinito. E assim seu período ficou marcado para sempre, a menos que eu faça outra escolha.  


    CAPÍTULO 7  -  DOMINA  A TI MESMO


    Foi no período do intervalo anual dos estudos que cheguei à capital. Os Xioqua e os Incala participavam dessas férias, a maioria procurava primeiro pelos seus lares, por uma temporada de descanso, mas em geral logo voltavam à Capital para usufruir dos programas especiais de lazer. Alguns, entretanto, dirigiam-se por mar para ( a colônia de) Umaur (América do Sul) ou para Incalia (América do Norte), ou seja, sul ou norte da América, respectivamente, outros se limitavam a visitar as províncias mais distantes da própria Atlântida
    Atlantida-Platao
    Até agora, caro leitor, tiveste de tentar adivinhar que tipo de religião seria o culto a Incal; podes inclusive ter inferido que os poseidanos eram politeístas, por causa das referências que fiz a vários deuses deste ou daquele nome, classe ou grau. Na verdade eu disse que acreditávamos em Incal e o simbolizávamos na forma do Sol. Mas o Sol propriamente dito era apenas um emblema DELE. Afirmar que nós, a despeito de nosso esclarecimento, adorávamos o orbe do dia, séria tão absurdo quanto dizer que os católicos adorassem a cruz do Calvário pelo que ela é como objeto. Em ambos os casos foi o significado a eles atribuído que fez o Sol e a cruz receberem alguma espécie de consideração.
    Os atlantes tinham a tendência de personificar os princípios da natureza e os objetos da terra, do mar e do ar. Isso era resultado do puro amor nacional pela poesia e poderia ser facilmente ligado ao favorecimento com que o gosto popular sempre tratara uma história épico-cronológica de Poseid, na qual os principais homens e mulheres figuravam como heróis e heroínas. Os poderes da natureza como o vento, a chuva, o raio, o calor, o frio e fenômenos afins eram deuses de variados graus, enquanto que o princípio germinativo da vida, o princípio destrutivo da morte e outros grandes mistérios eram caracterizados por deuses maiores.
    Entretanto, todos e cada um desses deuses eram uma extensão do altíssimo Incal. Essa história épica foi contada em versos e rimas constituindo um poema em que todas as linhas denotavam o toque magistral do gênio. Supostamente foi seu autor um Filho da Solitude. Havia um adendo abrangendo acontecimentos e épocas posteriores, que era claramente um trabalho inferior, ao qual se atribuía menos valor que à parte principal do poema.
    Temos como fato que o culto a Incal jamais abrangeu outra coisa além da adoração de Deus como entidade espiritual, e os “deuses” não eram incluídos nos serviços religiosos realizados nos dois domingos de cada semana, ou seja, o primeiro e décimo primeiro dia, pois a semana poseidana tinha onze dias, o mês compreendia três semanas, um ano onze meses, com um ou mais dias acrescentados ao final (como no nosso “ano bissexto”) conforme as exigências do calendário solar, sendo que esses dias a mais eram feriados, como o nosso Dia de Ano Novo atual. O feito de tantos deuses e deusas terem sido aparentemente venerados foi devido à influência nacional da história épica de que falei acima, sendo apenas um hábito mental falar a respeito deles. 
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    Sistema de transporte público e gratuito na capital de Atlântida, Caiphul.
    Em nosso monoteísmo, diferíamos pouco da religião que domina a civilização hebraica; não reconhecíamos a Trindade divina, nem o espírito crístico, nem qualquer Salvador; só reconhecíamos a necessidade de agirmos da melhor maneira que nos fosse possível perante Incal. Considerávamos toda a raça humana filha de Deus, não apenas uma pessoa misteriosamente concebida como Seu único filho.
    Milagres eram uma coisa impossível, pois considerávamos todas as coisas racionalmente passíveis de serem referidas a uma lei inegável. Mas os poseidanos acreditavam que Incal certa vez vivera em forma humana na Terra e depois lançara fora o grosseiro corpo mundano para assumir a forma de espírito livre.
    Naquele tempo ele havia criado a humanidade e, como os poseidanos eram evolucionistas, a palavra “humanidade” também abrangia os animais inferiores. Com o decorrer do tempo, evoluiu o gênero homo na forma de um homem e uma mulher, quando então Incal colocou a mulher espiritualmente acima do homem, posição que ela perdeu pela tentativa de se deleitar com um fruto que crescia na árvore da Vida, no Jardim do Céu. 
    Segundo a lenda, ao agir dessa forma ela desobedeceu a Incal, que havia dito que Seus filhos mais superiores e avançados não deveriam provar daquele fruto, pois quem o fizesse certamente morreria, já que nenhum ser poderia ter a vida imortal e ao mesmo tempo reproduzir sua espécie. A lenda diz: “Eu disse a minhas criaturas, alcançai a perfeição e estudai-a sempre, e tereis a vida eterna. Mas aqueles que comerem dos frutos desta árvore não poderão conter o Eu”.
    A punição que foi aplicada teve uma forma racionalista, já que a finalidade da mulher foi obter prazeres proibidos, o que ela, por não ser instruída, desconhecia. A mão com que ela pegou no fruto não firmou seu aperto e este se abriu, de modo que sua semente caiu na terra e se transformou em pedras de sílex, e o Fruto ainda aderido à árvore tornou-se igual a uma serpente de fogo (n.t. analogia à kundalini), cujo hálito queimou as mãos da culpada. 
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    Sentindo grande dor, ela largou a Árvore da Vida e caiu no chão, jamais se recuperando totalmente dos seus ferimentos. E o homem se tornou superior pelo desenvolvimento de sua natureza, por causa da necessidade que sentiu de preservar a companheira e ele mesmo do frio e de condições semelhantes, trazidas pelas pedras de sílex (A última Era Glacial).
    Tendo caído nessas condições materiais, a reprodução das espécies voltou a ser uma necessidade e a lei da continência, supostamente ordenada por Incal, foi violada. Então a morte (do corpo físico) voltou a ser parte do conhecimento humano e, até que a Palavra, o Verbo, fosse observado, nenhum ser humano conheceria a condição da não morte. 
    “DOMINA A TI MESMO! Desta capacidade de disciplina e autocontrole  depende todo o conhecimento; nenhuma lei oculta é tão grandiosa quanto esta”.
    “Use todas as coisas deste mundo sem abusar de nenhuma”. (I Corintios, 7, 31). Esta era a crença popular sobre a criação da humanidade por Incal. Os sumos sacerdotes seguiam uma religião que era virtualmente a essência, embora por razões óbvias o vulgo desconhecesse esse fato. A data dessa ocorrência mítica era teologicamente explicada como tendo acontecido pelo menos mil séculos antes (100 mil anos), e algumas autoridades a remontavam a um passado ainda mais distante. Não se supunha que Incal, o Pai da Vida, punisse Seus filhos, mas que apenas havia feito leis de natureza auto-executora, que eram fruto de Sua vontade imanente, e se alguém transgredisse essas leis seria inexoravelmente punido pela natureza, sendo inadmissível colocar uma causa em movimento sem o conseqüente efeito.
    Se a causa fosse boa, bom também seria o seu efeito. Nisso eles estavam absolutamente corretos. Nenhum mediador pode evitar que soframos os resultados de nossas más ações.* A nação poseidana acreditava na existência de um céu de bons efeitos para os que pusessem boas causas em movimento, e que havia uma região cheia de maus efeitos para os maus; os dois locais eram adjacentes, e os que não fossem nem bons nem maus, supostamente viveriam num território intermediário, por assim dizer. Entretanto, ambas essas condições do pós-vida estavam inseridas na Terra das Sombras, pois poderíamos traduzir literalmente o termo “Navazzamin” como “O país das almas que partiram”. *NOTANão confundir “compensar” com “remir”. Cristo remiu, nós devemos fazer compensação. 
    Embora a religião de Incal fosse baseada em causa e efeito, havia uma leve incoerência na crença mais ou menos prevalecente de que Ele supostamente recompensaria os muito bons. Hoje, amigo, estás no umbral de um novo desabrochar. A religião de hoje ainda está tingida por esse conceito de um Criador onipotente mas antropomórfico, o que é legado de uma antigüidade já morta. Tu vives nos anos derradeiros de um antigo Ciclo Humano, o Sexto. Embora seja minha decisão não explicar o que isso significa, desejo-te a paz de Deus.
    Mas direi que o novo conceito da Causa Eterna dessa humanidade será mais elevado, sublime, puro e amplo, uma maior aproximação do ilimitado, do que qualquer outro que eras há muito passadas já sonharam. Cristo efetivamente vive e está entre os Seus, que em breve o conhecerão como nenhum homem exotérico já o fez. Conhecendo-o, terão ciência das coisas do Pai e as farão, porque está escrito: “Faço a vontade de meu Pai”.
    umhabitante-cruzabertaGLORIA IN EXCELSIS!
    Em breve a fé será conhecimento. A crença será irmã gêmea da ciência e o Verbo arderá como um Sol de novo significado, pois a verdadeira religião significa “Eu faço a união”.
    RESSURJAM CHRISTOS!
    A Igreja (católica) Exotérica fechou as extremidades de Sua Cruz. Por isso ela é
    exotérica e nunca será esotérica até que abra os braços do Caminho de “Quatro Vias”. Abri os olhos e os ouvidos! “Não fecheis os braços de Minha Cruz”




    CAPÍTULO 8 - UMA GRAVE PROFECIA

    Era a primeira hora do primeiro dia do quinto mês após eu ter começado a freqüentar o Xioquithlon; era Bazix, conseqüentemente, a trigésima semana do ano, cujo fim se aproximava, restando Apenas três semanas para terminar o ano de 11.160 a.C. 
    Como o leitor já verificou, o dia para os poseidanos começava no meridiano e, portanto, a primeira hora do dia era contada do meio-dia à uma da tarde. A contar dessa hora, no último dia de cada semana até o final da vigésima quarta hora do dia seguinte, o primeiro dia da semana subseqüente, todos os negócios ficavam suspensos e o tempo era voltado para o culto religioso, uma observância que era imposta pela mais rígida de todas as leis, o costume. Hoje, em 1.886 d.C, existem os que argumentam que se um homem se empenha a semana inteira num trabalho sedentário, deve no domingo buscar a recreação natural, dedicando-se ociosamente a esportes atléticos ou a fatigantes passeios. Mas eu digo que assim como o corpo é a externalidade da alma, assim como é a alma também será o corpo.
    Portanto, se a alma é de Deus, então voltar ao Pai com a freqüência possível é ser recriado, é obter repouso, renovação. Talvez não precise ser entre quatro paredes; melhor entre Suas obras (em meio à natureza), mas sempre com o pensamento natural, sem artificialidade, voltado principalmente para Ele. Por isso hoje continuo a favorecer a observância do Sabado, seja ele o sétimo ou qualquer outro dia da semana que atualmente tem sete dias, ou o décimo primeiro e o primeiro, como era na Atlântida.
    Contudo, não farei de minhas preferências um argumento, apenas fazendo uma reasserção da bem conhecida lei psicológica segundo a qual um dia periódico de descanso é necessário para tua saúde, a felicidade e a espiritualidade. Na Atlântida, toda pessoa era livre para usar as horas da manhã, mesmo no décimo primeiro dia, da maneira que lhe fosse mais agradável, trabalhando ou se divertindo. Mas na primeira hora, um sino enorme e de bela tonalidade badalava com um som intenso e reverberante duas vezes, fazia uma pausa, e depois soava mais quatro vezes. Nesse momento cessavam todas as ocupações e se iniciava o culto religioso. No dia seguinte, o grande sino tocava novamente; outros sinos soavam em sincronia em toda a extensão do grande continente: O mesmo acontecia nas populosas colônias de Umaur e Incalia, com a diferença de tempo cuidadosamente calculada.
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    Havia um homem no grande templo de Incal em Caiphul que cumpria esse dever solene e docemente. Então o tempo de culto terminava e o resto do Inclut (primeiro dia) era dedicado a recreações de toda sorte. Não deve minha descrição levar-te a pensar que esse culto fosse de natureza tristonha ou severa; não o era, nem avançava pela noite adentro, mas só até o momento em que todas as luzes permitidas naquela oportunidade se tornassem da cor vermelho-carmim pela fusão da velocidade atômica da força ódica, formando uma combinação dos elementos da luz e do estrôncio, realizada nas estações ódicas. 
    Por volta da terceira hora após ter terminado o Dia-Solar, um acontecimento peculiar aconteceu em minha vida em Poseid. Caminhando vagarosamente para casa e não tendo ainda chamado um vailx, preferindo andar, tomado da sonhadora calma produzida por influência da música ouvida num concerto público realizado nos jardins de Agacoe, encontrei um homem velho de nobre porte, também a pé. Eu o havia visto muitas vezes em ocasiões anteriores e sabia ser um príncipe por causa do turbante cor de vinho. Ao vê-lo, na oportunidade de que falo, a direção de meu pensamento foi alterada e resolvi não ir diretamente para casa e permanecer  na cidade por mais algum tempo, talvez toda a noite.
    No momento em que tomei essa decisão, o homem sorriu, mas  continuou a caminhar. Notei então que, embora parecesse mesmo o príncipe que eu tinha em mente, não se tratava da mesma pessoa; eu me iludira com certeza, pois seu turbante era branco puro, e não cor de vinho. Senti que ele tinha desejado falar comido mas por alguma razão não o fizera. Se eu estivesse por ali em uma hora mais tardia, poderia novamente encontrá-lo e descobrir o que ele tinha para me dizer. Ponderando nisso entrei num café localizado num dos túneis em forma de caverna, onde uma avenida transpunha uma colina; pedi o almoço e fiquei esperando ser servido. Nesse meio tempo entrou no local um xioquene, ou estudante, com quem eu havia
    feito amizade, para fazer o mesmo que eu.
    Almoçamos juntos e terminada a refeição fomos até o canal, onde tomamos um barco que era alugado por um homem pobre que ganhava a vida alugando esses barcos para quem gostasse dessa distração raramente utilizada por ser o vailx o transporte comum. Havia uma brisa fresca e navegamos na direção do oceano pela saída formada pelo Nomis, o grande rio que fazia um circuito completo da cidade, atravessando o fosso, ou canal, e depois desembocando no mar. Por causa desse demorado passeio não consegui voltar à avenida a não ser depois da caída da noite. Quando cheguei perto do ponto onde havia acontecido meu encontro com o desconhecido de turbante branco, desta vez de carro, vi sua imponente figura imóvel à luz brilhante da lua tropical.
    Eu tinha desejado bastante re-vê-lo, e desta vez inclinei a cabeça numa saudação cortês. Diante disso o estranho disse: “Um momento! Eu gostaria de falar contigo, jovem, em particular.” Quase mecanicamente fiz o carro parar, obedecendo seu gesto indicando que eu descesse e, posicionando a alavanca para que o veículo se movesse à mesma velocidade de uma caminhada lenta, deixei que continuasse a se mover, sabendo que se ninguém o utilizasse logo chegaria a uma estação de parada onde se deteria automaticamente. Quando me vi diante do sacerdote, que é o que eu pensava que fosse, ele disse:
    “Teu nome, pelo que julgo, é Zailm Numinos?”
    “Sim, é esse o meu nome.”
    “Eu te vi muitas vezes e estou informado a teu respeito. Tens uma louvável vontade de te aprimorares e alcançares elevadas honrarias entre os homens. Ainda és um menino, mas a bom caminho de teres êxito como homem, no sentido comum dado ao termo “êxito”. Um menino consciencioso entretanto, olhado com simpatia pelo soberano. Serás bem sucedido e chegarás a posições de elevada honra e abundância, e terás a consideração de todos os teus semelhantes. Contudo, não viverás o período completo concedido ao homem na Terra. Em tua breve vida conhecerás o amor. Vivenciarás a mais pura afeição que o homem é capaz de sentir por uma mulher. Mas não obstante tudo isso, esse não será um amor plenamente realizado neste período de existência”.
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    “E amarás novamente e derramaras lágrimas por causa disso. Farás algum bem ao mundo mas, ah, bastante mal também. E por causa de um destino sombrio, muitas tristezas te advirão. Por tua causa, alguém sofrerá profunda infelicidade e angústia; terás de pagar caro por isso e não estarás livre até que o tenhas feito. Entretanto, eis que nesta vida não te será exigido muito. Quando menos pensares em pecado, tropeçarás nele e cometerás uma grave ofensa que representará uma sina perseguidora e inexorável. Mesmo agora, nos teus dias de inocência, já palmilhas o caminho do destino”.
    Ah, assim é. Certa vez chegaste perto de compreender a tua morte, que é apenas a menor parte do que te acontecerá; mas acordaste e fugiste das cavernas da montanha ardente para a segurança.Não obstante, pássaras finalmente para Navazzamin, o inundo das almas que daqui partem e -atenta! – eu te digo que perecerás numa caverna. E eu serei o último ser vivo em quem o teu olhar de poseidano pousará. Não terei então a aparência que tenho agora e não saberás que sou aquele que dará fim ao malfeitor que te terá atraído insidiosamente para a tua destruição. Tenho dito. Que a paz esteja contigo.”
    Muito me espantei ao ouvir essas palavras, julgando a princípio que quem as pronunciara tivesse fugido do Nossinithlon (literalmente a “Casa dos Lunáticos” ou pessoas loucas), isso a despeito das circunstâncias em que nos havíamos encontrado. Mas à medida que ele falava eu me convencia de que tinha feito um julgamento falso. Finalmente, confuso, olhei para o chão, não sabendo o que pensar, tomado por um indefinível temor. Quando ele se calou e me desejou paz, levantei os olhos para fitá-lo de frente e, para meu espanto, não vi mais viva alma, pois eu estava sozinho na grande praça com uma fonte no centro, cujo jato parecia praia líquida à luz da Lua. Olhei para todos os lados. Teria sonhado? Certamente não. Seriam as palavras do misterioso estranho verdadeiras ou falsas? O tempo satisfará tua curiosidade, amigo, assim como satisfez a minha.


    CAPÍTULO 9 - A CURA DO CRIME
    Nos quatro anos que se seguiram ao meu estranho encontro com o homem alto e ereto, de cabelos brancos, que havia profetizado acontecimentos a mim ligados, estes se sucederam em harmonia com sua predição. Nunca mais nos havíamos visto, a não ser uma vez, antes de minha morte. Antes de continuar, devo lembrar e em seguida tirar de cena meus sócios na mina de ouro e o homem que comprou o ouro sabendo que esse ato era ilegal.
    Vários meses tinham se passado desde minha entrevista com o Rai Gwauxln em seus aposentos particulares, quando um jovem usando um turbante de cor laranja com um alfinete de ouro e uma granada nele engastada, o que o distinguia como um guarda do serviço imperial, entrou na sala de geologia do Xioquithlon e, dirigindo-se ao instrutor-chefe, falou com ele em voz baixa. Batendo na mesa para chamar a atenção dos noventa ou mais alunos que assistiam à aula sobre minerais, o chefe perguntou se um Xioquene de nome Zailm Numinos estava presente.
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    Levantei em resposta à pergunta, apresentando-me. “Vem até aqui.” Os outros Xioquene observaram com interesse quando me dirigi à frente da sala, não sem alguma agitação pois eu sabia muito bem qual serviço era representado pelo mensageiro, e o instrutor falara num tom severo nada agradável. “Este mensageiro deseja que o acompanhes à presença do Rai, pois este assim ordenou. Ele está nas Tribunas da Corte Criminal e precisa de ti como testemunha.” Lembrando o que o Rai havia dito, fiquei mais confiante pela importância das palavras a mim dirigidas e, já não estando tão apreensivo, fiz o que pediam. Chegando à Corte dos Tribunos, vi meus sócios na mina de ouro ali, sob custódia, junto com o comprador do ouro que também havia sido indiciado.
    O juiz estava sentado no divã judicial em sua plataforma elevada e ao seu lado estava sentado, com simples dignidade, o Rai Gwauxln, Rai (o rei) da maior nação da Terra de então, apesar de sua posição, ele observava respeitosamente o feito de que o juiz tinha a precedência enquanto na corte. Vários espectadores estavam sentados nos assentos providenciados para o público no auditório. Só podia ser dado um veredito relativo aos contraventores: “Culpados”. Esta decisão foi tomada rapidamente e os réus admitiram esse fato. Imediatamente um dos funcionários judiciais levou os prisioneiros a outra parte do edifício onde havia um aposento bem iluminado, aparelhado com vários instrumentos portáteis e fixos. Ele foi acompanhado por todos os presentes.
    Uma cadeira com encosto para a cabeça, com presilhas, e outros encostos com presilhas e tiras de couro para prender os membros e o corpo do ocupante estava no centro da sala. Um guarda fez sentar um dos prisioneiros e prendeu-o firmemente na cadeira. Tendo sido tomada essa medida preliminar, um Xioqa se aproximou, trazendo nas mãos um pequeno instrumento que percebi ser de natureza magnética, por sua aparência. Ele colocou os dois pólos do mesmo nas mãos do homem condenado e, após uma breve manipulação, ouviu-se um som leve e ronronante. No mesmo instante os olhos do prisioneiro se fecharam e sua aparência denotou um profundo estupor.
    Na realidade, ele fora magneticamente anestesiado. Então o operador apalpou cuidadosamente todo o crânio do homem inconsciente; concluído o exame, ordenou ao seu atendente que raspasse todo o cabelo. Quando essa ordem tinha sido cumprida, ele fez uma marca azul na superfície raspada, na frente e acima das orelhas. Continuando a apalpar, escreveu o numeral poseidano 2, acima e um pouco atrás de cada orelha. Feito isso, voltou a atenção para os espectadores mas, ouvindo as palavras do Rai Gwauxln, fez uma pausa antes do discurso que se propusera fazer aos presentes e me chamou para o seu lado, para onde me dirigi, deixando o local onde estava, além da grade. Então ele falou:
    “Neste prisioneiro, verifiquei que as faculdades dominantes e mais positivas são as que marquei um e dois; o número um é um ambicioso desejo de ter propriedades, e sua disposição é fazer todas as coisas secretamente, como se pode ver pela proeminência excessiva dos órgãos do sigilo. Como o crânio não se alongasse muito para cima, mas é bastante largo entre as orelhas, no número dois, concluo que temos aqui um indivíduo muito ganancioso a quem faltam consciência e espiritualidade e, por conseqüência, uma natureza moral, quase que totalmente. Como ele também possui um temperamento muito destrutivo, temos aqui uma pessoa muito perigosa e me surpreende que ainda não tenha vindo a este lugar para ser corrigido.
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    Por que alguém hesitaria em se submeter a um tratamento corretivo voluntário, causa-me estranheza. Suponho que seja algo explicável pela teoria de que alguém que esteja no baixo plano moral deste pobre homem é incapaz de perceber a vantagem de se encontrar num plano superior, mas é capaz de ver as vantagens imediatas de seguir métodos execrâveis para atingir seus objetivos. Em resumo, trata-se de um homem que não hesitaria em cometer um assassinato se isso lhe desse um ganho imediato, sem ter ideia das conseqüências futuras de seu ato. Isto é verdade, Zo Rai?” “Sim”, respondeu o Rai. “Tendo meu diagnóstico deste caso”, continuou o Xioqa, “sido confirmado por tão alta autoridade, farei a aplicação da cura”.
    Ele chamou um atendente, que se aproximou com outro aparelho magnético sobre rodas, contido numa pesada caixa de metal, tendo colocado o mesmo em atividade de forma satisfatória. O Xioqa aplicou seu pólo positivo no ponto marcado pelo número um na cabeça do prisioneiro e o outro pólo na nuca. Então pegou seu marcador de tempo e colocou-o sobre a caixa de metal do instrumento, perto de um dial cujo ponteiro ele ajustou. Houve silêncio geral, a não ser por conversas em voz muito baixa em várias partes da sala, durante a meia hora seguinte. Ao fim desse período o Xioqa se levantou de sua cadeira e mudou o pólo positivo para o lado oposto da cabeça do réu, onde estava a duplicata do número um.
    Houve outra meia hora de espera silenciosa, só interrompida pela saída de alguns espectadores e entrada de outros. Quando a segunda meia hora passou, o operador passou o pólo para o local marcado “dois”. Desta vez só meia hora foi dada para os dois lados da cabeça. O imperador tinha me ordenado que ficasse na sala. Ele só havia ficado alguns instantes após o início da operação que não tinha novidades para ele. Ao final da sessão com o primeiro homem, este foi tirado da anestesia pela influência do aparelho magnético, cuja operação foi invertida numa segunda aplicação. O Xioqa fez uma preleção sobre o tema da operação enquanto o primeiro paciente era removido do local. Ele disse o seguinte ao grupo de espectadores que tinha aumentado bastante:
    “Vistes o tratamento das qualidades mentais que tendiam, por sua proeminência, a distorcer sua natureza moral apenas parcialmente desenvolvida. O processo consistiu em atrofiar parcialmente os canais vasculares que irrigam a parte do cérebro onde se localizam os órgãos da ganância e da destruição. Mas dito isso, deveis observar que a alma é superior ao cérebro físico e é na alma, na natureza do homem, que residem essas tendências criminosas (sendo o cérebro e outros órgãos apenas a sede da expressão psíquica) – o escritório administrativo, por assim dizer. Portanto, a mera hipnotização desse homem não cumpriria nosso propósito.
    No estado hipnótico há uma atração para dentro, e os vasos sangüíneos do cérebro se contraem e ficam parcialmente sem sangue; podem, inclusive, tornar-se fatalmente esvaziados. Esta arte é verdadeiramente muito perigosa. Mas o efeito oposto é produzido no afaísmo (o equivalente poseidano de “mesmerismo”). O cérebro fica cheio de sangue e a reversão do instrumento inicia o processo (hipnótico) afáico. Nesse momento a mente do operador pode assumir o controle da mente do paciente e sugerir à alma pecadora uma permanente cessação do pecado. Este homem foi tratado dessa forma, duplamente, porque o suprimento de sangue foi parcialmente interrompido para os órgãos que sediam sua fraqueza, mas também, através de minha vontade, comuniquei à alma que deixasse de errar e incumbi-a de executar um trabalho que terá uma ação contrária.
    Ele poderá se sentir adoentado por alguns dias, mas suas tendências pecaminosas terão desaparecido. É preciso uma mente superior, que tenha cometido erros de diferentes espécies, para termos um malfeitor bem-sucedido, e onde estiver a natureza mais baixa, principalmente uma natureza sexual pervertida, estará o criminoso. Na Atlântida ele não tem saída, pois, se uma pessoa denota essa disposição, o Estado a toma pela mão e age sobre os órgãos pertinentes. Mas creio que não é necessário que eu me alongue mais sobre este assunto.”  Tendo o primeiro homem sido levado para receber cuidados, o segundo dos meus sócios foi colocado na cadeira.
    O exame do desenvolvimento cerebral revelou que ele era mais um fraco que um malvado: um prevaricador habitual e com tendências libertinas; tinha um crânio que estava colocado principalmente para trás e para cima das orelhas. Não acho necessário descrever seu tratamento, que seguiu as mesmas linhas do anterior; a sugestão (hipnótica) mesmérica foi o principal método de cura. Ao voltar para casa aquela tarde, decidi acrescentar a ciência da frenologia profilática ao meu currículo. E assim fiz. 
    Pela prática do conhecimento dos homens, que então eu adquiri, eu interferi com o carma de não poucos indivíduos, mas, como o resultado provou, a interferência não foi em nenhum, prejudicial, de modo que eu não tenho para responder por nenhum dano provocado. De vez em quando eu desejei que eu mesmo tivesse me submetido para tratamento nas mãos do Estado, por que se isso tivesse sido feito, no mínimo, eu teria evitado o cometimento de erros que causaram muita miséria mais tarde, para mim, e para os outros, por mim provocado.
    Que eu não o tivesse feito, foi assim,  melhor, mas também porque ninguém pode de qualquer forma que seja, fugir das suas próprias responsabilidades com seu personagem, com o carma de todas as suas encarnações anteriores. Pois ter assim eu mesmo me submetido à correção teria sido uma evasão do calvário (do carma e consequente aprendizado) que me esperava, uma espécie de tentativa covarde semelhante ao ato de um suicida que procura evitar problemas na terra praticando o suicídio, e que em cada vida assim terminada não se escapa de nada, nem um jota ou til da lei de Deus. Em vez disso, ele acumula suas montanhas de misérias e penalidades mais alto e prolonga através do karma inexorável, em mais outras encarnações terrenas, a sua própria angústia.
    Assim é com os que morrem pela auto-destruição (suicídio); mas aqueles que morrem por causas inevitáveis involuntariamente, não são visitados por essas sanções. Então, os culpados Poseidanos que não poderiam evitar o tratamento foram sabiamente beneficiados, enquanto que para mim a submissão voluntária teria semeado dentes de dragão para o meu caminho futuro. As penalidades, aos que observam a Lei, não preocupam aqueles que a conhecem e, assim sabendo, se submetem à vontade de Deus, a aceitam, enfrentam e aprendem com o seu próprio carma.

    CAPÍTULO 10 - REALIZAÇÃO

    O governo estava acostumado a fiscalizar sistematicamente os mais proeminentes Xioqueni (estudantes) a quem concedia bolsas de estudo, mas a supervisão não era ostensiva; na verdade mal era percebida pelos que estavam sob sua paternal vigilância. Aqueles que além de serem inteligentes e estudiosos, aproximavam-se do final do seu termo colegial, eram admitidos às sessões do Conselho dos Noventa que não fossem de caráter executivo ou secreto. Havia alguns Xioqueni favoritos especiais que, mediante votos estritos, não eram excluídos de qualquer reunião dos conselheiros. Nenhum dos muitos milhares de estudantes deixava de dar valor ao menor «desses privilégios, pois além da honra que eles conferiam, as lições sobre a arte de governar que eles aprendiam representavam uma incalculável vantagem em sua formação. 
    Na segunda metade de meu quarto ano de freqüência à escola, procurou-me um certo Príncipe Menax que desejava saber se eu aceitaria o cargo de Secretário dos Registros, o qual me daria a oportunidade de me familiarizar com todos os detalhes do governo de Poseid. Ele assim falou: “Este é um privilégio verdadeiramente importante, que estou feliz em te oferecer porque tens capacidade de desempenhá-lo de modo a satisfazer o conselho. Esse cargo te colocará em estreito contato com o Rai e todos os príncipes, e também te dará certo grau de autoridade. Que me respondes?” 
    “Príncipe Menax, estou ciente de que esta é uma grande honra. Mas permite-me perguntar por que ofereces tão grande oportunidade a alguém que se considera um quase completo estranho para ti?” “Porque, Zailm Numinos, decidi que és digno e agora te dou ocasião para provar isso. Não és desconhecido para mim, embora eu o seja para ti; tenho confiança em ti; não queres me provar que essa confiança está bem fundamentada?” “Certamente.” “Pois então ergue tua mão direita para o fulgurante Incal e por esse símbolo sublime declara que em caso algum revelarás coisa alguma que se passe nas sessões secretas, e nenhum dos atos acontecidos no Salão Nobre das Leis.”
    Fiz o voto e, ao fazê-lo, fiquei obrigado por um juramento inviolável aos olhos de todos os poseidanos. Dessa forma tornei-me um dos sete secretários não eleitos e não oficiais, que eram incumbidos de escrever os relatórios especiais e cuidar de muitos documentos de estado importantes. Certamente não era pequena essa distinção conferida a um dentre nove mil
    Xioqueni, um homem ainda sem direito a voto numa nação de cerca de trezentos milhões de habitantes. Se por algum motivo eu pudesse atribuir esse fato ao meu mérito, nem por isso me consideraria melhor que cem dos meus colegas. O oferecimento se deveu em grande parte à minha popularidade pessoal junto aos poderosos, uma popularidade, entretanto, que eu não teria se não tivesse demonstrado em todos os campos a mesma sólida determinação que havia regido minhas ações no solitário pico do (Pitak) Rhok, a grande montanha.
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    O Príncipe Menax continuou, dizendo: “Gostaria de ver-te esta noite no meu palácio, se te for conveniente, pois tenho algumas coisas para te dizer. Agradar-me-ia provar teu erro em acreditar que me és desconhecido, apenas porque és um entre os muitos estudantes Xioqueni, cada um deles perseguindo igualmente o conhecimento. Partiu de mim e não do teu Xioql (preceptor-chefe), como imaginaste, o convite para assistires às sessões do conselho ordinário. Os Astiki (príncipes de estado) estão sempre muito interessados nos Xioqueni de maior mérito; por isso tantos pequenos deveres te foram dados a cumprir. Mas nada mais direi agora, para não atrapalhar tuas aulas. Lembra-te da hora marcada, a oitava.” 
    Menax exercia o mais alto cargo ministerial de todos os Astiki, pois era o primeiro-ministro e, como tal, principal consultor do Rai. Minha autoestima aumentou quando percebi que era contemplado com tão elevado favorecimento, mas isso me encheu de gratidão e não de convencimento. Tratava-se realmente de auto-estima, não de vaidade. Embora aquela não fosse minha primeira visita ao palácio desse príncipe, de forma alguma eu poderia dizer que estava familiarizado com o interior de seu astikithlon. Enrolando o meu melhor turbante verde em volta da cabeça e fechando-o com um alfinete que trazia uma pedra de quartzo cinzento com veios verdes como azinhavre nele engastada, o que denotava minha categoria social, entrei no naim e chamei um vailx citadino, como chamarias um taci.
    O veículo logo chegou; embora pequeno, era amplo o bastante para acomodar dois, três e até quatro passageiros. Dando boa noite à minha mãe, logo me pus a caminho. O condutor me deixou sossegado e eu fiquei ouvindo a furiosa arremetida das torrentes de chuva que faziam a noite inclemente ao  extremo. O palácio de Menax não ficava distante do cais interior do canal, no ponto mais próximo entre este e minha casa suburbana. A distância era de dez milhas e por isto a viagem aérea de lá até o canal durou o mesmo tempo que durou para o vailx encostar no amplo piso de mármore da estação, arrastando um pouco o fundo, anunciando assim a sua chegada.
    Um sentinela se aproximou para saber o que eu queria e, tendo sido atendido, chamou um servidor para me escoltar até onde estava o príncipe Menax. Vários funcionários categorizados do séquito do príncipe estavam no grande aposento, laboriosamente ocupados em fazer nada em particular, ocupação na qual estavam sendo auxiliados por várias damas que residiam no palácio. O Príncipe Menax estava deitado num diva colocado na frente de uma grade cheia de pedaços de alguma substância refratária aquecida pela força universal. 
    No tempo que levou para o atendente me conduzir à presença do príncipe e anunciar minha chegada, tive oportunidade de notar um grupo de funcionários e senhoras reunidos no espaço ao redor de uma mulher de tão grande graça e beleza que nem sua evidente tristeza e aflição nem a distância entre a entrada e o canto onde ela estava sentada conseguiram ocultá-la completamente. Suas roupas, suas feições e sua tez mostravam que ela não era filha de Poseid, pois não tinha os olhos e cabelos escuros, e a pele clara mas distintamente acobreada. Aquela mulher triste e aflita era ao contrário disso tudo, pelo que minha rápida vista de olhos pôde discernir na distância que nos separava.
    O príncipe Menax disse, saudando-me: “Sê bem-vindo. Senta-te. A noite está tempestuosa mas eu te conheço bem. Como prometeste vir, viestes.” Ele ficou em silêncio por algum tempo, olhando fixamente para a grelha que ardia, e então perguntou: “Zailm, tu participarás na competição em Xio nos nove dias reservados para o exame anual dos Xioqueni?” “Tenho essa intenção, meu Astika.” “Tens o direito de adiar o exame até o último ano do seu termo.” “É assim para todos os Xioqueni?” “Aprovo enfaticamente tua determinação. Eu mesmo agi assim, quando era estudante. Espero que sejas aprovado, para que te alegres com teu êxito, embora isso não diminua o número de teus anos de estudo. Mas o que acontecerá após o exame?
    Terás um mês para fazer o que tiveres vontade. Quisera eu ter trinta e três dias de descanso dos meus deveres!” Menax fez uma pausa meditativa e continuou: “Zailm, tens algum plano especial para estas férias?” “Nenhum, meu príncipe.” “Nenhum. . . Muito bem. Agradar-te-ia me prestar um serviço, indo para um país distante para fazer-me esta gentileza? Após completares esse rápido dever, poderás ficar lá pelo tempo que quiseres, ou ir para onde a fantasia te chame.” Não vi razão para me negar a fazer o que ele queria, e como o serviço solicitado me levou a uma terra até aqui só de passagem mencionada, considero justificado prefaciar meu relato sobre aquela longínqua viagem com uma descrição de Suernis, hoje chamada como ÍNDIA, e de Necropan ou hoje o EGITO, as mais civilizadas nações que não estavam sob a supremacia E O GOVERNO de Poseid.
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    Quando as nações tentam tornar a religião absolutamente dominante em seus assuntos, o resultado não pode deixar de ser marcado pelo desastre. A política teocrática dos israelitas é uma ilustração disso e, como o leitor deve ter percebido há muito, Suernis (ÍNDIA) e Necropan (EGITO) foram exemplos ainda mais antigos na história do mundo. A razão disso não é a de que a religião seja um fracasso; a força deste registro de minha vida deve transmitir a verdade de que julgo nada haver de melhor do que a religião pura, sem máculas. Não, a razão por que uma teocracia bem-sucedida não pode durar é que a atenção de seus dirigentes deve ser dada às coisas espirituais para que o espiritual tenha êxito, e as coisas do Reino de Deus nunca podem ser as coisas da terra. Pelo menos não até que o homem esteja totalmente desenvolvido em seu sexto ou o princípio psíquico e tenha se purificado de toda mancha de animalidade, pelo fogo do Espírito.
    Suernis e Necropan tinham uma civilização que hoje percebo ter sido tão adiantada quanto a nossa, embora diferente. Mas, porque não tinha quase nenhum ponto em comum com a de Poseid, o povo deste país a considerava com certo desprezo quando a ela se referia entre seus iguais. Entretanto, os poseidanos eram muito respeitosos em seus contatos com aqueles povos, por razões que ficarão claras no decorrer da narrativa. 
    As diferenças entre essas duas civilizações contemporâneas se encontravam no fato de que Poseid tendia para o cultivo das artes mecânicas (desenvolvimento e endeusamento da TECNOLOGIA), para as ciências ligadas às coisas materiais, e se contentava em aceitar sem questionamento a religião de seus ancestrais, enquanto que os suernis e necropanos davam grande importância a tudo que fosse oculto e tivesse significação religiosa – princípios verdadeiramente práticos, pois as leis ocultas têm influência sobre a materialidade – mas descuidavam-se dos assuntos materiais, salvo quanto à adequada manutenção da existência física.
    Sua regra de vida estava resumida no princípio de não tomar grande conhecimento da existência presente e preocupar-se com o futuro. O princípio vital de Poseid era estender seu domínio sobre todas as coisas naturais (e se possível sobre todo o planeta). Havia os que filosofavam a respeito do espírito; eram os teóricos poseidanos, que desenhavam o quadro do destino da Atlântida. Eles apontavam para o fato de que nossos esplêndidos triunfos materiais, nossas artes, ciências e progresso, dependiam absolutamente da utilização do poder oculto extraído do Lado-Noite (feminino) da Natureza. Este fato era comparado com a verdade de que os misteriosos poderes dos suernis e necropanos deviam sua existência ao mesmo reino oculto, concluindo que com o tempo também daríamos menos importância ao progresso material e empregaríamos nossa energia em estudos ocultos.
    Seus presságios (sobe o futuro de Atlântida-Poseid), por conseguinte, eram extremamente sombrios; mas, embora o povo os ouvisse com respeito, a incapacidade desses profetas para sugerir uma solução os tornava objeto de um secreto desprezo, a algum grau. Qualquer um que encontre defeitos no estado de coisas existente e se mostre obviamente incapaz de oferecer um substitutivo superior, não pode deixar de ser publicamente ridicularizado.  Nós, poseidanos, sabíamos que as duas misteriosas nações de além-mar possuíam capacidades que virtualmente superava de longe nossas realizações, como o nosso poder de navegar pelo espaço aéreo e nas profundezas das águas, nossos velozes carros, nossas embarcações submarinas.
    Não, eles não se jactavam de tais conveniências, pois não precisavam delas para levar adiante sua existência, não tendo o desejo, como supúnhamos, de terem tais aparelhos, talvez nosso desprezo fosse mais uma afetação que uma realidade, pois em nossos momentos de pensar mais sobriamente nós reconhecíamos sua supremacia com grande admiração. Mas com quem falaríamos, quem veríamos e ouviríamos, sendo vistos e ouvidos, no desejo de nos comunicarmos a qualquer distância e sem fios, por meio das correntes magnéticas do globo? Verdadeiramente, nunca conhecemos a dor da separação de nossos amigos; podíamos atender as demandas do comércio e transportar nossos exércitos em tempo de guerra em um dia para qualquer lugar do mundo, tudo isso enquanto nossos dispositivos mecânicos e elétricos estivessem disponíveis.
    Mas de que valia toda essa esplêndida capacidade? Se um dos mais competentes Xioqueni fosse encerrado numa masmorra, todo o seu conhecimento seria nulo; privado de todos os implementos e meios costumeiros, ele não poderia ter a esperança de ver, ouvir ou escapar sem ajuda externa. Suas maravilhosas capacidades dependiam das criações de sua inteligência. Não era assim no caso dos suernis e necropanos. Nenhum poseidano saberia a maneira de aprisionar qualquer desses cidadãos. Se um suerni ou necropano fosse encerrado numa masmorra, simplesmente se levantaria e iria embora como Paulo de Tarso; podia ver e ouvir a qualquer distância, sem o naim (telefone); andar entre inimigos sem ser visto. De que valiam então nossos triunfos tecnológicos diante desses poderosos suernis e necropanos?
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    Que utilidade teriam nossos instrumentos de guerra contra esse tipo de povo, se um só de seus homens, olhando com olhos em que queimava a terrível luz do poder da vontade e usando contra nós as forças invisíveis do Lado- Noite (feminino da Natureza), poderia nos destruir como o faz o hálito ardente do fogo com as folhas verdes num campo incendiado? Nossos mísseis teriam alguma utilidade nesse caso? Se a pessoa contra quem fossem atirados poderia impedir seu trajeto rápido como um raio, fazendo-os cair a seus pés como a lanugem do cardo? E os explosivos mais poderosos que a nitroglicerina, atirados do céu de vailxes planando várias milhas acima no domo azul do firmamento? Seriam inúteis, pois o inimigo, com seu presciente olhar e perfeito controle de forças do Lado-Noite que desconhecíamos, poderia deter o petardo em sua queda e, ao invés de sofrer danos, poderia aniquilar a aeronave vailx e toda a sua tripulação.
    A criança que já se queimou teme o fogo, pois em tempos passados tínhamos tentado conquistar aquelas nações, com desastroso fracasso (n.t. Fato histórico narrado no épico Ramayana, que narra um conflito entre Suerni (ÍNDIA) e Atlântida). Eles só se preocuparam em repelir nossos ataques, e tendo sido vitoriosos, deixaram-nos partir em paz. (Foram os anos se transformando em séculos e milênios, e a nossa atitude também se tornou apenas defensiva, deixando de ser ofensiva e, por causa dessa mudança de comportamento por parte de Poseid, desenvolveram-se relações amigáveis entre as três nações. 
    A Atlântida tinha finalmente aprendido uma boa parte do segredo do uso de forças magnéticas para destruir inimigos, dispensando mísseis, projéteis e explosivos como meios de defesa. Ainda assim, o conhecimento de Suerni (ÍNDIA) continuava a ser muito superior. Superior porque nossas armas magnéticas só espalhavam a morte numa área restrita, próxima ao operador; as deles atingiam qualquer ponto desejado por eles, por mais longínquo que fosse. Nossas armas destruíam indiscriminadamente todas as coisas existentes no alvo – inanimadas e animadas – todas as pessoas, amigas ou inimigas; animais e árvores, tudo ficava condenado. O poder das armas deles era controlado, atingindo o âmago da força oponente, e não destruía vidas desnecessariamente; aliás, não causava danos ao inimigo em geral, só aos OFICIAIS, GENERAIS e GOVERNANTES do lado contrário.
    Eu havia tomado conhecimento desses fatos relativos aos suernis muito tempo antes. O Príncipe Menax tinha me pedido para cumprir uma missão junto àquele povo. Eu nunca tinha visitado Suerni e, como tinha o desejo de fazê-lo, fiquei satisfeito porque esse desejo seria gratificado. Após consentir em atender o pedido, perguntei ao príncipe qual seria a missão com as seguintes palavras: “Se o Astika disser a este filho o que deseja, satisfará sua crescente curiosidade”. “Eu o farei”, respondeu o príncipe. “Quero mandar um presente ao Rai de Suerni como retribuição de certas dádivas enviadas por ele ao Rai Gwauxln.
    Embora tenhamos poucas dúvidas de que essas dádivas foram enviadas para nos induzir a aceitar cento e quarenta mulheres, prisioneiras do Rai Ernon de Suern, não podemos aceitar que eles de certa forma nos imponham uma espécie de suborno; embora as mulheres possam receber permissão para ficar ou ir para onde quiserem a não ser para onde os suernis as proíbam, decidimos considerar as jóias e o ouro que eles nos deram como um presente, e retribuí-lo adequadamente. Assim resolveu o conselho em assembléia. Parece que essas mulheres são membros de certas poderosas forças de imprudentes invasores cujo país se encontra a oeste de Suern. Esses grupos insensatamente guerrearam contra a terrível Suern.
    Eles nunca tinham experimentado, nem visto outros experimentarem, a ira e o PODER com que Incal reveste Seus filhos de Suern, uma ira que devasta os inimigos como a foice sega o trigo. Ora, Ernon tem um país fértil, e esses selvagens ignorantes ambicionavam possuí-lo, e por isso declararam guerra a Ernon. A isso Ernon respondeu que não aceitava; que aqueles que o atacassem com arcos e viessem vestidos de couraças seriam enfrentados por ele e muito se arrependeriam, visto que Jeohvah como os Suerni preferiam chamar Aquele que denominamos Incal, o protegeria e ao povo de Suern, sem luta e sem derramamento de sangue. Diante disso os bárbaros responderam com linguagem arrogante, declarando que invadiriam aquela terra e destruiriam seu povo pela espada.
    Então eles reuniram um grande exército, de muitos milhares de combatentes e acompanhantes, os quais, liderados por um destemido Astiki (Príncipe), arremeteram para o leste vindos pelo sul, para devastar o reino de Suern. Mas espera – há alguém nesta sala que sem dúvida poderá te dizer mais e melhor do que eu. Mailzis!” – disse ele ao seu criado particular – “traz à minha presença aquela estrangeira de pele clara”. Mailzis obedeceu e a estrangeira que eu tinha visto ao entrar no salão do príncipe levantou-se com uma atitude leve e graciosa que despertou minha admiração. Alisando a roupa calmamente, sem absolutamente se comportar como alguém que obedece a ordem de um superior, aproximou-se de Menax.
    Levantando-se com deferência, o príncipe disse: “Senhora, farieis a gentileza de repetir o que narraste ao meu soberano? Sei que tua história é muitíssimo interessante”. Enquanto ouvia essas observações a estrangeira não olhou para o príncipe e sim para mim. Seus olhos tinham se fixado em meu rosto, não ousadamente mas com profunda atenção, embora sem ter consciência da fixidez de seu olhar. Seja como for, havia nele um tão grande poder magnético que tive de desviar os olhos, estranhamente intimidado, sentindo que continuava a ser observado a despeito disso. Ocorreu-me que  ter respondido na língua poseidana indicava que ela possuía uma boa educação. 
    “Se te for agradável, Astika, que eu o faça, então será agradável para mim também”, disse ela. “Terei prazer em repetir a história para o jovem a quem tratas com favor. Entretanto preferiria que tua jovem filha não permanecesse aqui” – disse ela a meia-voz, com um olhar de antagonismo para Anzimee que estava sentada perto de nós, aparentemente ocupada em ler um livro, mas sem fazê-lo realmente, em minha opinião. O laivo de ciúme na voz da estrangeira não foi percebido por Menax, mas o foi por Anzimee, que se levantou e deixou o salão.
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    Desgostou-me esse ato e me ressenti do que o causara, o que a Saldu (n.t. da tribo Saldeia, que mais tarde na história humana seria conhecida como Caldeus) percebeu de imediato, mordendo o lábio, vexada. “Não deve ser agradável ficar de pé; senta-te aqui à minha direita e tu, Zailm, muda de lugar e senta à minha esquerda”, disse Menax, voltando a se acomodar no divã. Quando todos estavam devidamente sentados, mostramo-nos prontos para ouvir a narrativa. Nesse momento Mailzis, o criado, aproximou-se respeitosamente e, quando perguntado sobre o que desejava, disse: “É da vontade de teus oficiais e das senhoras do astikithlon também ouvir o relato.”
    “Concedido; podes também conduzir o naim até aqui, perto de nós, para que o escriba dos Registros anote tudo.” Tendo recebido permissão, os peticionários logo estavam acomodados à nossa volta, alguns em assentos baixos e os mais altos oficiais que tinham mais familiaridade com o príncipe se estenderam de lado, apoiando-se no cotovelo, nos ricos tapetes de veludo que cobriam o chão, na frente de Menax. (…)

    Atlântida – Um Habitante de Dois Planetas
    Livro: “Um Habitante de Dois Planetas”, de Philos, o Tibetano – Livro Primeiro,  CAPITULO XI – Narração da Princesa Lolix sobre uma demonstração de poder ESPIRITUAL Mágico em Suern (Índia pré dilúvio)

    CAPITULO 11- O RELATO da Princesa Lolix
    “Mailzis”, disse o príncipe, “sirva-nos vinho com especiarias”- Enquanto apreciávamos a refrescante bebida, que não era fermentada, passamos a ouvir a emocionante narrativa que se segue: “Creio que tendes conhecimento de meu país natal, visto que fazeis comércio com a nação Sald (n.t. o povo SALDEU, que muito mais tarde se chamariam Caldeus, depois do Dilúvio, quando se mudaram para a Mesopotâmia). Deveis igualmente ter sido informados a respeito do grande exército enviado por nosso governante contra a terrível Suern. Ah! Como sabíamos pouco sobre aquele povo!” -exclamou a bela mulher, apertando as pequenas e delicadas mãos numa agonia de aterrorizada retrospecção.
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    “Cento e sessenta mil guerreiros tinha meu pai sob seu comando. Metade desse número era formado por acompanhantes. Nossa cavalaria era o nosso orgulho, com seus veteranos experimentados e tão sedentos de sangue! Eram esplêndidas as nossas armas, cintilantes espadas e lanças. . . Oh, era um maravilhoso conjunto de bravos homens!” Diante dessa exaltação a armas tão primitivas os ouvintes não conseguiram reprimir um sorriso. Por um momento isto pareceu desconcertar a princesa, mas não por muito tempo, pois ela continuou: “Dessa poderosa e esplêndida maneira – ah, como eu amo o poder! -avançamos saqueando tudo pelo caminho que nos levava à cidade de Suern.
    Quando chegamos perto, depois de muitos dias, não pudemos vê-la, pois se encontrava numa parte baixa da região. Não obstante, estávamos seguros de obter uma vitória fácil, pois alguns prisioneiros que havíamos feito nos informaram que Suern não tinha muralhas nem defesas semelhantes, e que nenhum exército se reuniria para nos combater. Efetivamente, em parte alguma tínhamos visto cidades muradas no país de Suern, nem havíamos encontrado resistência; por isso não derramáramos sangue, contentando-nos em torturar os cativos para nos divertirmos, libertando-os em seguida.” “Que horror!” – murmurou Menax entre dentes. “Bárbaros sem coração!” “Que dissestes, meu senhor?” – perguntou imediatamente a jovem. “Nada, senhora, nada! Apenas pensei alto na esplêndida marcha das hostes de Sald.”
    Embora parecesse duvidar um pouco da exatidão dessas palavras, a Saldu continuou seu relato. “Tendo chegado a Suern, como eu estava dizendo, detivemos nossa marcha à beira de um desfiladeiro pouco profundo mas bastante largo, onde o Rai de Suern, pouco sábio e pouco belicoso, tinha construído sua capital, e assim mandamos um mensageiro oferecendo-lhe condições de guerra favoráveis. Como resposta, veio até nós um velho desarmado e sozinho, acompanhando nosso mensageiro. Ele era alto, ereto e tinha um porte tão cheio de dignidade que dava prazer contemplá-lo. Em verdade, ele pareceria o próprio poder encarnado! Eu deveria odiá-lo, mas não pude deixar de amá-lo! Se ele fosse mais jovem, eu o cortejaria para fazer dele meu companheiro.”
    Diante dessa inesperada observação olhamos com espanto e outras emoções para a narradora, e ouvimos Menax perguntar: “Astiku, estou ouvindo bem? Cortejar um homem? É costume de teu povo permitir que a mulher tome a iniciativa? Pensei ser versado nos costumes de todas as nações antigas e modernas, mas desconhecia este fato. Entretanto, é de se esperar coisas estranhas de. . . bem, de uma raça que só tem números para ser reconhecida por um povo como o de Poseid.” Ela retrucou, “Por que não ser franco, Zo Astika? Por que não dizer o que pensas, que nações civilizadas como a tua consideram uma raça como a Saldu inferior a ponto de seus costumes serem desconhecidos para ti?”
    O Príncipe Menax corou fortemente com envergonhado embaraço, pois não estava acostumado a prevaricações, e replicou: “Admito que a franqueza é melhor, mas não queria ferir teus sentimentos, Astika.” Com uma risada musical, divertida, a Astiki disse: “Zo Astika, permita-me dizer que em Sald ambos os sexos têm liberdade para cortejar seu escolhido ou escolhida. Por que não? Julgo sensato, penso. Seguirei nosso costume nesse sentido quando tiver oportunidade. Meu escolhido deverá agradar a vista e ter a coragem do leão do deserto -, sim, do deserto de onde veio o grande leão, no continente de Suernota. Sim, eu o farei se a oportunidade surgir” – reiterou a jovem com um pequeno suspiro.
    Por fim ela retomou o fio da história, com voz desanimada e triste.- “O Astika meu pai, chefe de nossos exércitos, disse ao garboso velho: “Que diz teu governante?” “Ele diz: “Que o estrangeiro parta antes que minha ira desperte, pois atenta que eu o destruirei se não me obedecer! Terrível é a minha ira”. “O que tu dizes! E o teu exército? Não vi nenhum sinal dele” – disse meu pai com o sorriso de um veterano a quem oferecem uma resistência desprezível. “Chefe” – disse o enviado em tom baixo e sério -“será melhor que partas. Eu sou esse Rai e também sozinho sou o meu exército. Abandona essa terra agora mesmo, pois em breve isto será impossível. Vai embora, eu te imploro!”
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    “Tu és o Rai? Homem imprudente! Digo que quando o Sol tiver alcançado o próximo signo tua coragem não te salvará, a menos que retornes agora mesmo e reúnas teu exército. Ou então mandarei tua cabeça para o teu povo. Só te dou esta opção. Após o prazo dado, atacarei e saquearei a cidade. Não precisas temer pela tua segurança pessoal neste momento. Eu não posso ferir um inimigo desarmado! Vai em paz. De manhã atacarei teu exército. Devo ter um oponente digno.” “Tens em mim um oponente à altura. Nunca ouviste falar de Suerni? Sim? E não acreditaste! Oh, é verdade! Vais embora, eu te peço, enquanto podes fazê-lo com segurança!” “Homem seu juízo! – disse o chefe. “Este é o teu ultimato? Que seja! Afasta-te! Não irei embora; avançarei”.
    Então o chefe chamou os capitães das legiões de soldados e comandou: “Para a frente, marchem e conquistem!” “Reconsidera tua ordem por um instante. Desejo fazer uma pergunta” – disse o Rai de Suern. “Respeitando esse pedido, nossos homens, que haviam se enfileirado e apresentado armas, detiveram-se em posição de descanso. À frente das fileiras do exército de Sald, postada na pequena colina de onde se via a capital suerni, estava a fina flor de nossa hoste militar. Eram veteranos leais e experientes, homens de gigantesca estatura, em número de dois mil oficiais, líderes dos homens menos experimentados. Jamais esquecerei seu garbo, jamais. Tão fortes; eram a própria juba do nosso poderoso leão, cada homem capaz de carregar um boi nas costas.
    O Sol batia em suas lanças criando uma gloriosa fogueira de luz. Olhando para esses homens o Suerni disse: “Astika, não são estes os teus melhores homens?” “Sim.” “São estes de quem me disseram que torturaram meu povo por mero divertimento? E chamaram as vítimas de covardes, dizendo que homens que não resistem devem morrer e efetivamente mataram alguns de meus súditos?” “Não o nego” – disse meu pai. “Acaso pensas, Astika, que isso estava em teu direito? Não são dignos da morte homens que se vangloriam por derramar sangue?” “Possivelmente, mas que importa isso? Por acaso pensas em punir-me por esses atos?” – disse meu pai, com desprezo. “Sim, Astika. E depois partirás?” “Ora se o farei! Que boa brincadeira! Só que não estou com disposição para bravatas!” “Então te recusas a fazer a retirada, embora eu diga que permanecer é morrer?”
    “Acaba com tuas tolices! Elas estão me cansando.” “Astika, sinto muito. Que seja como queres. Foste avisado de que devias partir. Ouviste falar do poder de Suern e não acreditastes. Pois agora prova dele!” “Com estas palavras o Rai fez um gesto amplo, apontando o dedo indicador para onde se encontrava o nosso maior orgulho – aqueles maravilhosos dois mil guerreiros. Seus lábios se moveram e mal consegui ouvir as palavras que ele murmurou-. “Senhor, fortalece minha fraqueza. Assim morre o culpado renitente.” “O que aconteceu então encheu todos os espectadores de tamanho horror, atingiu tanto sua superstição, que por cinco minutos não se ouviu qualquer som. De todos aqueles guerreiros veteranos, nenhum estava vivo.
    A um gesto do velho mago Rai de Suerni suas cabeças penderam para a frente, as mãos soltaram as lanças e eles caíram no solo como bêbados. Nenhum som, a não ser o de sua queda; nenhuma reação; a morte chegara para eles como acontece com quem morre do coração. Ah, que assustador poder tens, Suernis!”
    E o Anjo da Morte estendeu suas asas sobre o mal E soprou fogo na face do inimigo ao passar.”
    Senaqueribe era desconhecido naqueles tempos antediluvianos; a princesa saldu nunca ouvira o poema, mas nós o conhecemos, meu leitor, tu e eu, e isso é o bastante, pois a história repete-se a si mesmo. Ao descrever a ação do Rai de Suern, a princesa tinha ficado de pé, simulando ao mesmo tempo o gesto fatal do Rai Ernon de Suern.
    Sua mímica foi tão convincente que o grupo de ouvintes à nossa esquerda se encolheu involuntariamente quando o braço dela passou por sobre suas cabeças. A Saldu percebeu isso e seus lábios se crisparam com desprezo. “Covardes!” – murmurou ela. Um poseidano ouviu e seu rosto corou quando ele disse: “Não, Astiku, não somos covardes! Considera nosso involuntário encolhimento um cumprimento aos teus poderes de comuni-tação.” Ela sorriu e disse: “Talvez seja assim”. Em seguida, abatida pela lembrança da aterradora força do poder invocado por Ernon, força que até a orgulhosa Atlântida temia, sentou-se molemente na cadeira, chorando.
    Philos-o-Tibetano
    Philos (Zailm) o Tibetano
    Um pouco de vinho refez-lhe as forças e a narração foi retomada. “Depois do ominoso silêncio que se abateu sobre os que haviam testemunhado a horrível visão, as mulheres, viúvas e filhas dos mais altos oficiais que haviam morrido, começaram a gritar aflitivamente. Muitos de nossos homens, assim que conseguiram compreender que as histórias que tinham ouvido e desacreditado não eram boatos inconseqüentes, caíram por terra numa agonia de intenso terror. Ah! Naqueles momentos poderíeis ter ouvido súplicas a todos os deuses grandes e pequenos, os deuses em quem nosso povo confiava. Ha, ha!” – riu a princesa, amarga e desdenhosamente -“apelando para deuses de madeira, barro e metal, pedindo proteção contra aquele imenso poder! Bah! Como não posso viver em Suern por ter sido banida, também não viveria outra vez em minha terra natal!
    Não quero mais saber de um povo que idolatra objetos insensíveis e os desafia. Não, Astika” – disse ela em resposta a uma pergunta de Menax -“nunca adorei ídolos; a maioria dos meus concidadãos o faz, mas nem todos. Não sou apóstata, mas reverencio o poder. Eu deveria odiar Ernon de Suern, mas não o odeio. Na verdade, se me fosse permitido, viveria em sua presença e idolatraria sua maravilhosa força que leva a morte aos seus inimigos com apenas um gesto de suas mãos. Como não me é permitido isso, prefiro permanecer entre teu povo que é uma grande raça, embora não se iguale à de Suern, é melhor e mais poderosa que a minha; oh, muito, muito mais!”
    “Meu pai era inteligente demais para imaginar que aquilo fosse um truque tramado por um povo astuto e compreendeu, por aquela amarga lição, que a reputação atribuída a Suern pelos viajantes não era invenção de desocupados. Mas não se acovardou diante do Rai, pois tinha o espírito altaneiro demais para isso. Enquanto olhávamos estarrecidos para aquela terrível cena de morte, outra coisa não menos apavorante aconteceu. Nós, os sobreviventes, toda a hoste menos os dois mil, estávamos colocados entre os mortos e o rio a oeste da cidade. O Rai Ernon baixou a cabeça e orou – que profundo temor esse ato causou em nosso povo! Ouvi-o dizer: “Senhor, eu te suplico, concede o que teu servo pede!” “Então, vi as vítimas se levantarem uma por uma, tomando cada uma sua lança, escudo e elmo. Em seguida, em esquadras irregulares marcharam em nossa direção, em minha direção.
    Oh, meu Deus! Passaram por nós na direção do rio. Percebi que seus olhos estavam semicerrados e opacos; o movimento de seus membros era mecânico; eles caminhavam como se estivessem presos por fios e suas armaduras ressoavam fazendo um barulho fantasmagórico… Então, um por um, os esquadrões foram direto para o rio, onde entraram na corrente, mais e mais, até que as águas se fecharam sobre as suas cabeças, e eles se foram para sempre, alimentando os crocodilos que já rugiam e rosnavam sobre suas presas para baixo do fluxo das águas do grande rio Gunja (n.t. hoje o rio Ganges).
    Ninguém havia para liderá-los, não havia ninguém para carregar seus corpos; cada um deles entrando no rio como se ainda estivesse vivo, embora estivessem todos mortos; aquela soturna procisão, a mil passos de distância, completou a horrível sensação de medo e desesperado terror que se apossou do grande exército, que então e finalmente debandou horrorizado, deixando tudo para trás. Em breve só um punhado de soldados fiéis havia restado. Eles haviam ficado com seu comandante e estado-maior, prontos a partilhar com eles a morte a que estavam certos de que seriam submetidos. Também permaneceram ali algumas mulheres.
    O Rai Ernon então falou: “Não te disse que devias partir ou que eu te puniria? Estás pronto para partir agora? Olha teu exército em fuga! Essa debandada não terá bom termo; milhares nunca mais verão Sald porque perecerão no caminho, contudo uma boa parte chegará ao seu lar. Mas tu nunca mais irás para casa, nem tu nem tuas mulheres. Contudo, elas não ficarão em minha terra, nem na terra delas, mas num país estranho para onde enviarei-as.” “Aquele antes altivo e agora humilhado soldado, meu pai, colocou um joelho em terra diante do Rai, e disse:
    “Poderoso Rai, o que farias com essas inocentes mulheres? Disseste que meus guerreiros eram culpados; eu o admito e não me isento de culpa. Mas estas minhas mulheres não feriram homem algum. Tuas palavras me fizeram acreditar que a justiça é o teu princípio guia; teus atos dizem outra coisa, pois quando podias abater todos nós, fizeste um exemplo de uns poucos culpados. Imploro-te, portanto, que tenhas misericórdia das mulheres e talvez dos meus oficiais.”
    “Terei clemência por teus oficiais, que te são fiéis, embora só esperem a morte como recompensa. Ordena-lhes que partam com o que sobre de teu exército. Eles não estão acostumados a cuidar das necessidades do corpo; portanto, com toda certeza perecerão, a menos que eu os salve. Tendo o poder, eu o usarei com misericórdia. Nenhum morrerá no caminho; nenhum passará fome e sede, nem sofrerá de qualquer doença. Ó Senhor! No caminho para casa nenhum se perderá, embora nenhum precise comer. Em volta deles as feras se agitarão e, ainda que estejam desarmados, nenhum animal lhes fará mal, pois o espírito do Senhor com eles, será seu abrigo e salvaguarda. Sim, Ele fará muito mais, pois entrará em suas almas para que esses que agora são guerreiros um dia se tornem Seus profetas, e elevarão teu povo e farão com que o Seu nome seja conhecido em todas as eras; serão uma raça de homens educados, de astrólogos, falando de Deus por suas obras celestiais.
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    Mas ainda assim chegará um dia daqui a cerca de seis mil anos, tempo que os homens da futura Caldeia tentarão mais uma vez prevalecer sobre o meu povo e novamente falharão como aconteceu agora; mas tu estarás há longo tempo com teus pais, adormecido após uma segunda vida, seguro no Nome do Senhor através do qual eu obro. Chamas inocentes as mulheres que voluntariamente vieram, envoltas na insolência de um suposto poder e invencibilidade, para assassinar meu povo? Inocentes! Elas que vieram testemunhar a rapina de minhas cidades e se deleitar com os sofrimentos de meus súditos? Inocentes! Não, não é assim! Portanto, ficarás retido aqui com tuas mulheres e moças. Atenta! Eu disse que não sairás daqui; as mulheres ficarão retidas por algum tempo, mas tu jamais sairás destas terras. Irás para uma prisão que não tem grades nem paredes; contudo, não há esperança de que tu possas fugir dela.”
    “Queres dizer que vamos todos morrer, Zo Rai?” – perguntou meu pai com voz baixa e triste. “Não será assim. Zo Astika, pensas que posso condenar o assassínio e eu mesmo cometê-lo desnecessariamente? Não. Eu disse que não podes sair de Suern e que isso não será possível no futuro, apesar de que não estarás impedido por grades, nem vigiado por qualquer homem.” “Foi uma coisa trágica assistir à despedida entre os que tinham de ir e os que deviam ficar. Mas afinal, assim são as sinas da guerra e os fracos devem obedecer aos fortes. Eu havia me rejubilado com nosso imaginado , mas falso poderio e não me importava quem havia sido derrotado. Poder, ah, o poder! Penso que senti uma sombria satisfação em te contemplar,
    Poder, meu ídolo, causando uma destruição tão rápida!” A princesa disse as últimas palavras pensativamente, aparentemente alheia ao ambiente, sentada com as mãos apertadas, com a admiração estampada no belo rosto, os olhos distantes, mas tão cruel afinal de contas! De porte real, personalidade dominadora, bela, maravilhosamente bela – diria o mundo de hoje como o de então. Ela tinha a aparência espantosamente parecida com a das  mulheres americanas louras de hoje. Só que estas com certeza, não são como ela que se inclinava sempre para o poder triunfante, como as leoas. A verdadeira mulher americana (n.t. o livro foi escrito no final do século XIX), compassiva, autêntica, graciosa como um pássaro, doce como uma rosa recém «desabrochada, é como Lolix nesses traços, cessando aí qualquer paralelo, pois essa mulher de hoje se apega ao pai, ao irmão, ao amado, chova ou faça Sol, no triunfo e na derrota, fiel até a morte.
    Tais mulheres sempre recebem sua recompensa. Houve um dia em que Lolix foi alterada para se tornar como as modernas jovens de hoje, mas isso foi anos depois. Existem alguns tipos de rosa que parecem cheias de espinhos enquanto estão em botão, mas que maravilhas de beleza são elas quando finalmente abrem o coração para o Sol e para o orvalho! Ao que parece, o Príncipe Menax ainda não tinha ouvido Lolix lalar tanto tempo, tendo esperado aquela ocasião, para que eu também pudesse ouvi-la. Conseqüentemente, foi uma revelação para ele ouvir de alguém tão bela e doce demonstrar uma natureza tão sem coração com seu relato, que tinha sido também uma reintrospecção meditativa para ela.
    Após alguns momentos, Menax disse: “Astiku, contaste que sua Majestade de Suern não agiu contigo e tuas companheiras conforme tinhas antecipado, pois era o costume nacional de teu povo usar as prisioneiras mulheres para satisfazer o desejo lúbrico dos homens e suas paixões mais grosseiras.” “Astika Menax, não me julgarás desrespeitosa se te chamar amigo daqui por diante? Confesso que fiquei muito surpresa quando o Rai Ernon não agiu dessa forma. Eu não teria reclamado, pois assim são as vicissitudes da guerra. Mas ele, em vez disso, declarou que nem ele nem o povo de Suern precisavam de nós e mandou-nos para uma terra estrangeira, Atlântida. Será essa a nossa sorte aqui?”
    “Não! De forma alguma!” – replicou Menax, os lábios se apertando de desgosto diante dessa crua insinuação. “Aqui tereis o apoio do governo até que cidadãos de Poseid escolham algumas de vós como esposas, se assim desejarem. Nosso povo às vezes revela preferências bem estranhas!” “És sarcástico, Astika!” A não ser por um leve erguer de sobrancelhas, ele não se dignou responder a essa observação; mesmo esse gesto foi tão discreto que eu não o teria percebido se não estivesse perto, olhando para o seu rosto. Depois de um silêncio um tanto prolongado, Menax disse que elas estavam proibidas para sempre de voltar para Sald porque. . . “Não é mais o meu lar!” – interrompeu apressadamente a mulher. “Mas é a terra de teu nascimento!” – disse Menax com certa aspereza, para voltar a ficar calado.
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    Lolix se levantou e, entrelaçando as mãos, exclamou com veemência : “Não desejo rever minha terra natal, nunca mais! Daqui por diante escolho lançar minha sorte em Poseid – e chamá-la meu lar!” “Como quiseres” -disse Menax. “Sem dúvida és uma mulher muito estranha. Por amor ao poder abandonaste teus deuses, teu lar e tua pátria. E as outras, tuas amigas cativas – não, espera! Talvez não sejam tuas amigas, uma vez que caíram em desgraça! Elas se esqueceram de seu país como tu?” Inclinando a encantadora cabeça, a princesa fixou os seus gloriosos olhos azuis no rosto do seu crítico. Duas lágrimas caíram de suas espessas pestanas, seus lábios tremeram e ela juntou as pequeninas mãos enquanto dizia: “Ah, Astika, és cruel!” – voltando-se e andando em pranto para o lugar onde eu a vira ao entrar.
    Dessa forma, o botão de rosa não desabrochado foi confundido com a flor do espinheiro. Quanto a mim, uma estranha mistura de sentimentos tomou conta de mim, uma mistura de dúvida e aprovação. Tentei saber que tipo de natureza era aquela que podia ser tão desapiedada e ler tanta sede de poder a ponto de romper todo laço natural para ir atrás dele e, ao mesmo tempo, ser tão essencialmente feminina a ponto de se magoar tão profundamente diante da expressão de uma reprovação natural de sua conduta. Tive pena dela por ser tão ingênua e tão sinceramente honesta em sua falta de espírito, contando tão simplesmente sua história mais recente, obviamente esperando aprovação e ficando tão magoada pelo efeito contrário que havia obtido.
    Finalmente a aprovação dividiu minhas emoções, porque o príncipe tinha feito uma censura bem merecida que, embora tivesse doído, não podia deixar de ter um efeito salutar. Minhas reflexões foram interrompidas nesse ponto por Menax, que disse: “Zailm, vamos ao Xanatithlon (construção própria para flores) onde tudo é silencioso e bonito entre as flores. Estaremos a sós lá. Eu poderia dispensar as pessoas do palácio, mas prefiro não perturbar mais essa jovem saldéia.”


    CAPITULO 12 - UM ACONTECIMENTO INESPERADO
    O inesperado acontece. O Príncipe Menax revela sua afeição por Zailm e pede que ele se torne seu filho.
    Alguns passos nos fizeram alcançar a grande estufa ou Xanatithlon, onde cresciam todas as espécies de flores. Em seu centro havia uma fonte cujos graciosos jatos de água se erguiam até o cume do grande domo e, durante o dia, cintilavam à luz do Sol que se filtrava por milhares de vitrais coloridos. Mas naquele momento, em que o ruído monótono da chuva se misturava ao doce murmúrio da fonte, aquele monumento à beleza brilhava sob os raios de numerosas fontes elétricas que imitavam o Deus do Dia.
    Misturadas às miríades de flores naturais havia centenas de outras, esculpidas em vidro com tanta perfeição que só pelo toque seria possível dizer quais eram produzidas pela Flora e quais pelo artista. Esses dispositivos de iluminação estavam em harmonia com as flores naturais dos arbustos, árvores e trepadeiras onde estavam colocados. Eram em pequeno número nos arbustos, mais numerosos nas árvores, havendo grande quantidade deles nas trepadeiras que cobriam arcos e pilares ou pendiam do alto, iluminando aquele paraíso floral com um brilho suave e constante, extremamente agradável.
    Nesse deleitoso ambiente nos sentamos no que, à primeira vista, parecia ser um conjunto de pedras cobertas de musgo, contendo convidativas depressões, mas que na realidade eram confortáveis assentos. O musgo tinha sido fabricado pelos bichos-da-seda. . . “Senta-te aqui perto de mim, filho” – disse o benigno príncipe, indicando uma depressão ao lado da que ele havia escolhido para sentar. “Zailm” – começou ele -“nem sei por que te chamei aqui esta noite, por que não esperei para fazê-lo mais tarde. Mas ao mesmo tempo eu sei, pois tinha uma missão a ser confiada a uma pessoa apropriada. Embora existam outros com mais experiência, decidi confiá-la a ti. Já sabes do que se trata”.
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    Para mim estava claro que não fora essa a razão que levara o Astika a me escolher e que ele não tinha me convidado para visitar o conservatório por causa disso. O príncipe ficou em silêncio por algum tempo e depois me perguntou: “Já te contaram que minha esposa me deu um filho e que ambos foram arrebatados pela morte? Aí, tive um filho e uma filha. Incal seja louvado, ainda tenho uma filha! Mas meu filho, o orgulho de minha vida, foi para o Navazzamin, o destino de todos os mortais. Meu filho, ah, meu filho!” 
    Quando sua emoção arrefeceu um pouco, ele continuou: “Zailm, quando te vi, durante tua primeira conversa com o Rai faz quatro anos, se não me engano, fiquei espantado com a semelhança que tens com meu filho perdido, e te amei. Muitas vezes fui ao Xioquithlon para te observar em tuas atividades de estudante. Todas as vezes que foste convocado a vir a este astikithlon foi porque eu queria te ver! Sim, olhar  para ti, menino!” -murmurou ele, afagando meus cabelos por alguns momentos. “Poucos foram os dias em que não te vi, pessoalmente ou através do naim; sim, muitas vezes saí à noite e fiquei parado diante de tua janela para alegrar meu coração com o som de tua voz, quando lias para tua mãe.
    Tenho te observado e me orgulhado de ti, Zailm, pois em tudo pareces ser um filho meu; teus triunfos nos estudos têm alegrado meus dias, como também a capacidade com que tens cumprido teus serviços governamentais, pois ages como meu filho agia! Por tudo isso, meu rapaz, vem viver aqui, pois quero ver-te ao meu lado nestes meus anos de velhice. Juntos navegaremos pelo rio da vida, tu e eu! Provavelmente serei o primeiro a cruzar o grande oceano da eternidade e ficarei esperando por ti na terra dos sonhos onde não há despedidas, dor ou tristeza. Vem, Zailm, vem!”
    A esse terno apelo, respondi da seguinte forma: “Menax, nestes anos em que vivi em Caiphul, muitas vezes me perguntei o que significavam os favores que me concedias. Sempre foste mais bondoso comigo que com qualquer outro, contudo permanecias reservado e distante, mais que outros que certamente não se importariam com o que pudesse me acontecer. Agora tudo ficou claro. Tenho te considerado com afeto e reverência, valorizando tuas atenções e agindo de acordo com as palavras de aconselhamento que me dirigiste algumas vezes. Sim, Menax, iremos juntos, de braços dados, caminhar para a sombria terra das almas, e tu me aguardarás ou eu esperarei por ti, conforme qual de nós a Grande Ceifadora decida levar primeiro.”
    Ficamos de pé e nos abraçamos com ternura. Quando nos separamos, vi a filha única do príncipe, rodeada de trepadeiras que emolduravam sua encantadora figura. Ao vê-la, lembrei de outra jovem, a Saldu cuja história tinha ouvido pouco antes. Quase da mesma idade, ambas um ano mais novas do que eu, mas muito diferentes entre si como tipos de beleza. É difícil descrever uma pessoa em quem focalizamos o interesse mais profundo do nosso coração; e quanto maior esse sentimento, mais difícil é pintar o seu retrato com palavras. Pelo menos, assim era para mim. Já te informei, leitor, a respeito da aparência da jovem provinciana da terra distante de Sald, com seus cabelos castanhos dourados, seus olhos azuis e seu porte elegante; podes imaginar quanto era delicada sua pele clara; sensível e atenta sua natureza, que a despeit0 disso era muito cruel.
    Mas como posso descrever aquela que eu amava, com quem um encontro por acaso, mesmo de longe, representava grande parte do prazer que me dava ir ao palácio de Menax? Aquela por quem eu tinha me apaixonado e que eu tinha entronizado em meu coração quase que desde meus primeiros dias de residência em Caiphul – como posso descrever seus encantos? A Princesa Lolix estava no limiar de sua condição de mulher feita, a linda Princesa Anzimee também. Esguia, delicada, feminina, derradeira flor de uma antiga linhagem de nobres ancestrais, ela estava acima de mim nos estudos do Xioquithlon, embora fosse mais nova que eu. Eu a amava, mas escondia cuidadosamente este fato. Todos os meus amigos que leiam estas palavras saberão como eu me sinto quando declaro minha hesitação em descrever Anzimee, pedindo a cada um que coloque nesta moldura poseidana a imagem de sua própria amada.
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    “Cada coração lembrou um diferente nome, Mas todos cantaram a mesma melodia.” O Príncipe Menax viu a filha quase no mesmo instante que eu e um ar de surpresa espalhou-se por seu rosto, pois supunha que o Xanatithlon estivesse deserto. Ao perceber sua expressão, a Rainu adiantou-se, beijou-o e disse: “Meu pai, estou atrapalhando? Ouvi quando tu e. . . este jovem entraram, mas como não sabia que desejavas estar em privacidade, continuei minha leitura.” “Minha querida, não precisas te desculpar. Na verdade estou feliz por estares aqui. Posso saber o que estavas lendo? Não deves estudar demais e creio que foi isto que quiseste dizer com a palavra “leitura”.”
    Com um sorriso a passear por seu rosto e a iluminar seus olhos azul cinza, ela replicou: “Darias um ótimo leitor de pensamentos ocultos! Eu estava mesmo estudando, mas o meu objetivo justifica isso. Quem adquirir um profundo conhecimento da ciência médica terá condições de aliviar até pessoas que estão à mercê da mais dolorosa agonia, e curar as menos gravemente enfermas. Não é esse um serviço a Incal e Seus filhos? E não é verdade que o bem feito a qualquer um deles é feito também a Incal?” Duas jovens -Lolix de Sald e Anzimee de Poseid! Um vasto continente separava os dois países e uma distância ainda maior separava essas duas filhas dessas diferentes terras. Lolix, sem compaixão pelos sofredores, sem tristeza pelos agonizantes; Anzimee, no pólo oposto desses traços de caráter.
    Houve um longo silêncio, enquanto Menax olhava para a graciosa menina de coração tão nobre. Então, pegando minha mão com sua mão direita e a de Anzimee com a esquerda, uniu-as e disse: “Filha minha, dou-te um irmão, este que julgo digno. Zailm, dou-te uma irmã mais preciosa que os rubis! E a ti, Incal, meu Deus, a melodia do louvor que enche meu peito pelas bênçãos que me concedes!” Nesse ponto ele soltou as mãos que tinham se tocado pela primeira vez e levantou as suas para o alto. Como o toque daquela mãozinha me emocionou! Seria eu digno de tanto amor?
    Nenhum pecado tinha até então manchado minha boa fama e naquele momento eu me sentia totalmente merecedor de tudo. Se algum pecado viria manchar o livro de minha vida, isso ainda não havia acontecido; mas pensei com inquietação na estranha profecia ouvida naquela noite já distante. Por um momento essa sensação tomou conta de mim e depois desapareceu. Eu tinha o hábito de analisar os homens e suas motivações. Era uma espécie de segunda natureza considerar os possíveis aspectos de uma questão. Mesmo naquele instante eu me perguntei qual seria o significado daquela nova experiência.
    Eu sabia que por Menax, que tão afetuosamente me havia pedido para ser seu filho, eu tinha o mais profundo respeito e afeição. Minha vida não me pareceria um preço alto demais para pagar se com isso eu pudesse beneficiá-lo. Contudo eu amava a vida. Nada havia de mórbido em minha natureza, a menos que a excessiva amizade que tinha por meus amigos fosse sinal de morbidez. Meditei por algum tempo no que minha adoção significava do ponto de vista social e político. Não preciso explicar que vinha ao encontro de minhas ambições ser colocado em um lugar tão elevado como o que dali por diante ocuparia como filho legal de um alto conselheiro, irmão do Rai por afinidade.
    Enquanto decorria aquela cena, eu reservava para mais tarde, como uma sensação especial, o prazer de analisar que tipo de amor eu sentia pela jovem que se tornara minha irmã, é verdade que por adoção apenas, mas que, favorita dos círculos mais fechados, adorada pelo povo de Caiphul, apareceria diante do mundo como minha irmã, a partir do momento em que o Rai Gwauxln aprovasse oficialmente a decisão de seu irmão. Deveria eu sentir prazer ou aflição? Olhei para aquela com quem eu sonhara casar se Incal em sua bondade me permitisse chegar a uma elevada posição. Poderia eu ter esperança de realizar meu sonho depois daquela inesperada virada da fortuna? Se eu tivesse conquistado uma exaltada posição por outros meios, poderia ter a esperança de obter a mão de Anzimee em casamento.
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    Mas agora! Minha grande sorte me pareceu como a maçã de Sodoma, provocando um travo amargo em minha boca, pois eu me tornaria legalmente seu irmão, mesmo que não o fosse por laços de sangue. Havia uma chance de que as coisas não fossem tão sombrias quanto pareciam, já que tais adoções eram freqüentes e não representavam um obstáculo ao casamento. Com esse pensamento o Sol saiu de trás das nuvens e voltou a brilhar em meu céu pessoal. A característica mais marcante da aparência da jovem era a simplicidade de seu vestuário. Naquela noite, seus gloriosos cabelos castanhos estavam presos atrás com uma simples fivela de ouro e caíam soltos pelas costas.
    Uma longa veste de tecido macio vestia sua esguia forma de menina-moça. Nenhuma roupa poderia ser mais artisticamente simples nem mais elegante que aquele pedaço de pano diáfano e sem cor definida, de um tom azul tão claro que parecia branco-pérola. O vestido tinha alças de puro carmim, indicando a realeza de quem o vestia. Um broche de ouro, onde brilhavam grandes rubis agrupados em volta de um centro de pérolas e esmeraldas, drapeava o vestido no decote, e o conjunto dessas gemas realçava a cor das faces de Anzimee, fazendo seu rosto parecer uma encantadora rosa.
    Tão rica quanto discreta, sua roupa não escondia a doce e digna beleza da jovem. As pérolas, emblema de sua classe como Xioqeni; as esmeraldas, a marca de quem ainda não tinha voz política; os rubis, pedras da realeza, usadas exclusivamente pelo Rai e seus parentes mais próximos. A irmã do próprio Rai Gwauxln era a mãe de Anzimee e esposa de Menax.
    Poseid (Atlântida) fundamentava sua glória na superioridade de sua educação; uma riqueza que não escolhia sexo. Mas se a Atlântida devia tudo ao conhecimento, não era menos verdade que a capacidade de seu povo não seria o que era não fosse pelas esposas, irmãs e filhas e, em especial, pelas mães de nossa altiva terra. Nosso grandioso sistema social tinha sua base nos esforços dos filhos e filhas que por séculos tinham respeitado as lições que lhes tinham sido inculcadas por suas patrióticas, amorosas e leais mães. As homenagens feitas ao Criador só eram secundadas pela reverência que os poseidanos tinham pela mulher.
    Amávamos nossos governantes, o Rai e os Astiki (príncipes); tínhamos por eles o maior respeito já votado a chefes de estado, mas honrávamos ainda mais nossas mulheres, tanto que Rais e príncipes, soberanos e súditos, orgulhavam-se em reconhecer a sagrada influência que tornava nossa terra gloriosa um grande lar. América, hoje és amada por mim como Poseid o era. Primeira entre as nações, só o és por causa da mulher e de Cristo.
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    Continuarás poderosa por causa dela e eclipsarás o mundo quando chegar o feliz dia cármico em que a mulher não estará abaixo, nem acima, mas ao lado do homem, sobre a rocha da educação cristã esotérica, no granito do conhecimento e da fé que resiste aos ventos e tormentos da ignorância. Construída sobre essas fundações, a Casa Nacional não cairá, mas se for construída em outras bases, grande será sua queda.
    Eis a sabedoria: no homem e na mulher estão miríades de serpentes. Guardai-vos delas. Hoje sois escravos (dos sentidos). Sejais senhores de SI MESMOS! Mas, triste verdade, esse Caminho é muito estreito e poucos o encontrarão.

    CAPÍTULO 13: A LINGUAGEM DA ALMA
    “Zailm, meu filho, ouviste a narrativa da Saldu, Lolix. Como sabes, é por causa de coisas oriundas das ocorrências que ela relatou que vais em missão a Suern (Bharata, Arya Vata, hoje a ÍNDIA). Não é uma tarefa difícil, constando apenas de confirmar o recebimento dos presentes enviados e negar nossa intenção de manter como prisioneiras as pessoas que o Rai Ernon para cá enviou. Dar-lhes-emos asilo, mas Rai Ernon não deve pensar que permitimos sua presença aqui para fazer-lhe um favor. Além disso, Rai Gwauxln deseja que vás a Agacoe amanhã para falar sobre um outro assunto. Mas não queres passar a noite aqui?”
    “Meu pai, teria prazer em ficar, mas não achas que é meu dever estar com minha mãe para tranqüilizá-la? Ela sofre de uma enfermidade nervosa que não lhe permite suportar bem minha ausência à noite.” “Tens razão, Zailm. Logo mandarei providenciar para que tua mãe seja acomodada em uma parte bem agradável deste astikithlon, e assim poderás passar as noites sob o teto de teu pai.” Despedi-me do príncipe e da doce menina que tinha permanecido em nossa companhia uma parte do tempo, e saí.
    A chuva tinha cessado e as nuvens, movendo-se pelo céu, negras e ameaçadoras, só mostravam uma abertura na grande massa sombria. Ali brilhava uma única estrela que às vezes mostrava-se avermelhada. Olhei para ela, que estava próxima do horizonte, parecendo ter surgido naquele preciso instante das águas fosforescentes do oceano, podendo ser vista do palácio de Menax.
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    Constelação do Cão Maior (Canis Major) e a estrela SÍRIUS a mais brilhante dos céus da Terra, e a segunda MAIS próxima de nosso sistema solar, distante cerca de 8, 45 anos luz.
    Pensei no passado, pois aquela mesma estrela havia brilhado vivamente enquanto eu esperava o nascer do Sol no Pitach Rhok. Pareciam ter passado tantos anos desde aquela manhã! Hoje essa estrela é chamada de “Sirius”(da Constelação do Cão Maior, a mais brilhante do céu da Terra), mas nós a conhecíamos pelo nome “Coristos”. Enquanto a fitava, senti que era um auspicioso augúrio de sucesso presente e futuro, como o fora no passado.  Levantando os braços para ela, murmurei. “Phyris, Phyrisooa Pertos!”, que significa: “Estrela, ó estrela de minha vida!”
    Parece um tanto singular que a linguagem que traduzi dessa forma tenha tonalidade e importância semelhantes à da linguagem usada hoje pelo povo de meu planeta (Sol) natal (Sírius). Naquele longínquo dia elevei as mãos para o alto e exclamei: “Estrela, ó estrela de minha vida!” Hoje contento-me um pouco para não precipitar minha história em palavras astrais; volto-me para meu Alter Ego e digo: “Phyris, Phyrisa”. É este seu nome amado e significa “Estrela de minha alma”. Não é peculiar que mais de doze mil anos tenham se passado e eu, membro de outra raça de seres humanos, agora em outra mansão (a Terra), veja tão pouca mudança na linguagem da alma humana?
    Continua no XIV Capítulo…

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